Robert Johnson, o músico endiabrado😈

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O ano era 1938. Era uma noite movimentada de verão no bar Tree Forks, no Mississipi. Fazia tempo que o lugar não tinha tanta clientela, normalmente era frequentado apenas pelos habitantes da pequena cidade. Contudo, essa noite era muito especial, já que o cultuado músico de blues Robert Johnson se apresentaria lá. Portanto, havia gente de todas as partes do estado presentes.

- Pode ficar com esse quarto dos fundos enquanto estiver se preparando, sr. Johnson. - disse o sr. Campbell, proprietário do bar, mostrando ao cantor uma pequena sala parcialmente vazia, com um sorriso no rosto - Infelizmente não temos aqui um camarim apropriado, espero que entenda. Até porque não estamos acostumados a receber astros por aqui.

Roberto deu uma risadinha simpática ao ouvir aquilo.

- Pode deixar, sr. Campbell, está de bom tamanho! - o humilde músico respondeu, dando-lhe um tapinha nas costas - Aliás, é um prazer imenso vir tocar no seu bar!

O homem sorriu para ele e pediu licença para ir ajudar no atendimento dos fregueses. Enquanto isso, Robert largou sua pesada mochila em cima de um banco e suspirou de alívio. Depois, começou a checar se as cordas de seu violão estavam devidamente afinadas. Minutos depois, enquanto ele trocava de terno a fim de ficar mais apresentável, ouviu batidas na porta.

- Ei, calminha aí! - disse Robert, um pouco desconfortável - Estou me preparando! Daqui a pouco me apresento!

Não houve resposta, porém as batidas persistiram.

- Que saco... quem diabos está fazendo isso? - murmurou ele, indo abrir a porta com o terno colocado pela metade.

Ao abrir a porta, o cantor estranhou ao ver que não havia ninguém ali. Com a sobrancelha franzida, ele fechou a porta e, ao se virar para voltar ao trabalho, deu de cara com um sujeito alto e completamente vestido de preto, que usava um sobretudo e um chapéu que lhe cobria parcialmente o rosto. O quarto foi repentinamente tomado por um forte cheiro de enxofre.
- Olá, Robert, meu bom rapaz - cumprimentou-o o estranho, com uma voz áspera e maliciosa.

O coração do artista deu um pulo. Seu sangue gelou nas veias. Incrédulo, ele respondeu:
- M-mas q-quem é o senhor?
- Ora, Robert, tenho certeza de que você se lembra perfeitamente bem de mim e do acordo que fizemos - pontuou o homem, dando uma risadinha perversa.
- Que acordo? Do que você está falando, seu maluco?! - questionou o rapaz, rindo de nervosismo - E como foi que entrou aqui sem eu ver?!
- Nada de fugir do assunto, espertinho - zombou o visitante, de dedo em riste - E eu estou falando do trato que fizemos há cinco anos atrás, quando você ainda sonhava com o sucesso e a fama. Você me pediu o dom de tocar violão como ninguém. E eu te dei. Agora quero sua parte do acordo, meu caro.

Johnson subitamente se lembrou daquela noite bizarra que ele vivera em 1933. E então caiu na gargalhada.
- Eu me lembro, sim, de você! - ele riu - Você era aquele bruxo esquisitão que me ofereceu um desejo, não era? Que coincidência dos diabos, hein!
- Um bruxo? - indagou o estranho, sério - Acha mesmo que sou um bruxo? Aconselho não me testar, Robert!
- Vá se danar, seu idiota! - exclamou o cantor, voltando a ficar sério - Tenho um show para dar daqui a minutos! Saia do meu aposento antes que eu chame o dono do bar!
- Você escolheu o pior caminho, rapaz - respondeu o sujeito, ardilosamente - Não devia ter brincado comigo. Haverão consequências terríveis!

Dito isso, o homem apenas saiu andando porta afora. Robert bateu a porta atrás dele.

- Cada lunático que eu encontro por aí! - pensou Robert, terminando de se vestir.

Pouco depois, o músico finalmente apareceu para o público com um sorriso brilhante estampado no rosto. Todos vibraram e aplaudiram ao verem-no. Robert arrastou um banquinho que havia sido deixado ali para ele e sentou-se nele. Após isso, começou a tocar o blues mais contagiante que todos ali já haviam escutado e a entoar canções típicas do sul com sua voz gutural encantadora.

Em meio a tanta folia, Johnson nem se deu conta da presença do misterioso sujeito de preto, que agora o fitava dos fundos do salão, com malícia no olhar.

- Esse palerma vai me pagar o que me deve! - murmurou o ser, furioso, assistindo-o receber aplausos de todos por ali, graças ao dom que só ganhara graças ao pacto feito.

A alguns metros de distância, o senhor Campbell e sua esposa cuidavam juntos do atendimento. Vez ou outra, alguém vinha pedir um copo de cerveja ou de uísque.

Foi então que o sinistro inimigo de Robert se aproximou do balcão e pediu à moça, com uma voz gentil:
- Olá, poderia me servir algo para beber? Qualquer bebida me agrada!
- Pois não, meu senhor! - respondeu a senhora Campbell, com um sorriso prestativo no rosto.

Em seguida, ela se virou para pegar uma garrafa de uísque do Tennessee em uma estante e, enquanto ela despejava a bebida em um copo de vidro, o homem de preto tirou um pedaço de papel do bolso do sobretudo e sorrateiramente o colocou no bolso de trás da calça da atendente.
- Aqui está! - ela sorriu, servindo o copo a ele.

O estranho agradeceu, pagou e se afastou com a bebida. Minutos depois, o dono do estabelecimento veio falar com a esposa:
- Como está indo, querida? Muita freguesia hoje?
- Como nunca antes, meu bem! - ela respondeu, amorosamente, dando um beijo nele. Nesse instante, o homem passou a mão pelas costas de sua esposa, carinhosamente, e acabou notando o papel deixado ali. Sem que ela notasse, resolveu pegá-lo, desconfiado.

Depois de voltar a seus afazeres, o sr. Campbell desdobrou o pequeno papel e viu que havia algo escrito nele, lia-se:

Agradeço ao destino por ter me feito vir tocar no bar do seu marido. Depois do show, venha no meu aposento. Vamos nos divertir um pouquinho.

Robert ❤️

- Então esse canalha está achando que pode vir no meu bar e ainda se deitar com a minha mulher?! - indagou ele, incrédulo com o que tinha acabado de ler - E depois de toda a hospitalidade que eu tive com ele?! Ora, ele vai ver só!

Depois do show, os clientes começaram a se retirar. Robert apertava a mão de alguns que vinham falar com ele, empolgados e sorridentes. Foi aí que o Sr. Campbell despejou seu melhor uísque em um copo e, discretamente, adicionou veneno. Depois, levou a bebida até o cantor e entregou-a a ele, com um falso sorriso acolhedor no rosto, dizendo:
- Tome, Sr. Johnson, é cortesia da casa pelo trabalho excelente!
- Ora, Sr. Campbell, não precisa disso! - respondeu ele, simpático.
- Não faça cerimônia, filho! Eu insisto que prove! É o melhor uísque da casa!

Sorridente, o músico aceitou, ergueu o copo como num brinde e tomou tudo de um gole só. Ele já ia agradecer ao anfitrião com um sorriso quando começou a sentir uma forte sensação de náusea e como se todos os seus músculos se contraíssem por vontade própria. Babando, Robert caiu no chão, sem vida.

Foi uma gritaria desenfreada. Os ouvintes que ainda estavam ali se abarrotaram em volta do astro para acudi-lo ou ao menos entenderem o que estava acontecendo. Em meio à confusão, o envenenador se afastou de mansinho e escondeu bem o frasco de veneno.

Do lado de fora do bar, o sujeito de preto que visitara Robert mais cedo gargalhava maldosamente vendo sua artimanha se concretizar.
- Aguardo você no seu novo lar, Robert. Espero que goste de clima quente! - ele concluiu, rindo.

                               FIM

Contos de Terror e MonstrosWhere stories live. Discover now