Cavaleiro sem cabeça

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Esta história é inspirada na obra de Washigton Irving.

Era noite de Halloween de 1799. A luz do luar iluminava os campos que rodeavam o pequeno vilarejo de Sleepy Hollow. O clima era frio e uma neblina misteriosa encobria a região.

O professor Ichabod Crane rumava à mansão do Sr. Van Tassel, que havia convidado toda a população local para uma tradicional festa de Dia das Bruxas. Para tanto, Crane havia pego emprestado de seu vizinho uma mula para servir de montaria no trajeto.

O professor lamentava muito não ter dinheiro para comprar um cavalo decente, pois aquela mula era velha e cansada e Ichabod chegou a achar que chegaria lá mais cedo se estivesse a pé. Ele pôde ouvir de longe o barulho dos músicos tocando e das pessoas rindo e conversando.

Ao se aproximar da suntuosa casa de fazenda da família Van Tassel, Crane apeou sua mula e foi bater à porta. Foi atendido por um criado do fazendeiro, que o indicou com o dedo aonde o anfitrião estava papeando com outras figuras importantes da região. Ao vê-lo, o simpático velho o cumprimentou calorosamente e agradeceu sua vinda, depois pediu que ficasse à vontade e voltou-se para os outros ricaços.

O professor foi se servir de alguma bebida na sala de estar quando acabou esbarrando em Katrina, a filha única do anfitrião. Uma jovem de 18 ou 19 anos de cabelo loiro trançado, rosto corado e olhos azuis. Era o encanto de qualquer homem da cidade, sobretudo do professor, que, apesar de se sentir extasiado toda vez que a via, nunca tivera uma oportunidade muito boa de conversar com a moça.
- Ah, mil perdões, senhorita Van Tassel! - desculpou-se ele, subitamente corando-se ao ver de quem se tratava.
- Não se preocupe, querido professor! - tranquilizou-o ela, sorrindo docemente.

Nesse instante, um rapaz grandalhão de ombros largos e braços musculosos surgiu do corredor. Era Brom Bones, um encrenqueiro local que tinha uma queda pela jovem e não ia nem um pouco com a cara de Ichabod, talvez por já ter notado o amor que ele também nutria por Katrina. Tomando a moça pelo braço de forma um pouco grosseira, Bones disse:
- Algum problema, minha dama? Este magricela está te incomodando?! - ele rosnou, encarando Ichabod.
- Pare com isso, Brom! - ela o bronqueou, desvencilhando-se dele e se afastando.

Os dois concorrentes continuaram se encarando até que Ichabod o deu as costas calmamente e foi procurar com quem socializar por ali.

Cerca de duas horas depois, quando muitos dos convidados já estavam ligeiramente mais agitados e brincalhões devido à bebida, o Sr. Van Tassel pediu que os músicos interrompessem o concerto e anunciou a todos:
- Meus caros amigos, chegou a hora do tão esperado baile! Procurem por um par e que comece o divertimento!

Mal ele havia terminado de dar o aviso quando Ichabod sentiu uma mão leve e macia puxar seu braço, era Katrina.
- Aceita dançar comigo, professor? - ela perguntou, aparentando estar um pouco envergonhada - Não queria ter de dançar com aquele brutamontes do Brom, sabe? E vi que o senhor veio desacompanhado, então...
- Claro, claro, minha lin... digo, senhorita! - respondeu ele, emocionado - Não sei como aguenta o Bones na sua cola todo dia! - ele comentou, rindo.

Sorridentes, o par deu as mãos e começaram a valsar pelo salão, com maestria nos movimentos. Todos os presentes os olhavam discretamente e cochichavam entre si. Quando um amigo de Brom os viu juntos, chamou Brom e este, ao ver também, ficou extremamente irritado:
- Depois de tudo que eu já fiz por ela, ela resolve dançar com aquele pé-rapado?! - ele comentou com seus amigos - Acho que vou ter que dar uma lição nesse enxerido!
- Ei, calma lá! - interrompeu um dos rapazes que andavam com ele - Não vá fazer nada com ninguém aqui, à vista de todos! Imagine a impressão que o pai dela teria de você!
- Tem razão... - respondeu Brom - Mas não se preocupe, já tenho um plano em mente. Afinal, esse professor é um sujeito bem supersticioso pelo que comentam, não é?
- Ah, pode acreditar que é! - riu outro dos rapazes - Outro dia, vi ele caminhando na rua e um gato preto vira-lata saiu de trás de um banco. Não deu outra, o palerma se benzeu  na mesma hora!

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