Capítulo 26 - Uma volta amigável

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- Claro Camila, pode entrar. Ela está em seu quarto. - Disse Amara com um sorriso falsamente acolhedor no rosto

Mal sabe ela o que estou prestes a fazer. Ao adentrar na residência, deparo-me com um ambiente que reflete fielmente o estilo clássico que caracteriza a casa. Os traços arquitetônicos remetem a uma época passada, reminiscente do século XVI, quando os antepassados da família chegaram do Reino Unido. A decoração e os móveis mantêm-se em consonância com as tradições familiares, pelo menos, às dessa realidade, a qual ela não faz parte.

Lembro que nessa parte da história, eu não sabia onde era o quarto de Cristina, então finjo procurar. Sinto a respiração tensa de Matheus ao meu lado enquanto subimos as escadas principais.

- Matheus, se recomponha. Se for para ficar assim, é melhor ir embora. - Digo sussurrando

- Me desculpe, é que a forma que eu utilizei para chegar até aqui... Bem, não sei quanto tempo posso aguentar.

Não quero nem imaginar o que ele fez para estar aqui comigo, mas sigo firme em minha missão.

- Dê uma olhada na casa, veja se o Arthur está. Depois me encontre aqui. Não quero entrar no quarto deles e ter uma surpresa. Ficarei esperando.

Matheus consente e sinto ele indo para longe. Fico parada no corredor esperando ele. Será que existe algum feitiço para eu olhar atrás da porta? A duvida fica no ar.

Enquanto continuo esperando, me surpreendo com Cristina saindo de uma das portas do extenso corredor. Ela me olha um pouco confusa, mas parece feliz em me ver. Meu coração acelera de felicidade ao vê-la de novo. Ela esteve bem, pelo menos aqui no passado.

- Oi Cami, está tudo bem?

Corro para abraçá-la, tentando conter as lágrimas, sem sucesso.

- Por que você está chorando? - Pergunta ela preocupada.

- Só estou incrivelmente feliz em te ver. Vim para saber como estão as coisas, se foi tudo bem na mudança. - Tento mudar o rumo do assunto.

- Sim, até agora ocorreu tudo bem. Quero dizer, meu pai só teve um problema com a transferência de emprego, então ele foi até a empresa resolver.

Respiro aliviada, eu poderia entrar sem preocupações no quarto do casal e achar o pingente.

- Que tal nós irmos dar uma volta pela cidade? Conhecer os pontos turísticos e tudo mais? - Sugiro a Cristina

- É uma ótima ideia! -Diz Cristina animada

- Só preciso usar o banheiro, onde fica? -Uso como desculpa

- Ah, é no final do corredor à direita. Ficarei te esperando na sala, tudo bem?

- Claro, vou rapidinho.

O corredor é extenso, e me aproximo do final, observando a ausência de Cristina. Ao abrir várias portas em busca do quarto de Amara, me deparo com uma porta dupla de madeira fina e maçanetas douradas no centro do corredor. Ao atravessá-las, vejo um cômodo espaçoso, destacado por uma varanda vitoriana e uma cama majestosa.

A cama, adornada com um estofado na parede coberto de pérolas brilhantes, chama minha atenção. O jogo de cama, feito de um tecido extremamente macio, acrescenta um toque de luxo ao ambiente. Apesar dos encantos do quarto, mantenho o foco na busca pelo amuleto.

Explorando mais, encontro um closet, um cômodo grande e óbvio para procurar. Roupas de marcas internacionais renomadas e joias valiosas preenchem o espaço. Ao abrir gavetas, deparo-me com pingentes de diamantes e cristais, mas nenhum deles é o amuleto que busco. A tensão aumenta enquanto continuo minha busca no elegante e deslumbrante quarto de Amara.

Ouço um barulho e me escondo entre alguns vestidos. Ela não casou com Arthur somente pelo amor, ela também queria sua fortuna. Ouço alguém me chamar, e reconheço a voz do Matheus.

- Estou aqui, dentro do closet.

Ele entra e fecha a porta do cômodo. Não está mais invisível. E uma parte de sua mão também está sumindo.

- Matheus o que está acontecendo?

- Eu fiz uma projeção astral com a magia que me sobrava, mas acho que meu tempo está acabando.

- Eu não achei o pingente Matheus.

- É claro que não achou, ele está...

Eu tapo a boca dele com a mão assim que ouço barulho de passos.

- Tem alguma coisa estranha acontecendo aqui. - Diz Amara pensando alto.

Empurro o Matheus para dentro do vestuário que eu estava escondida.

Ouço Amara se aproximar do closet e abrir a porta. Eu e Matheus estamos a centímetros de distância. Mas dessa vez, ele que tapa minha boca com a mão quando eu levo um susto ao ver seu braço desaparecendo.

A senhora Evans da apenas uma olhada superficial no closet, suspeitando que alguém estava ali, mas logo sai. Posso então respirar aliviada, mas não tão aliviada assim, vendo Onight sumindo bem na minha frente.

- O pingente está no pescoço dela White, não temos como pegar. E eu estou quase voltando, não temos tempo.

- Então eu vou arrancar o pingente daquela louca.

Saio do armário junto de Matheus e dou de cara com Amara.

- O que você está fazendo no meu quarto Camila, e quem é esse?! - Disse ela sinicamente

Não digo nada, apenas parto pra cima dela e arranco o pingente de seu pescoço. E então quase como um sonho, tudo ao nosso redor começa a desaparecer e ela começa a gritar.

- Você não tem noção do que fez Camila!

Tudo ao meu redor desvanecia no ar, a casa, outrora tão majestosa, agora se dissipava. Matheus e Amara haviam desaparecido, enquanto a voz de Cristina ecoava ao longe, questionando o que se passava. Eu, em sintonia com o desaparecimento de tudo, sentia-me evaporar também. Com olhos assustados, cerrei as pálpebras.

Arrasto-me, como se afundasse em um mar de memórias. Vejo minhas vidas passadas passarem pelos meus olhos como uma espécie de espectro. Um esboço embaçado de todas as vezes que meu coração se entregou à paixão, pelo Bryan, pelo Matheus, às vezes que tive romances épicos. Cada cena é um vislumbre de promessas que se desfizeram como fumaça entre os dedos trêmulos do tempo.

Testemunho, com um aperto no peito, os momentos em que conquistei a coroa de Amara, apenas para vê-la despedaçar-se, levando consigo as ilusões que outrora me envolviam.

Tudo o que um dia tentei, por várias e várias vezes, dissipa-se, deixando-me presa em um terrível ciclo que me conduz de volta ao início da trágica narrativa da minha vida.
A  tristeza é uma névoa densa que paira no ar, enquanto revivo cada capítulo de desilusões e perdas.

Nesse túnel, o suspiro do passado é um eco triste, um lamento sutil que ressoa como uma canção quebrada. Cada lembrança é um nó na garganta, uma lágrima contida prestes a se libertar.

Abro os olhos, e de repente, estou imersa novamente nos domínios sombrios de Skyfall. A ausência de Matheus cria um vácuo no cenário. Pego o amuleto de borboleta, o jogo no chão e piso com força. Toda a magia negra que a bruxa usada foi quebrada naquele momento, e as mulheres que foram escravizadas pelo seu poder maligno começaram a aparecer.

A névoa, antes assombrosa e devoradora, passa a desaparecer, revelando os contornos da terra antes envolta na escuridão. Cada recuo da névoa é como um suspiro de alívio, mas a tensão persiste no ar.

Amara, impotente, surge à minha frente, e no seu olhar, percebe que esta vez não haverá escape. Minha respiração se mistura com a ansiedade do ambiente, enquanto me preparo para o confronto iminente, ciente de que esta batalha será a última.

As asas do tempoWhere stories live. Discover now