Chupacabra

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- E então, cadê esse tal cadáver? - quis saber o xerife, quando entraram no celeiro. Mais adiante, uns cinco empregados do coronel observavam atentos e preocupados algo no chão. O lugar fedia terrivelmente.
- A gente trouxe essa pobre cabra pra cá pro patrão ver, xerife. Mas a gente achou ela no meio do pasto. - explicou um dos peões.
- Mas não foi isso o que mais me intrigou, xerife. - comentou o coronel, franzindo o cenho. - Dê só uma olhada no pescoço do bichinho.

O xerife deu uma espiada. A cabra era fêmea, de médio porte e pelagem branca. Não havia um único arranhão ou mordida em seu corpo morto, apenas dois pequenos furos no pescoço.
- Tão se preocupando à toa. - riu o xerife. - Foi apenas um morcego, só isso.
- Com todo o respeito, xerife, o senhor já viu morcego chupar todo o sangue de uma cabra inteira?! - questionou o coronel, irritado.
- Certo, certo... - concordou ele. - Então pode ter sido um coiote. Umas semanas atrás, um deles matou umas galinhas na fazenda do senhor Baltimore.
- Que coiote que nada! - respondeu um dos homens. - Um coiote iria comer a carne da cabra! O que fez isso só queria o sangue!
- E já não é a primeira vez que isso acontece, hein! - acrescentou o coronel, nervoso. - Semana passada foi um novilho premiado que a gente achou morto com esses mesmos furos no pescoço. Tô te falando, xerife, aí tem coisa!
- Está bem, meu caro, está bem! - o oficial tentou acalmá-lo. - Já que não fazemos ideia de que bicho é esse, só o que nos resta é ficar de tocaia pra ver se pegamos essa praga!

E assim foi. Na noite seguinte, o xerife foi se encontrar com o coronel e seus homens na porteira da fazenda. Eles o aguardavam todos armados de escopetas.

- Onde exatamente vocês acharam aquela cabra de ontem? - quis saber o policial.
- Perto daquele matagal ali, do outro lado do pasto onde as cabras ficam de dia! - respondeu um dos jagunços.
- Certo, então eu e dois de vocês vamos ficar lá. O coronel e mais três podem tomar conta daqui dessa área. O desgraçado não vai mais pegar animal nenhum.

Todos assentiram e foram para seus postos. Pouco depois, lá estavam o chefe de polícia acompanhado de dois homens à margem da floresta que circundava a fazenda.

Eles esperaram por quase duas horas, qualquer mínimo som estranho vindo dos arbustos os deixava de cabelo em pé. Sempre que apontavam a lanterna, porém, viam que se tratava apenas de um coelho ou um esquilo.

Foi depois de todo esse tempo que ouviram barulhos de disparos e uma gritaria vinda da onde o outro grupo estava. Foram correndo para ajudar na mesma hora.

- Ele foi pra lá! Pra trás daqueles arbustos! - urrava o coronel, esbaforido.

Ao entender o que ele dizia, o xerife apontou sua espingarda com precisão e emitiu três disparos. Ouviram, então, um ganido moribundo vindo da moita.

- Haha, pegamos ele! Boa pontaria, xerife! - comemorou um dos peões.

Ao irem ver do que se tratava, acharam o corpo de um coiote estirado no chão com marcas de tiros.

- Eu não falei? - indagou o xerife. - Era apenas esse coiote aí o tempo todo!
- Não sei, não... - começou o coronel. - É muito estranho ele ter bebido o sangue daquela cabra. Coiotes não fazem isso!

Mais tarde, o coronel descansava em sua varanda e tomava um copo de bourbon quando dois jagunços vieram a cavalo chamá-lo, aterrorizados:
- Patrão! Patrão! O senhor precisa vir conosco! É urgente!

Surpreso, o fazendeiro os seguiu sem entender nada e eles o conduziram até o pasto, onde havia um carneiro caído ao chão, sem vida e com dois furos no pescoço.
- Desgraçado! - irrompeu ele ao ver a cena - Eu sabia que não era aquele coiote coisa nenhuma!
- O que vamos fazer agora, chefe? - indagou um dos homens.
- Eu te digo o que vamos fazer! - bradou o coronel. - Vamos encher uma bacia com sangue e usá-la como isca. Se esse demônio gosta de sangue de bicho, ele vai ter!

No dia seguinte, com o auxílio do xerife, encheram uma bacia com sangue de bode e a deixaram dentro do celeiro.
- Prontinho, agora quando esse diabo entrar aí atrás do sangue, fechamos a entrada do celeiro com ele lá dentro! - decidiu o fazendeiro.

Os homens ficaram à espera o dia inteiro, mas nada aconteceu. O predador provavelmente tinha hábitos noturnos. Quando a noite vinha caindo e alguns dos peões já pensavam em desistir, um vulto rápido do tamanho de um grande cachorro entrou correndo no celeiro tão rápido que mal puderam ver o que era.

- Fechem! Fechem! É ele! - gritou o xerife.
Os homens prontamente começaram a empurrar o portão do celeiro, porém a coisa percebeu a armadilha e começou a segurar o portão.

- Mais força! - urrou o coronel, perdendo o fôlego.

Apesar do esforço, o bicho era forte demais. Os peões caíram para trás e a coisa surgiu do celeiro.

Nenhum deles nunca havia visto nada igual: Era uma espécie de canídeo de grande porte e bem musculoso, porém com escamas reptilianas pelo corpo e olhos amarelos saltados. Tinha um par de presas sangrentas na boca larga e patas com garras afiadas. Todos ficaram de queixo caído. Alguns dos peões deram no pé.

A criatura saltou sobre o fazendeiro e o derrubou com facilidade. Depois arreganhou os dentes e já estava prestes a abocanhar sua garganta quando ouviram-se cinco disparos de espingarda. O xerife atirara. O monstro caiu duro no chão.

- P-por favor, coronel... - gaguejou o atirador. - N-não conte a ninguém sobre isso. O povo vai entrar em pânico.

BONS PESADELOS

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