Jack Lanterna 🎃

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- Mais uma, Jack? - perguntou Tony, o barman do pub, que já era bem acostumado com a presença de Jack por ali. Jack assentiu apenas com um gesto de mão.

Tony trouxe, em poucos instantes, mais um copo de uísque. O bêbado Jack demorou mais ou menos dois minutos para perceber que mais uma rodada de sua bebida preferida o esperava à sua frente. Virou o copo de uma vez só e sorveu todo o conteúdo. O atendente riu brevemente ao vê-lo fazer isso e comentou:
- É, Jack... Mais cedo ou mais tarde você vai precisar dar um jeito nessa sua vida. Ou vai continuar enchendo a cara toda noite aqui?
- Vai se foder, Tony. - respondeu o amargurado homem, fazendo sinal com a mão para que ele lhe servisse mais uma dose.
- Estou falando sério, rapaz! - insistiu Tony, ignorando o pedido. - Eu sou seu amigo, não gosto de te ver se afundando na birita assim. Eu sei que você se ferrou com o vício nos jogos mas já é hora de...
- Cala essa matraca e bota mais uísque aí! - interrompeu-o o bebum, com uma voz pastosa e embriagada, começando a ficar um pouco nervoso.
- Tá certo... - suspirou Tony, colocando mais do destilado no copo - Mas fique sabendo que não vou mais aceitar fiado de você. E isso é pro seu bem, meu chapa! Até porque você tem uma família pra cuidar, não tem?! Tem uma filha!
- Ela me odeia, seu idiota! - murmurou Jack com sua voz ébria causada pela bebida, puxando o pobre barman pelo colarinho. - Você está achando que eu queria estar nessa droga de lugar agora?!
- Cara, conheço um monte de gente que também é divorciado e tem filhos adolescentes! - retrucou Tony, se desvencilhando das mãos do cliente, assustado. - E vê se não mete mais essa mão em mim, seu pinguço!

Jack o largou e deu um tapa na mesa, tomado pela raiva. Em seguida pegou seu copo e, vendo que estava vazio, ficou possesso e o arremessou ao chão, quebrando-o. Alguns homens que jogavam sinuca do outro lado do bar pararam subitamente de jogar ao ouvirem o barulho do vidro se rompendo e ficaram olhando para ele.
- Tá certo, Jack, isso já foi longe demais! - definiu o atendente. - Vai embora agora ou eu chamo a polícia!

Jack lentamente ergueu seu rosto do balcão onde estava com a cara enfiada e encarou Tony, com ódio no olhar. Sem dizer uma única palavra, pegou uma garrafa vazia de uísque ao seu lado e golpeou com força o rosto de Tony, que caiu no chão desmaiado instantaneamente. A turma que jogava sinuca nos fundos do recinto entrou em choque e saíram todos correndo.
- Caramba, cara! Aquele cara ali é maluco! - berrou um deles aos outros enquanto corriam.

Percebendo a encrenca em que se metera, o agressor usou o equilíbrio que a bebedeira ainda não lhe tomara para olhar ao redor e ver se alguém mais testemunhara a cena. Não vendo mais ninguém por ali além de um velho que dormia há horas num canto depois de ter tomado pinga demais, Jack cambaleou rumo à saída do pub.

A rua estava deserta, para o alívio de Jack. Um vento frio e cortante o dominou assim que pôs os pés para fora do lugar. Saiu andando atrapalhadamente pela rua sem saber bem para onde ia. Apenas queria se afastar dali antes que alguém o associasse ao sujeito desmaiado e ferido atrás do balcão do bar.

A cada esquina que passava, olhava para os lados a fim de se certificar de que ninguém o seguia. O excesso de uísque devia tê-lo deixado um tanto paranoico.

Não havia sequer sinal de carros ou motos pelas ruas naquele horário, isso era comum para uma madrugada mas, mesmo assim, algo incomodava Jack. Parecia que aquela noite o reservava algo, e ele sentia que não era algo bom. Ele tentava continuamente se convencer de que aquela sensação era apenas efeito do álcool em demasia.

Foi aí que algo aconteceu. O homem subitamente pôde jurar que ouvira uma voz estranhamente familiar o chamar da escuridão.

- Quem está aí?! Quem está aí, responde! - exclamou ele, olhando para os lados, trêmulo, sem nem saber de onde o som havia vindo.

Talvez o patife do Tony tivesse mesmo razão, ele precisava parar de beber.

Ao desistir de identificar quem ou o quê o chamara das sombras, Jack endireitou o corpo e já ia seguir adiante quando sentiu um forte cheiro de enxofre.

- Que diabo de cheiro é esse? - ele pensou alto, olhando ao redor.
- Sabe, adoro essa expressão. - comentou uma voz áspera e calma que fez o coração do homem disparar.

Em sua frente havia um sujeito que trajava um sobretudo preto, um chapéu escuro que cobria parcialmente seu rosto, luvas de couro e manejava uma bengala preta e comprida.
- Ora, mas... q-quem é o s-senhor? - indagou Jack, começando a sentir uma pontada de medo junto com a embriaguez.

O estranho deu uma risada.
- Vamos, Jack, não se faça de estúpido, não vai funcionar comigo. Só faz um ano, você deveria se lembrar. Sei que você bebe mais que um gambá, mas aposto que sua memória não está tão fraca assim.
- Eu... - balbuciou o bêbado, começando a se recordar da voz daquele homem, sentindo um forte desconforto - Eu te devo alguma coisa?
- Pode apostar que deve! - respondeu o outro, rindo maldosamente mais uma vez - Se não fosse por mim você não teria se dado tão bem nos jogos de azar em que você se afundou depois que sua mulher te largou. Eu ajudei você, te dei sorte. E agora vim cobrar minha parte do trato.
- E o que é que eu devo fazer pra você? - perguntou o bebum, prevendo que a resposta não iria agradá-lo.
- Bom, você deveria se lembrar disso também, espertinho. Mas posso adiantar que tudo o que tem que fazer é vir comigo. Tem um lugar onde você vai ficar por um bom tempo... - o sujeito sorriu perversamente ao dizer aquilo.

Foi aí que ouviu-se o motor de um carro a uns vinte metros da onde os dois conversavam e as luzes do farol de um veículo iluminaram o local.

Assustado, Jack virou-se e viu uma caminhonete verde aproximando-se com velocidade. Da carroceria, um rapaz apontou um bastão de beisebol para Jack e gritou para os outros:
- Olha ele ali! É o babaca que deu uma garrafada na cara do Tony! Eu vi! É aquele careca de gravata ali!

A caminhonete freou bruscamente e quatro homens desceram dela. Jack reconheceu o homem do bastão como um dos que jogavam sinuca no bar. Os outros três estavam armados de facas e tacos de sinuca.
- Então foi você que mexeu com o meu primo Tony, seu bêbado de merda? - perguntou um sujeito barbudo de boné que segurava um taco. - Acontece que a gente veio te ensinar a não bancar o machão no pub do meu primo!

Jack olhou para trás como se buscasse alguma proteção vinda do estranho de preto mas este havia simplesmente desaparecido como num passe de mágica.

- Olha pra mim, idiota! - continuou o homem, raivoso - Tô falando com você! - Enquanto isso, o quarteto se aproximava com fúria nos olhares.

Jack pensou em correr mas estava ainda mamado de uísque e sabia que iria levar um tombo na fuga. Já estava achando que iria mesmo levar uma surra daquelas quando ouviu a voz do sujeito misterioso de preto vinda do chão:
- Me use como defesa, Jack. Não quero deixar você para esses arruaceiros. Você é meu, eu autorizo que me manuseie para sobreviver. Vai valer como parte do nosso pacto, digamos.

Ao olhar para baixo, ele viu um revólver decorado em couro escuro e com um pentagrama esculpido no cabo. Sem pensar muito bem, pegou a arma do chão antes que os homens se aproximassem demais, prendeu a respiração e puxou o gatilho quatro vezes.

Depois de quatro sons pesados de pólvora, os quatro brigões estavam estirados no chão, banhados em sangue.
O bebum olhou para o revólver, incrédulo e aturdido.

Foi aí que se lembrou de quem era o misterioso que viera cobrar algo dele e imediatamente se lembrou do por quê de carregar consigo um cantil de água benta no bolso sempre desde um ano atrás.

Rápido como um raio, sacou o cantil e derramou o líquido sagrado sobre o revólver. Nesse momento, a arma começou a ferver e se dissolver.

Jack subitamente começou a ouvir uma voz sinistra em sua cabeça que urrava de raiva:
- Está pensando que pode se livrar de mim tão fácil, homenzinho miserável?! Já que não pude te levar dessa vez, será meu servo na Terra!

Ao ouvir isso, Jack começou a sentir uma fervente dor de cabeça e sentiu como se seu corpo encolhesse brutalmente. Só o que se viu depois foi uma figura redonda e fogosa que voou para longe dali.

No dia seguinte, na manhã de Halloween, os boatos que corriam entre os vizinhos do bairro eram sobre quatro misteriosos assassinatos na rua 13, que a polícia associou depois a um mendigo doido que alegava que o culpado era um homem que ele supostamente vira assumir a forma de uma sinistra abóbora de fogo voadora. Obviamente, as autoridades não acreditaram em coisa alguma do que ele dizia.

BONS PESADELOS

Contos de Terror e MonstrosWhere stories live. Discover now