Curupira

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Seu Jacinto se preparava para ir caçar enquanto sua esposa se trocava e seus dois filhos brincavam na sala.
- Vão à algum lugar hoje? - perguntou o homem, enquanto limpava o cano de sua espingarda.
- As crianças querem porque querem ir nadar no rio. - explicou a mulher. - Já que hoje é domingo, resolvi que vou também.
- Cuidem-se, então. - disse Jacinto, dando um beijo na esposa e indo para fora com sua arma nas mãos.

Antes de começar a caçada do dia, como de costume, foi almoçar no bar do seu Zé. Enquanto ele comia, Zé perguntou lá do balcão, enquanto lavava os copos:
- E aí, seu Jacinto? Vai caçar hoje, é? Toma cuidado, viu?
- Cuidado, Zé? Por quê? - estranhou Jacinto.
- Ora, você nunca ouviu falar no Curupira? Ele não gosta nada que cacem aqui nessas matas.
- Deixa de besteira, homem! - riu o caçador. - Isso aí é história pra boi dormir!
- Bom, depois não diz que eu não avisei, hein! - concluiu seu Zé, colocando os copos no lugar. - Dizem que ele sabe manipular a nossa cabeça. Mexe com nossa mente. Eu é que não me atreveria a caçar nessa região aqui.

Jacinto ignorou os avisos do amigo e foi até o porto do vilarejo pegar seu barco a motor que ele usava para procurar jacarés, cujo couro era muito cobiçado por comerciantes por ser usado na produção de bolsas, jaquetas, sapatos e diversos outros utensílios. Sem falar na carne, que era muito saborosa, e nos dentes, que eram muito usados em artesanato para fazer colares e pulseiras.

O homem ligou o motor e partiu rio adentro, atento às margens para o caso de algum jacaré desprevenido estar tomando banho de sol.

Mais ou menos meia hora depois, avistou ao longe três jacarés que repousavam na parte rasa do rio. Rapidamente, Jacinto carregou sua espingarda e atirou nos bichos, que morreram na mesma hora.

Em seguida, foi com o barco até a margem para esfolar os jacarés e acabou percebendo algo terrível: Não eram jacarés que jaziam sem vida ali e sim sua mulher e seus dois filhos, que haviam ido ao rio para se banharem!

A primeira coisa que Jacinto escutou após isso foi uma gargalhada estridente e medonha que vinha das profundezas do matagal.

O Curupira realmente manipula a mente dos caçadores.

BONS PESADELOS

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