Júlio se preparava para o arraial que ocorreria na cidade aquela noite. Abotoava, entusiasmado, a flanela xadrez vermelha que ele guardara para aquela ocasião. Penteou bem o cabelo e não economizou no perfume, afinal, ele queria parecer atraente para as moças que estivessem lá.
De repente, sua mãe entra no quarto:
- Vai aonde todo arrumado assim, filho? - ela quis saber.
- Vai ter arraial hoje na cidade! - o jovem explicou, animado. - Meus amigos todos vão!A mulher pareceu não gostar muito da ideia, e respondeu, com uma voz preocupada:
- Ah, Júlio... Tem certeza que está a fim de sair logo hoje?
- Qual o problema, mãe? - ele questionou, confuso.
- Não tá lembrado, menino? Estamos na Quaresma! É a época do ano em que acontece de tudo por aí, ainda mais à noite! Tudo quanto é coisa de outro mundo anda à solta por essas estradas e matas!Júlio deu risada.
- Mãe, a senhora acredita mesmo nessas coisas? - ele zombou. - Isso é história pra assustar criança! Parece coisa que o vovô me contava quando eu era pequeno!
Apreensiva, ela saiu do quarto com um semblante de reprovação no rosto. Júlio nem ligou. Apenas terminou de se arrumar e foi ter com seu pai, que assistia TV na sala:
- Pai, o senhor me empresta seu carro? Estou de saída agora, vai ter festa na cidade!
- Festa, é? - perguntou o pai, que sempre fora menos zeloso que a esposa. - Tudo bem, rapaz, pode pegar o meu carro. Mas vê se não faz besteira com ele, hein! Quero ele novinho em folha amanhã cedo!O rapaz prometeu que seria cuidadoso ao máximo e foi, feliz da vida, para o evento. Ele tinha esperanças de que aparecer lá com um carro o ajudaria a parecer mais atraente e independente.
A noite já vinha caindo. A lua cheia iluminava toda a região. Um vento cortante balançava as árvores e os arbustos ao redor da estrada. Júlio teve uma sensação estranha com aquele cenário, como se sentisse que, talvez, sua mãe tivesse um pouco de razão com o que havia dito.
Ao chegar, porém, o clima descontraído de algazarra o tranquilizou e o fez se esquecer de qualquer preocupação. Estacionou o veículo e foi cumprimentar seus amigos, Joca e Zé. A festa estava bem agitada. Havia muita música, dança, comida e bebida. Os jovens de toda a cidade estavam ali, curtindo a folia.
- Ei, Júlio, ficou sabendo do que houve umas noites atrás? - perguntou Zé, com uma cara um tanto séria. - Um touro foi encontrado morto, todo estraçalhado, lá na fazenda do seu Miro. Deve ter sido uma onça ou algum bicho assim...
- Eu, hein... - comentou Júlio, pensativo.Enquanto bebia cerveja junto de seus amigos, Júlio notou uma moça da idade dele, loira, de lindos olhos verdes, dançando em meio às pessoas. Ficou pasmo com a beleza dela e resolveu ir falar com ela.
- Oi, moça! - ele a cumprimentou, tomando um gole de bebida, timidamente. - Qual o seu nome?
- Oi! Sou... a Mariana! - ela respondeu, interrompendo sua dança, parecendo também um pouco envergonhada.Antes que pudessem continuar a conversa, um braço forte puxou Mariana grosseiramente. Se tratava de um homem um pouco mais velho que os dois e que tinha uma aparência nada amigável.
O sujeito tinha uma barba escura mal-feita, era bem pálido e tinha olheiras bem visíveis ao redor dos olhos ameaçadores.
Ele perguntou para Mariana, encarando Júlio:
- Algum problema, Mari? Esse babaca tá te incomodando?!
- Sai pra lá, Luan! - ela retrucou, se desenvencilhando do grandalhão. - Eu não sou sua propriedade! Eu falo com quem eu quiser! Me deixa em paz!O esquisitão encarou os dois por alguns instantes com um olhar que esbanjava ódio. Depois disso, se afastou.
- Não liga pro Luan. - ela disse à Júlio, pondo a mão no braço dele. - Eu e ele tivemos um caso há um tempo atrás, mas ele não larga mais do meu pé. Ele é meio estranho, mesmo.
- Percebi! - comentou o rapaz, tentando manter o bom humor. - Mas, ei, tá a fim de dançar comigo?
- Ah...é... Claro! Por que não? - Mariana respondeu, sorridente.
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Contos de Terror e Monstros
HorrorUma coleção de histórias de terror, cada uma sobre um conhecido personagem. Mais historias serão postadas eventualmente