Capítulo 1

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Alguns finais são apenas o começo..."

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Poucas coisas tiravam o sono de Maria, e certamente o bilhete que recebera logo pela manhã, havia sido incluído nesta curta lista.

O relógio já batia quase cinco da tarde, e havia pelo menos uma hora que Maria, trancada em sua sala, encarava aquele pedaço de papel, sentindo aquela maldita pulga atrás da orelha atormentando-a.

Maria não era de se deixar levar por bobagens, mas aquelas poucas linhas estavam deixando-a em curto. Poderia ser uma brincadeira de muito mau gosto... ou não.

Pensou em ligar para o marido, mas desistiu. Jogou o bilhete no lixo e decidiu que não daria importância a alguém que não tivera a decência de dar as caras. Mas a dúvida a cercava por todos os lados. E se o conteúdo do bilhete fosse verdadeiro? E se alguém tivesse apenas querendo alertá-la, mas não queria se complicar?

Maria estava entre a cruz e a espada, mas no fim, decidiu que não dormiria com aquela incerteza pesando em seus ombros. Gostava das coisas em seus devidos lugares, e se fosse verdade o que o anônimo dizia a ela, seria forte o suficiente para aguentar. A verdade era sempre a melhor opção, ainda que causasse um enorme buraco, sempre era a melhor opção.

Decidida, saiu da empresa com passos firmes, torcendo para que tudo aquilo não passasse de um mal entendido.

Antes de chegar ao térreo, ligou para Sabrina, sua madrasta, pedindo-a que a acompanhasse. Precisava de um apoio caso o bilhete fosse verdadeiro, e ninguém melhor que Sabrina, que era como uma verdadeira mãe.

Ao contar à madrasta o que vinha acontecendo, a mesma ficou em choque, sensação que Maria estava experimentando há algum tempo. Sabrina achou tudo um grande absurdo, e tentou fazer a enteada mudar de ideia, mas sabia que isso não seria possível, Maria era teimosa demais para voltar atrás.

Uns vinte minutos de carro foi o tempo que levaram para chegar ao endereço que o bilhete indicava. Chegando, Maria respirou fundo, encarando o prédio com nojo. Levou alguns minutos para que falasse ou esboçasse alguma reação, e então, Sabrina com um ar materno perguntou:

— Tem certeza que quer fazer isso, Maria? Podemos voltar daqui mesmo.

— Não, Sabrina – a fitou – eu vou em frente. Se quiser ficar, vou te entender.

— Não, vou com você.

As duas seguiram em direção ao estacionamento do motel. A presença delas desencadeou olhares pitorescos, mas Maria apenas revirou os olhos e continuou, tinha algo mais importante a fazer do que levar em consideração opinião de funcionários infantis.

Maria, acompanhada por Sabrina, seguiu tudo conforme o bilhete dizia. Foram até o quarto andar, e pararam frente à porta de número quarenta e um. Foi bem naquele momento que Maria sentiu uma imensa vontade de correr para o mais longe dali.

— Aqui estamos – Sabrina disse, notando seu nervosismo. – O que pretende fazer agora? – questionou num sussurro.

— Abrir essa porta e torcer para que tudo seja apenas um equívoco – respondeu, sentindo que a qualquer momento seu coração sairia pela boca. – Que eu saia daqui com vontade de me enfiar num buraco, e não querendo cometer um homicídio.

Apesar de estar falando sério, Sabrina não pôde deixar de soltar um risinho com o comentário da enteada. Ela tocou seu braço, dando-lhe seu total apoio.

— Está pronta?

— Não, mas vamos lá. Seja o que Deus quiser.

Tocou a maçaneta uma vez e logo recuou. Do seu lado, a madrasta a observava em silêncio, vendo toda sua aflição. Tocou mais uma vez, e dessa vez com convicção, e vagarosamente foi virando-a. Com toda calma do mundo – que ela não fazia ideia de onde viera – abriu a porta, e vendo a imagem que viu, quis morrer.

Sintomas de AmorWhere stories live. Discover now