Pé - Grande 👣

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O sol estava quente. O vento balançava as folhas das árvores, pássaros cantavam  e o som da água corrente do rio ecoava. Os mosquitos não deixavam Brian em paz. Clint checava algo em sua filmadora enquanto Amanda trazia mais lenha da floresta.
- Ei, Brian - chamou Amanda - Vai mesmo ficar aí sem fazer nada? Por que não me ajuda com a madeira da fogueira de hoje a noite?
- Qual é, gente? Vocês querem mesmo ficar aqui até escurecer?! - desabafou Brian, mau-humorado - Todo mundo sabe que essa história de Pé-grande nem é real!
- E que prova você tem disso, hein? - indagou Clint - Porque eu não volto pra casa enquanto a gente não provar que ele existe!
- Clint, cai na real, cara! - retrucou Brian - Você tá procurando um primata gigante nas florestas da Califórnia! Você mesmo sabe que isso é só uma lenda idiota! E tá fazendo isso só pra conseguir mais seguidores pro seu canal do YouTube!
- Sabia que tem uma região da África onde ninguém acreditava que tivessem gorilas e então descobriram vários vivendo lá?! - ponderou Clint, convicto - A mesma coisa pode estar acontecendo aqui!
- Dá pra vocês dois calarem a boca?! - irrompeu Amanda, largando a lenha no chão - Brian, deixa de ser fresquinho! A gente vai sim acampar aqui! Se não pelo Pé Grande, então pelo simples prazer de estar com os amigos em contato com a natureza! Ou você vai morrer se ficar uns dias sem seu Xbox?!

Brian bufou e catou uma pedra do chão só pra atirar no rio e descontar sua raiva.
- Depois não reclamem quando a gente virar comida de urso!

Em seguida, entrou na sua barraca sem dizer mais nada e fechou o zíper.
- Bom, eu disse que trazer esse cara não ia ser boa ideia - pontuou Amanda.
- Deixa esse mané pra lá - comentou Clint, matando um mosquito em seu braço - Tá tão quente, o que acha de dar um mergulho nesse rio?
- Nossa! Como não pensei nisso antes?!

Minutos depois, enquanto Clint e Amanda se refrescavam no rio, ouviram os gritos de Brian:
- Gente! Gente! Rápido, venham aqui!

Os dois saíram do rio correndo e foram até onde o amigo estava sem nem se secarem antes.
- O que foi, Brian?! - perguntou Amanda, assustada.
- Vocês não vão acreditar... - ele contou, um pouco trêmulo, e os guiou até um canto a uns 5 metros da onde a barraca deles estava armada - Olhem só aquilo no chão!

Eles olharam para onde ele apontava e viram alguns pares de pegadas que iam até o mato. Pareciam humanas, porém muito maiores do que o normal. E aparentemente, de alguém que não usava calçado algum.
- Não pode ser! - exclamou Clint, sem saber se sentia entusiasmo ou medo - Foi o Pé-Grande! Ele passou por aqui! Eu sabia que ele era real!
- Puxa, não achei que a gente fosse achar vestígios dele tão rápido! - comentou Amanda, surpresa.

Foi aí que notaram que Brian se segurava para não rir.
- Qual a graça, hein?! - indagou a garota, um pouco irritada.

Brian não resistiu e caiu na gargalhada.
- Vocês tinham que ver a cara de vocês! - ele riu - Caíram direitinho!
- Você fez aquelas pegadas ali com a mão?! - questionou Clint, desapontado - Por que você não vai arrumar algo de útil pra fazer, seu babaca?
- Qual é, gente - o garoto riu - Vocês não têm senso de humor, não?

A noite caiu. Os três começaram a juntar a madeira que Amanda recolhera de dia para fazerem uma fogueira. Clint dizia que era o melhor jeito de afastar animais perigosos, como ursos e lobos. Brian só pensava em marshmallows.

Pouco depois, abriram um pacote de marshmallows que Brian havia trazido na mochila e começaram a assá-los enquanto conversavam.
- Sabe, eu estava pensando - começou Amanda, mastigando um pedaço de marshmallow - Como vamos fazer para atrair esse Pé Grande? Quer dizer, não acho que ele vá aparecer pra gente tão fácil. Se fosse assim, muita gente já teria visto ele!
- Podíamos pensar em alguma isca - ponderou Clint - Ele deve ser carnívoro, então é só deixarmos um pedaço de carne crua por aqui nas redondezas e esperar.
- Ficou maluco?! - interrompeu Brian, olhando para o amigo - Se ele for carnívoro, vai querer comer a gente também! E sem falar que carne crua ia atrair um monte de outros bichos que a gente com certeza não quer por perto!
- Ei, se acalma, Brian! - disse Amanda - Ninguém aqui está dizendo que ele é carnívoro mesmo! Talvez ele seja herbívoro, sei lá!
- Tá bom, seja como for... eu preciso mijar! - anunciou Brian, deixando seu espeto no chão e levantando-se para ir até a parte de trás das árvores que cercavam o acampamento - Não acabem com o rango enquanto isso, hein!

O garoto foi até lá mas ficou com medo que os amigos o vissem abaixando a cueca e resolveu ir pra mais longe. Nisso, acabou se embrenhando na mata. Quando finalmente achou que estava longe o bastante deles, abaixou as calças e começou a se aliviar. Foi então que ouviu um ruído vindo de trás de si. Rapidamente se virou, falando:
- Ei, quem está aí?!

Não houve resposta, mas Brian tinha a sensação de estar sendo observado.
- Fala sério, gente! São vocês?! Essa brincadeira não tem graça, tá bom? Eu sei que vocês estão putos pela brincadeira que eu fiz hoje mais cedo mas parem com isso!

Novamente, não ouviu-se mais nada. O garoto começou a achar aquilo estranho e começou a subir as calças. Foi aí que ele ouviu o que claramente era o som de alguém se aproximando por trás e, quando ia olhar, levou uma pancada muito forte e pesada na nuca, desmaiando ali mesmo.

- Cadê o Brian, hein? - perguntou Amanda - Já faz uns dez minutos que ele foi mijar!
- Relaxa, ele deve estar zoando com a nossa cara de novo. É só o que ele sabe fazer! - respondeu Clint.

Os dois ficaram ali, tostando seus petiscos, por mais alguns minutos. E nem sinal do garoto. Os dois começaram a ficar preocupados.
- Ei, Brian! A gente sabe que você tá brincando! - gritou Amanda, com as mãos ao redor da boca - Já perdeu a graça! Vem comer antes que o fogo apague!

Não houve resposta alguma. Apenas o som dos pássaros e das cigarras na floresta.

- Tá certo! - disse Clint, levantando-se - Esse panaca deve ter se perdido por aí! Acho melhor eu ir procurar ele!
- Não, Clint! Desse jeito você vai acabar se perdendo também! A gente devia procurar ajuda!
- Ajuda? Onde? Estamos no meio do mato! Não tem ninguém mais por aqui!
- Ai, ai... - suspirou Amanda - Estou vendo que meus pais vão me matar!

O garoto pegou sua lanterna na barraca, ligou sua câmera e as ligou em direção às árvores. Guiando-se pela luz da lanterna, foi se embrenhando no mato. Amanda ficou no acampamento para o caso do sumido reaparecer ali.

Minutos depois, quando Clint já estava a pelo menos 30 metros de distância do acampamento, ouviu um ruído que lembrava gravetos quebrando. Rapidamente apontou suas ferramentas para a direção da onde o som vinha.
- Brian? É você? - ele perguntou, sentindo um calafrio na nuca.

Silêncio.

- Tô falando sério, cara! Pára com...

Antes que Clint pudesse terminar a frase, ouviu passos pesados bem atrás de si e um segundo depois, sentiu uma pancada forte em sua nuca.

- Droga, onde esses dois se meteram?! - pensou Amanda, olhando para os lados, sem saber o que fazer ou onde procurá-los - Quer saber? Já chega. Vou chamar ajuda agora mesmo!

Dito isso, ela pegou seu celular e tentou fazer uma ligação para a polícia, mas não havia sinal ali. Ela ficou tão concentrada no celular que nem viu quando algo grande e forte a agarrou pela garganta usando mãos grandes e poderosas, impedindo-a de sequer gritar e a suspendeu a um metro do chão, matando-a asfixiada.

Duas semanas depois, as equipes de busca da Guarda Florestal faziam uma investigação para solucionar o paradeiro de três adolescentes desaparecidos.
Eram eles: Clint Jackson, de 16 anos; Amanda Keer, de 17 anos e Brian Hawkins, de também 17 anos. Os pais dos três haviam dado pela ausência deles e só o que sabiam era que os três haviam ido acampar juntos no fim de semana. Mas passaram-se dias e dias e nada do trio. Um pouco distante dos outros guardas, dois deles vasculhavam uma clareira na floresta com a ajuda de um cão farejador quando este começou a latir e farejar algo no chão.
- O que deu nesse cachorro, hein? - indagou um dos homens, se aproximando do animal e estreitando os olhos para ver qual era o problema.

Foi aí que ele viu, perto de uns arbustos, um par de enormes pegadas que pareciam ser de algum tipo de primata. Ambas sujas de sangue.

EPÍLOGO

- E então? - perguntou o xerife - Acharam mais alguma pista naquele mato?
- Achamos, sim, senhor xerife - respondeu um dos policiais - Havia uma câmera amadora largada no chão e meio danificada, mas com o filme intacto, felizmente. Acreditamos que era de um dos garotos. E é aí que essa história começa a ficar esquisita...
- Esquisita? Por quê exatamente?
- Bom... Seria melhor o senhor ver com os próprios olhos...

Dito isso, o outro guarda ergueu a câmera de modo que o xerife pudesse assistir ao vídeo gravado nela. O filme não estava muito nítido, mas era possível visualizar algo grande, robusto e peludo, e em seguida uma boca cheia de dentes afiados, que emitia grunhidos que não lembravam nenhum animal conhecido.

BONS PESADELOS

Contos de Terror e MonstrosWhere stories live. Discover now