31. Dias após dias

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Duas semanas haviam se passado, os Feiticeiros G, juntos de Siena ainda não retornariam, pois, o poder de dois peões juntos no mesmo local, afetam drasticamente o tempo, ao nível de que nem mesmo um Grande Mago pudesse perceber a inacreditável quantidade de tempo que havia se passado. Agora, ainda durante a batalha no território Lama, o tempo passava normalmente para o restante do mundo.

Carlos ainda visitava o calabouço de Gaustal. Mesmo que secretamente, o garoto sempre levava com ele alguns quitute e bolinhos, para que desse a Benjamin.

Já dentro das prisões no calabouço, Carlos pede que o homem lhe contasse uma outra história. Uma que fosse empolgante e ao mesmo tempo apavorante. Benjamin, que todos os dias era surpreendido pelo poder de empolgação do garoto, nunca dispensava a oportunidade de se exibir, também.

—Quer que eu conte uma história das boas?

Carlos dessa vez havia levado um pequeno banquinho de madeira, onde podia se sentar enquanto ouvia as grandiosas histórias de Benjamin.

—Por favor, senhor. —Carlos se prepara para ouvir, apoiando a cabeça em suas mãos, que por vez estavam apoiadas pelos braços em suas coxas.

—A única história que ainda não contei é a que fez o motivo de eu estar aqui.

O garoto sente um desconforto nas palavras de Benjamin, e então diz:

—Ficaria honrado de ouvir sua história, senhor!

—Você está muito empolgado, Carlos. Deveria se acalmar de vez em quando.

—Nunca! —Carlos franze a testa ainda com a cabeça apoiada. —Por favor, senhor.

O homem se mostra de fato desconfortável em contar a história, mas o garoto insiste tanto que faz ele tomar uma atitude.

Benjamin arruma seu cabelo, e o amarra com um coque.

—Vá embora, garoto, aqui não é lugar para crianças visitarem.

O homem vai até sua cama, estica os braços para cima e deita.

—Por favor, senhor. Conte-me.

Benjamin coça seu braço esquerdo.

—Se eu falar, você deve ir embora daqui e nunca mais voltar, entendido?

—Se essa é a única condição, farei sim. —Carlos faz que sim com a cabeça e o homem continua.

—Primeiro irei contar o porquê de eu ter vindo parar aqui. —Ele senta em sua cama —A muitos anos atrás, eu e meus amigos cientistas, trabalhávamos para Newmoon, mas de vez em quando também tínhamos nossas "teorias da conspiração". Sempre nos perguntávamos: porque existe um limite no Mundo Fantasia? E eu te pergunto, meu jovem, você sabia que se for até certo ponto, você encontrara uma barreira que o impede de avançar? Saiba que existe, e é por isso que imaginávamos na probabilidade de existir outros mundos...

Carlos se assusta, o garoto achava que aquele homem poderia saber da existência de seu mundo e isso o deixa preocupado.

—Sim, jovem, nós poderíamos provar a existência de outro mundo. Não só poderíamos, como conseguimos! Após uma longa jornada de pesquisa discreta e longe do diretor, pois ele afirma que não existe outro lugar além deste que vivemos, e adivinha?! Ele está mentindo! Pois eu mesmo pude confirmar a existência desse outro mundo! Um mundo onde as pessoas conseguem ver estrelas em seus telescópios, não igual a nós que só podemos ver pequenas luzes coladas em uma tela azul. Lá, neste outro mundo, as pessoas estão com roupas em séculos a nossa frente, as pessoas conseguiram ir à lua! Sabe como isso tudo é incrível?!

Carlos estava prestes a chorar, pois as palavras daquele homem o trouxeram lembranças de casa.

Benjamin continua.

—Pude ver também, a incrível forma das pessoas se comunicarem. Lá eles não possuem magia, mas conseguem usar tecnologia a seu favor, tanto que conseguem conversar com pessoas de outros países, isso é quase o mesmo que nossos reinos, mas eles possuem presidentes e outros líderes para levarem adiante suas vidas curtas. E agora você me pergunta: como eu consegui passar pela barreira? E eu respondo: dando toda minha energia em troca. —O homem que estava sorrindo, agora fecha sua cara, levanta e vai até a grade transparente fazendo com que o garoto reaja se afastando. —Meu corpo foi queimado quase que por completo, mas uma linda moça me encontrou. Ela trabalhava em um hospital, disse que era uma aprendiz de cirurgião plástico, por isso ela me levou. Disse que poderia me ajudar a cicatrizar aquelas queimaduras. Depois daquilo, me recuperei sozinho, pois nós cientistas, também temos conhecimento médico e sabemos usar a energia da natureza ao nosso favor. —Benjamin congela sua cela, Carlos se impressiona —Nós nos apaixonamos, quando me curei por completo alguns meses depois. E então, nos casamos. Ela queria engravidar, então me apressei em ajuda-la, tivemos um filho, mas após dois anos, meu corpo estava se deteriorando, a água parecia ter terra para mim, o oxigênio parecia fumaça. Eu tinha que sair dali, meu corpo estava envelhecendo rápido demais, a cada segundo que passava. Foi naquele momento que decidi sair na madrugada fria de outono e atravessei novamente para Fantasia. Retornando para este mundo, minha aparência retornou também, mas fui surpreendido por General Lucky Moltgarth, que na época ainda era capitão, e sua magia ridícula de aura. Fui julgado por traição e preso nesse inferno, e com prisão perpetua, tentei dizer para Gaustal que eu tinha uma família lá fora, mas ele apenas bateu o martelo.

Carlos estava em choque, parte daquela história o garoto já conhecia, pois, sua mãe, Jenny Duarte, já havia lhe contado.

—E é isso, garoto. Espero que tenha correspondido suas expectativas... —Benjamin, é interrompido ao ver lágrimas caindo dos olhos de Carlos. —Falei algo de errado?

O garoto olha atentamente para o homem e diz:

—Meu nome... é... Carlos Duarte, senhor.

Benjamin arregala os olhos, coça o nariz, se aproxima ainda mais da cela e se pergunta, com falsas memorias passando em sua cabeça, o homem tenta imaginar a coincidência entre Carlos e o filho que foi obrigado a abandonar.

—Isso é impossível. Você tem meu sobrenome, jovem... isso quer dizer que... —os dois se encaram atentamente

—Você é meu pai. Benjamin Duarte, aquele que nunca tive a oportunidade de conhecer.

—Isso... —Benjamin também derrama algumas lagrimas —é mesmo possível?

Carlos e Benjamin finalmente estavam cara-a-cara e com muitos sentimentos para compartilharem.

Após aquele momento de confissão e reaproximação de pai e filho, os dois conversaram e puseram suas histórias em dia. Carlos contava como estava sua família no outro mundo, falava sobre seu irmão Deniel, e contava como foi convidado por Gaustal. Seu pai, Benjamin, contava ao garoto todas as suas aventuras em um mundo diferente, um mundo com pessoas que viviam sem magia, algo bem diferente do comum. Conversaram até o anoitecer, até que Benjamin pede que seu filho retorne para o castelo, afinal ele ainda é um prisioneiro, mas Carlos disse que retornaria sempre que pudesse, pois pai e filho acabaram de se encontrar após anos. Aqueles dois ainda iriam poder se aproximar cada vez mais.

Carlos volta para seu dormitório, sem que ninguém percebesse. Ele olha em volta e lembra que os garotos estavam em um tipo de missão, e já haviam se passado duas semanas, mas ele ignora tudo e só queria que chegasse o próximo dia para que ele pudesse ver seu pai novamente.

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