29. Lembranças frias

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Com a saída de Marcus, Carlos estava sozinho. Então, o garoto que sentado, apoiava sua cabeça sob os braços na mesa, decide caminhar pelo castelo, afinal, ninguém parecia estar disposto a sair de seus quartos. Ali no refeitório só era possível ver alguns alunos, mas eram poucos.

Andando pelos corredores, o garoto lembra de sua aventura após o primeiro dia do torneio e pensa: "de fato preciso saber o motivo de haver várias celas de prisão no subsolo do castelo, afinal, para que diabos servem celas senão para pôr alguém atrás? ".

Carlos estava empolgado. O garoto vai até uma porta com um cadeado gigante em sua fechadura e a empurra. Ele sabia que isso aconteceria por que foi a mesma coisa que John havia feito naquele dia, afinal, porta com cadeado gigante é praticamente um pedido para curiosos entrarem.

Ao entrar, o garoto pega uma tocha, acende com um fósforo que havia pego na cozinha, e ilumina o lugar. Ele desce a escada, chega na parede com tijolos em forma de espiral e diz as mesmas palavras que John havia dito. Carlos coça seu nariz e passa pela abertura, responde os enigmas e deixa para trás as duas estatuas de ouro.

Agora, observando todas aquelas celas vazias, Carlos vai adiante com seu plano. O garoto anda pelo corredor que dividia as celas em dois grupos, duas enormes filas de celas vazias.

—Será que devo continuar? —Carlos fala enquanto põe os dedos indicador e polegar em seu queixo, enquanto pensa —Claro que devo, por isso estou aqui, cara.

Carlos conversava sozinho de vez em quando, na maioria das vezes, isso ocorria, pois, o garoto estava com medo.

Seguindo em frente, o garoto percebe que quanto mais andava, mais areia e lama aparecia em seu caminho.

O garoto chega muito a frente daquele corredor de celas, até que vê que mais à frente as celas mudam completamente, pois a partir dali as celas deixam de ser metal, agora elas eram de um material transparente, quase que invisível, só era possível ver pois o garoto estava segurando uma tocha com fogo, e quanto mais se andava, mais as celas se cercavam de proteção, o espaço entre as grades aumentava.

Carlos segue andando, quando uma voz masculina dizia algo atrás do garoto.

—Vamos, se apresse! Estou morrendo de fome!

Carlos não respondia, apenas se vira, mas não consegue ver nada ali.

O garoto continua seu trajeto, agora com passos mais longos.

—Garoto, cuida! Ainda não trouxeram meu almoço, preciso comer se quiserem me ter vivo.

Carlos para novamente, procura o que estava produzindo a voz com sua tocha, mas novamente falha. Ele continua andando.

Mais à frente, praticamente dez minutos andando, Carlos nota uma figura masculina com o cabelo branco e grande sentada em uma cama de pedra. O garoto se aproxima e aquele homem estava cada vez mais perto.

—Agora Gaustal contrata adolescentes? —o homem perguntou.

—Não trabalho aqui, sou apenas um dos estudantes. —Carlos estava bem próximo agora.

—Uau! Se você é um estudante, como entrou aqui?

—Pela porta, obvio.

Carlos sentia um pouco de medo, mas logo o perdeu.

—Ao menos trouxe comida? —o homem perguntava tocando sua barriga.

—Me desculpe, não sabia que deveria ter trago.

Os dois estavam frente-a-frente, o homem usava roupas rasgadas, completamente gastas, seus pés estavam descalços e suas orelhas foram mutiladas.

—Não se assuste garoto, não mordo. —o homem sorria —Já que é um aluno e conseguiu ter acesso a prisão do castelo, posso me apresentar sem medo.

O garoto encara o homem, desvia o olhar para suas orelhas, que na verdade ele estava sem, e retorna a olhar nos olhos do homem. O homem continua:

—Meu nome é Benjamin, e eu sei, eu sei, você deve estar achando que devo ter feito algo de errado, não é? Mas na verdade sou inocente, mas seu diretor, o herdeiro de Gaustal, me jogou aqui nesse inferno!

Carlos não se importava com aquilo, ele só queria respostas.

—Me perdoe, mas poderia me dizer o porquê de existir várias celas se há somente um prisioneiro?

—Um prisioneiro? —O homem se aproxima ainda mais do garoto —Olhe ao redor, existe centenas, talvez milhares de celas. Acha mesmo que isso seria coincidência? Se andasse um pouco mais, poderia ouvir as vozes e choros dos meus amigos que também foram presos injustamente.

Carlos parecia interessado naquele homem, algo estava chamando sua atenção.

—Já que o senhor se apresentou, talvez eu também devesse, mas com uma condição. Responda só mais essa pergunta: porque não podemos saber que há prisioneiros na escola?

O homem se interessa pela curiosidade do garoto.

—Quer mesmo saber?

Carlos se aproxima um pouco mais da cela.

—Por favor, senhor.

—Ok. Mas prometa que nunca deve contar a ninguém, certo? —Benjamin falava com os dentes cerrados. —Muito bem. Muitos anos atrás, este território do mundo Fantasia, localizado dentro da área da Floresta Infinita, havia uma espécie de presidio para pessoas de mal caráter. Visto que era inconsequente deixar essas pessoas convivendo como pessoas de bem na sociedade, o Conselho Universal de Grandes Magos proibiu a estadia destes em lugares de "alegria e paz". Bom, muita gente foi a favor, mas muita gente foi contra. Na época, Gaustal, o primeiro, foi um dos que ficaram contra o grande Conselho de Magos. Gaustal, um mago de nível santo, era quase que invencível! Isso se ele não estivesse com tanto medo. —Benjamin continua sua história olhando fixamente nos olhos do garoto. —Com a popularidade da família real em jogo, Gaustal evitou que pessoas consideradas más não fossem vistos como seres humanos. Em alguns meses depois, ele desceu dos morros da realeza e foi até os pobres e fracos com resquícios de energia dos elementos.

—Então quer dizer que o homem da história da professora Siena Bombox, era realmente o primeiro Gaustal?

Benjamin apoia a cabeça em seu obro, como se estivesse desentendido das palavras do garoto.

—Siena? A sim, a professora. —Enquanto Benjamin falava, Carlos fica ainda mais animado. —É, se for a história de criação da divisão de Magia, Feitiço e Habilidade magica, sim, Gaustal é o nobre mencionado.

Carlos abre uma expressão ainda mais reveladora de sua empolgação. Benjamin continua:

—Assim, após ter escolhido ser expurgado da família real, Gaustal, o primeiro, decidiu que protegeria a todos. Até criou um castelo para esconder a vergonha dos erros universais, aqueles que foram acusados injustamente.

—Então, você estar preso aqui, seria esse mesmo motivo? —Carlos confiava plenamente nas palavras daquele homem.

—Sim, garoto. Preciso dizer mais alguma coisa? —Benjamin solta a grade e vai até sua cama novamente. —Gostei de falar com você, me sinto livre para contar histórias e ensinar. Se quiser retornar outros dias, fique à vontade! —Benjamin coça o nariz —Só não esqueça que Newmoon pode estar de olho em você, criança.

—Voltarei sim, —Carlos segura firmemente nas barras transparentes da cela —voltarei todos os dias! —Antes do garoto fazer outra coisa, ele finalmente se apresenta para o homem. —Meu nome é Carlos, senhor Benjamin.

Benjamin sorri e manda o garoto sair dali. Pede também que o garoto traga comida sempre que voltar. Carlos aceita os pedidos do homem e sai daquele lugar frio e solitário.

Na volta para o castelo, Carlos nota que já era noite, então decide que deveria ir para seu dormitório, antes que os outros daquele lugar percebam o que ele estava fazendo.

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