Banshee

16 2 5
                                    

Já se passava da meia-noite. Uma neblina úmida dominava os pântanos da região. James caminhava solitariamente por uma estradinha de terra que cortava o mato, levando consigo sua vara de pesca e o balde com os peixes que fisgara ao longo do dia. Voltava para casa depois de uma de suas costumeiras pescarias.

"A patroa vai me matar por eu voltar tão tarde para casa..." - lamentou-se ele, olhando seu relógio de bolso e já prevendo a bronca que levaria da mulher.

O homem já se acostumara com aquele cenário um tanto sombrio da estrada à noite, afinal, pescava por ali há mais de trinta anos. Mas algo o incomodava dessa vez. Ele tinha um mau pressentimento sobre algo que não sabia explicar. E o frio que fazia, somado a essa estranha sensação, fazia James se sentir um pouco trêmulo.

Bem ao lado do caminho que ele seguia, havia um discreto riacho que corria murmurante. Dava para ouvir o croachar de alguns sapos por ali. Uma libélula voava inquieta de um lado para outro.

James resolveu assobiar sua canção preferida para esquecer o medo que aquele lugar estava lhe dando. Uma coruja começou a piar em algum lugar do mato, como que querendo avisa-lo de alguma coisa.

Passado algum tempo, quando ele se aproximava da entrada do vilarejo onde morava, notou algo realmente incomum.

Uma velha senhora vestida de trapos estava agachada na margem do riacho, olhando para a água e fazendo algo com as mãos. Parecia que ela estava lavando algo no rio.

Curioso, o pescador interrompeu seu assobio e resolveu se aproximar dela, calmamente, para ver o que ela fazia ali, sozinha, àquela hora da noite.

- Boa noite, minha senhora! - cumprimentou-a ele, tirando o chapéu. - Precisa de alguma ajuda? O que está fazendo aí?

A senhora não respondeu. Apenas continuou lavando aquilo na água corrente. Foi então que James notou algo mais estranho ainda: A água do riacho estava um tanto avermelhada em volta da velha. Intrigado, ele deu alguns passos discretos para a frente e pôde ver o que ela estava lavando.

Para seu espanto, o que ela lavava era um colete de couro marrom, todo ensanguentado. Chocado, James perguntou, agora mais tenso:

- Que é isso, minha senhora?! De quem é esse colete?!

Subitamente, a velha parou de esfregar a roupa e virou seu rosto na direção dele. Para seu horror, a velha tinha um rosto horrível, todo deformado. Ela respondeu, com uma voz aterrorizante:

- Esse colete é do senhor! - E soltou uma gargalhada medonha.

Apavorado, James deu as costas e saiu correndo dali o mais rápido que suas pernas permitiam.

Ao chegar em casa, o homem deu de cara com sua esposa preparando sua janta. Como previsto, ela o questionou rispidamente sobre onde ele estivera, porém não acreditou em uma palavra do que ele a contou sobre o estranho acontecido.

"Aposto que esse homem encheu a cara no bar e imaginou essa besteira toda!" - ela pensou, irritada.

Naquela noite, o pobre James só conseguiu dormir depois de esvaziar algumas garrafas de aguardente. Na manhã seguinte, ainda bastante abalado pelo que vira na noite anterior, levantou-se e, ao invés de ir trabalhar como de costume, foi para onde costumava ir sempre que queria muito se esquecer de algo: O bar do vilarejo.

Chegando lá, foi até o balcão e pediu sua bebida. Logo depois, seus amigos Dave e Samuel apareceram, cumprimentando-o com tapinhas nas costas.
- Como vai, James? - saudou-o Samuel. - Já está no bar logo tão cedo? E que cara mais abatida é essa?
- Vocês não acreditariam, rapazes... - o pescador respondeu, tomando um gole de uísque.
- Ora, o que foi que houve? Algo de ruim? - indagou Dave, preocupado.

Já um pouco embriagado, James contou a eles o estranho encontro que tivera na volta do pântano. Depois que ele terminou o relato, os outros dois homens se entreolharam e caíram na gargalhada.

- Do que estão rindo, seus patetas?! - questionou James, irritado.
- Acho que você precisa parar de beber, amigo. - comentou Samuel. - Está começando a ver coisas.
- Pois é! - replicou Dave, ainda rindo. - Aposto que estava é traindo a mulher por aí e inventou essa pra se safar!

Ao ouvir aquilo, James voltou-se para Dave, com os olhos chispando de ódio. A bebida estava deixando-o mais agressivo.

- O que disse, seu cretino?! - James irrompeu.

Em seguida, o bebum pegou uma faca de uma das mesas do bar e apontou-a para Dave, com um semblante furioso, rosnando:

- Vai se arrepender pelo que falou de mim, seu desgraçado!

Imediatamente, os dois amigos pararam de rir e começaram a tentar acalmá-lo. Não adiantou. James avançou rapidamente e tentou apunhalar o amigo com a lâmina. Numa fração de segundo, Samuel conseguiu segurar a mão do agressor e tentou imobilizá-lo, porém acabou fazendo com que a faca fosse parar no estômago de James.

O pescador paralisou-se ao sentir a lâmina entrando em seu corpo e sangue começou a escorrer de sua boca. Tarde demais, ele olhou para seu ferimento e se deu conta do que estava vestindo: Um colete de couro marrom, agora todo ensanguentado.

                                   FIM

Contos de Terror e MonstrosOnde as histórias ganham vida. Descobre agora