Capítulo 23 - Amara

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''Eu me lembro de anos atrás, alguém me disse que eu deveria ter cuidado quando se trata de amor, eu tive. E você foi forte e eu não. Minha ilusão, meu erro. Eu fui descuidado, eu esqueci.'' - James Arthur.

Aos poucos volto ao mundo real, e é como se eu sentisse toda a dor que foi causada em Samantha. A dor de um rei, e a dor de um coração partido. Amara só fez isso por que queria poder, e se isso que ela queria é isso que irei dar a ela.

- Precisamos ir, agora! - Falei, tentando passar o máximo de confiança às bruxas.

Não muito tempo depois, chegamos à floresta que dá em direção ao palácio.

- Minha pequena, você tem certeza que está pronta para fazer isso? - Questionou Caterina.

- Eu tenho que estar.

Elas já sabem, que a partir de agora devo seguir sozinha, esse é o meu destino. Só há uma coisa que posso fazer agora, pegar a chama do fogo de Rebecca e juntá-la novamente aos outros elementos. Sinto que ela está me esperando, sigo em frente. Conforme me aproximo do castelo, vejo todos que me amam ao meu lado. Tudo está nas minhas mãos. Percebo um toque suave em meu ombro, e palavras que me dizem que eu irei conseguir. Regina. Se eu consegui a trazer de volta, o restante não será tão difícil. Alguém me abraça por trás e sussurra calmamente em meu ouvido.

- Independente de tudo, eu amo você Princesa White.

- Onight... - Digo, tentando conter às lágrimas.

Isso doeu mais do que tudo, e parece ser mais difícil ouvir isso dele do que acabar com uma maldição de uma bruxa poderosa. Tem vezes, que o amor consegue ser mais difícil de lidar do que salvar a própria vida. Dou mais um passo, e estou cara a cara com o momento em que eu mais temia.

- Parabéns Camila, você é melhor nisso do que eu esperava. - Disse Rebecca.

- Do que você está falando?

- Eu sempre estarei um passo a frente, borboletinha.

- Espera, do que você me chamou? - Digo, confusa.

''É tudo mentira, é tudo mentira''. Ouço algo sussurrar em meu ouvido.

- Venha, pegue o que você veio pegar.

Faço das suas palavras uma ordem. Crio uma barreira de fogo nos fazendo flutuar, que circula violentamente entre nós, tento me aproximar dela. Vejo algo queimar no lado esquerdo de seu peito, e em um movimento ágil atravesso minha mão por ela, tentando resgatar a chama. Mas quando a puxo de volta, algo estranho acontece. A barreira se desfaz e caio brutalmente no chão, batendo a cabeça na terra. ''É tudo mentira, é tudo mentira''. A voz fica cada vez mais gritante em minha mente.

Tento novamente chegar perto de Rebecca, atravessando minha mão pelo seu corpo, mas de novo sem sucesso, sou jogada ao chão como poeira. Até que ouço uma risada sombria sair de sua boca.

- Acho que você se enganou, borboletinha.

A mulher que eu pensei ser Rebecca, se transforma em uma mulher de cabelos negros, com olhos obscuros. Branca como papel, às veias do seu corpo são quase completamente visíveis quando o Sol reflete em sua pele. Essa é a mãe da Cristina.

- Daisy?

- Acho que você já sabe meu verdadeiro nome, Camila.

- Amara!

Está tudo errado. Onde Rebecca está? Como irei recuperar a chama?

- Era só mais isso de que eu precisava. - Disse Amara.

- Do que? - Perguntei assustada.

- De você.

Ela estende um amuleto em formato de borboleta azul em minha direção, me atraindo à ela. Atrás de mim, vejo às bruxas da ordem também sendo atraídas. Agora eu entendo, era tudo um plano, ela irá roubar nossos poderes, já que ela não nasceu tão forte. Mas onde está Rebecca? Onde está a chama? O pânico toma conta de mim, está tudo acabado e a culpa é minha. Eu não sei o que vem depois, apenas vejo a escuridão, e estou sozinha. Como eu saberia? Como eu poderia saber que era ela? Eu sou tão jovem, eu perdi tudo. Ainda posso ouvir o caos que se formou após a derrota. Ouço gritos, sinto às lágrimas dos meus amigos, sinto a dor da minha mãe e o que mais me dói, sinto o coração de Mateus se despedaçar assim que eu me fui.

O reino virou uma perdição, e qualquer um que chegasse com esperança, deveria abandoná-la na porta. Todo esse tempo, passei me afogando na minha própria tristeza. Estou presa em mim, e em pensamentos que me dizem a todo momento coisas que podiam ser diferentes. Eu podia ter feito diferente.

Onde estão todos? É a pergunta que me faço nos primeiros dias.

Existe forma de sair daqui? É a pergunta que faço após se passar alguns meses.

Anos, passaram-se anos? É o fim, tudo acabou. Em um ponto desses começo desejar a morte, mas penso que já não estou em uma dança sem fim com ela.

Em completa escuridão, lembro-me do que Bryan me disse uma vez. Apenas eu poderia resolver tudo isso, e passo a refletir. Talvez a chama não estivesse em Rebecca. Deixo meus pensamentos me levarem em uma viajem sem volta e sem vida. Mas vejo algo. Um brilho azul rodeando minha escuridão. Um brilho que tem asas. Uma borboleta azul. Ela começa a me rodear, mas ainda não entendo, como ela chegou aqui?

A cada duvida que surge em minha mente, seu brilho vai ficando mais fraco.

- Eu não posso perder a única chance que tenho em sair daqui, por favor!

Meus olhos gradativamente se enchem de lágrimas.

-Talvez eu seja a resposta.

O brilho dela aumenta um pouco a força.

-Eu nasci de uma gravidez impossível.

Outras borboletas surgem, e começam a sobrevoar o espaço escuro e vazio.

- Eu fui escolhida.

O brilho dos insetos ficam cada vez mais forte.

- Eu sou o quarto elemento?

Suas asas param de bater lentamente.

- Eu sou a princesa White, o quarto elemento.

Mais borboletas surgem a meu redor.

- Eu sou a chama.

Às borboletas tomam conta do lugar, e seu brilho estoura. De dentro de mim, sai uma chama azul com tanta força que quebra o muro de escuridão em que fui mantida prisioneira por tanto tempo. Tempo. O tempo muda conforme às borboletas batem suas asas. As asas do tempo.

Começo a imaginar o momento em que tudo deu errado, o momento em que eu errei. E começo a desejar com toda a força voltar, para consertar tudo, e finalmente por um fim nisso. '' Apenas mais um pouco de força'', ouço uma voz feminina me dizer. Meus pensamentos são apenas voltar. E repito para mim mesma até que se torne minha realidade.

- Eu quero v-voltar. - As palavras mal saem da minha boca, soluço de tanto chorar.

- Eu quero voltar. - Dessa vez consigo dizer com tanta força que uma onda de fogo atravessa todas às borboletas, que ainda assim continuam intactas.

Uma força diferente me atrai para cima, e consigo ver uma luz. Eu irei voltar, e dessa vez, irei preparada e mais forte.

As asas do tempoWhere stories live. Discover now