Palhaços 🤡

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Luísa, Mauro, Patrícia e Gustavo eram amigos de escola. Estavam no terceiro ano do Ensino Fundamental, tinham todos 8 anos e costumavam ir e voltar da escola juntos, de bicicleta, pois suas casas eram bem próximas.

Como aquele era um bairro calmo, os pais dos quatro não se preocupavam tanto em deixá-los andarem sozinhos na rua. O pior crime que já ocorrera ali fôra quando alguns adolescentes jogaram rolos de papel higiênico sobre o telhado de uma casa.

Até que, uma manhã, o quarteto estava pedalando rumo à escola como de costume quando dois sujeitos vestidos de palhaço saíram de trás de uma cerca e acenaram para eles, sorridentes. Um era alto e magro, o outro era baixo e gordo. Os palhaços pareciam ter algo a dizer.

- Olha aqueles dois ali! - riu Mauro, apontando para eles. - Vamos ver o que eles querem!
- Não sei, não... - resmungou Luísa. - Nunca gostei muito de palhaços.
- Deixa de ser medrosa, Luísa! - zombou Patrícia, achando graça. - O que pode dar errado?

Os quatro acabaram parando as bicicletas. O palhaço mais alto bateu palmas com um sorriso estampado no rosto e exclamou:
- Olá, criancinhas! Eu sou o palhaço Benny, e esse é meu amigo, Bunny! - ele anunciou com sua voz esquisita, apontando para o colega, que fez uma profunda reverência para os quatro amigos. - Viemos aqui convidar vocês para viverem o melhor e mais mágico dia de suas vidas! Só não podem contar sobre isso para ninguém!

As crianças se entreolharam. Mauro e Gustavo se seguravam para não rir. Luísa continuava apática à presença daqueles estranhos. Patrícia foi a primeira a tomar a palavra:
- Acham que a gente é bebê pra acreditar nisso? O que vocês querem com a gente?
- Queremos levar vocês para a Terra dos Sonhos! - respondeu Bunny, sorrindo para ela. - É um lugar mágico! Lá não existe escola, nem lição de casa, nem dentista, e nem nada de chato!
- Nem salada de rúcula? - perguntou Gustavo, que detestava aquela comida. - Meus pais sempre me fazem comer essa nojeira no jantar!
- Nem salada de rúcula, nem de tomate, nem de espinafre, nem de nada! - respondeu Benny, rindo. A risada dele deixou Luísa ainda mais desconfortável, parecia meio assustadora.
- E o que a gente tem que fazer em troca? - perguntou Mauro.
- Nada! Nadica de nada! - respondeu Bunny. - Só o que precisam é esperar pelo Carro da Alegria e embarcarem nele!
- Carro da Alegria? - indagou Patrícia.
- Isso mesmo, garotinha! - respondeu Benny, aproximando seu rosto do dela. - É um carro que passa por essa rua todas as noites! Só precisam esperar por ele!
- Quer saber? Eu tô dentro! - decidiu Mauro, virando-se para os colegas. - Já não aguento mais ter que acordar tão cedo para ir para a escola todo dia!
- Eu também! - acrescentou Gustavo, animado. - Nunca mais quero comer salada de rúcula!
- Vocês ficaram malucos?! - finalmente Luísa disse algo. - Os seus pais nunca ensinaram vocês a não confiar em estranhos?!
- Estranhos? - perguntou Bunny, fazendo cara de choro. - Benny, aquela menina nos chamou de estranhos!

Os dois palhaços se abraçaram e começaram a chorar juntos. Luísa não soube qual dos dois choros era mais falso.

- Lu, eles são nossos amigos! - corrigiu Patrícia, brava com a amiga. - E você devia tentar ser mais legal com eles!
- Verdade! - irrompeu Gustavo, encarando Luísa. - Se não quer ir para a Terra dos Sonhos, então deixa a gente ir!
- Tudo bem! - respondeu a menina. - Aproveitem a viagem, então!

Nisso, Luísa montou em sua bike e seguiu caminho até a escola. As outras três crianças ficaram lá, batendo papo com a dupla esquisita. Os palhaços agora riam e davam piruetas.

Ao longo do dia, Luísa se sentou longe dos três amigos. Estava um tanto chateada com a forma como haviam tratado ela por causa de Benny e Bunny. Já Mauro, Patrícia e Gustavo, por sua vez, não comentaram com absolutamente ninguém sobre o inusitado fato que ocorrera na ida à escola, afinal, os palhaços haviam pedido que guardassem segredo.

Naquela tarde, Luísa voltou sozinha para casa e foi para seu quarto fazer a lição de casa. Resolveu não contar a seus pais sobre os palhaços.

Mais tarde, quando o relógio já estava perto de marcar meia-noite, Luísa estava deitada em sua cama, preparando-se para dormir, quando ouviu o motor de um carro passando em frente a sua casa. Naquele bairro, não era muito comum que passassem carros naquele horário, então a menina resolveu olhar pela janela para ver de quem se tratava.

Ao olhar, viu uma van preta parada na calçada. Três crianças com mochilas se esgueiravam até o veículo. Luísa reconheceu seus três amigos. Aquela van era o tal Carro da Alegria.

De início, ela cogitou chamá-los, mas já era tarde da noite e ela sabia que seus pais a dariam uma bronca por fazer barulho. Então apenas assistiu eles entrarem no carro, depois que alguém que ela não conseguiu ver muito bem abriu a porta para eles. Depois disso, a van deu partida e sumiu dali.

- Puxa, será que eu devia ter ido com eles? - a garota pensou consigo mesma. - Será que essa Terra dos Sonhos é real?

Entristecida com sua própria decisão, Luísa pegou no sono.

Na manhã seguinte, a menina tomou café da manhã em silêncio, sem contar a ninguém sobre o que vira. Pegou sua bike e foi para a escola sozinha, pois não achou seus companheiros de sempre.

"Devem estar curtindo muito essa Terra dos Sonhos" - ela pensou, com inveja.

Ao chegar na escola, notou que eles realmente não haviam comparecido. Ninguém sabia dizer o motivo.

Depois da aula, já sentindo até saudades dos três, Luísa voltou para casa. Chegando lá, sua mãe a deu um forte abraço, parecia estar emocionada.

- Está tudo bem, mamãe? - a menina perguntou, confusa.
- Olha só o que aconteceu! - a mulher respondeu, apontando para a televisão da cozinha.

Na reportagem que passava, um repórter estava em frente a uma casa abandonada repleta de policiais. Ele dizia ao microfone:
- Foi aqui nesta casa, hoje pela manhã, onde três crianças identificadas como Patrícia, Gustavo e Mauro acordaram dentro de uma banheira cheia de gelo! Os três relataram que estão com cortes cirúrgicos no abdômen. A polícia recomendou que as crianças sejam examinadas em um raio-x para que seja averiguado se não se trata de um caso de roubo de órgãos. Os responsáveis ainda não foram identificados, pois as três vítimas os conheciam apenas como Benny e Bunny e acreditavam que eles fossem palhaços!

BONS PESADELOS

Contos de Terror e MonstrosTempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang