11. Eu prometi

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A música cessou, mas nossos corpos continuaram unidos em um abraço confortante como se ela ainda tocasse dentro de nós, como se ainda vibrassemos com o som da melodia que competia com a beleza do céu acima de nós. Aquelas cores, pensei desejando ter minhas tintas em mãos para que pudesse reproduzir tal cenário, embora achasse utópica e quase cômica a ideia de pintar algo tão encantador.

Nos afastamos e uma das mãos de Harry ainda pairava em minhas costas quando ele tirou uma mecha de cabelo do meu rosto, a colocando para trás da orelha de forma delicada. Ele me analisou por breves segundos, fez menção de abrir a boca mas coloquei meu dedo indicador sob seus lábios, o impedindo.

- Sei que sim.

───※ ·❆· ※───

No dia seguinte aparatamos sob a capa da invisibilidade para Godric's Hollow, protegidos pela escuridão da noite.

Após a desconfortável sensação de ser engolida por uma escuridão interminável, chegamos na pequena vila, agora coberta por uma grossa camada de neve. Eu e Harry estávamos de mãos dadas em uma estradinha, sob um céu azul-escuro em que as primeiras estrelas da noite começavam a piscar palidamente. Havia chalés de ambos os lados da via estreita, e decorações de Natal cintilavam às janelas. Um pouco adiante, um clarão dourado de lampiões de rua indicava o centro da aldeia.

- Devíamos ter usado Polissuco - falou Hermione, que se encontrava ao meu lado.

- Não - interpôs Harry. - Foi aqui que eu nasci, não retornaria como uma outra pessoa.

Um sino tocou ao longe e eu e ele trocamos um breve olhar. Desvencilhei minha mão da sua para segurar seu braço e me aproximar mais dele, que sem hesitar se aninhou a mim como podia.

- Boa Noite! - gritou um homem na rua a nossa esquerda.

Olhamos para ele brevemente e começamos a andar, seguindo a estradinha nevada.

- Ei, acho que é véspera de Natal! - falou Hermione, quando duas criancinhas soltaram gritinhos de animação em uma casa ao lado.

- Escutem - sussurei e nos três nos concentramos na canção natália que vinha de algum lugar não muito longe.

Caminhamos em linha reta por um pequeno trecho até vermos a casa que os pais de Harry - e consequentemente ele - moravam. A casinha onde tudo aconteceu, onde há dezesseis anos o menino ao meu lado sobrevivera, porém, sem os pais e com uma cicatriz em sua testa que o marcaria para toda a vida; que o fadou à guerra sem que ele tivesse escolha.

A sebe crescera livremente desde que Hagrid retirara Harry dos escombros ainda espalhados pelo capim, que chegava à cintura. A maior parte do chalé permanecia de pé, embora inteiramente coberta de hera escura e neve, mas o lado direito do andar superior explodira.

- Acha que eles estariam ali dentro? - perguntou Harry enquanto a estudávamos. Embora não tenha dito para alguém em específico seus olhos encontraram com os meus, como se ele esperasse uma resposta apenas de mim. - Mamãe e Papai.

Eu e Mione não respondemos de imediato, a menina analisava a casa com muito carinho e eu fazia o mesmo, imaginando como seria se tudo fosse diferente; como seria se nada disso tivesse acontecido, como seria se Lily e James estivessem vivos, Harry teria tido o amor materno e paterno desde cedo e não precisaria ter ido morar com os tios que apenas o maltrataram...

- Acho que estariam sim - falei, olhando para ele, que também estava absorto em pensamentos.

Mesmo com a escuridão pude ver que seus olhos marejarem com lágrimas que há muito tempo gritavam para serem jorradas, embora ele lutasse contra elas diariamente. Harry era mais forte do que pensava e queria que ele pudesse ver isso.

𝗮𝘀 𝗮 𝗳𝗮𝗺𝗶𝗹𝘆 ! 𝗵𝗮𝗿𝗿𝘆 𝗽𝗼𝘁𝘁𝗲𝗿Where stories live. Discover now