Capítulo 2

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Despretensiosamente, pessoas surgem. Em um dia normal, fazendo coisas triviais, como se fosse um acaso, mas apenas como se fosse.

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Maria tentou evitar o contato visual com o homem que a segurara, mas foi impossível. Ao inclinar sua cabeça para cima, pôde vê-lo perfeitamente, mesmo com os olhos encharcados por lágrimas.

Odiava que a vissem naquele estado, mesmo um desconhecido. Quis sair dali o mais rápido possível, mas isso não aconteceria, já que estava com um dos saltos quebrado.

Poucos segundos se passaram desde o encontro inusitado e, vendo que ela não diria nada, o homem em questão encerrou o silêncio:

— A senhora está chorando? – sua pergunta foi meio boba, já que era mais que óbvio.

— Por que o espanto? Nunca viu uma mulher chorar? Ou melhor, nunca fez uma mulher chorar? – ela sorriu, mas seu sorriso era repleto de amargura. – Agora me solte, tenho que ir para casa.

Ele nem se moveu, continuou com os braços envoltos em seu corpo. Sua atitude só fazia a ira de Maria aumentar.

— A senhora quer que eu chame um táxi, ou ligue para alguém?

— Não se incomode. Meu carro está estacionado a poucos metros daqui, agora por favor, me solte – pediu, à beira da impaciência.

— Não vou deixar a senhora dirigir nesse estado – disse, convicto de suas palavras.

— Mas não estou pedindo sua permissão – riu, sem acreditar no que ouvia. – Agora, dá para me soltar?

Seu pedido soou como uma ordem, contudo ele permaneceu na mesma. Não demoraria muito, e ele se tornaria refém do diabo que surgiria de dentro dela.

— Olha, ali na frente tem uma lanchonete. Eu te levo lá e conversamos enquanto a senhora se acalma.

— Eu não vou te acompanhar a lugar algum. Agora me solte, senão vou gritar! – a cor do seu rosto mudava a cada segundo que ele seguia contrariando-a.

— Fique à vontade.

Ele deu de ombros, olhando-a despretensioso. Apesar de estar sentindo um ódio sem medidas do estranho, Maria não agia.

Em outros tempos, já teria se livrado dele, teria apenas se desculpado pela trombada e saído sem ter que apelar para a baixaria, mas não conseguia ser Maria, não conseguia tomar as rédeas e agir como bem quisesse. No fim, o estranho foi o vencedor.

— Ok, vamos a essa bendita lanchonete.

Um sorriso surgiu nos lábios dele, ainda que bem disfarçado.

Maria se sentiu uma completa idiota quando ele a soltou. Aquele maldito salto – metade de um salto, na verdade – a fez se sentir ainda pior. Como se não bastasse ter que seguir as ordens de um estranho metido a besta, ainda teria que caminhar como uma pessoa sem total controle sobre seu corpo. Mas essa vergonha ela não passaria.

Após dar dois passos com o sapato, decidiu que seria melhor seguir descalça. Ele até abriu a boca para se pronunciar, mas vendo a forma como ela o olhou, parou no mesmo instante.

Não demorou para chegarem na lanchonete, e para sorte de Maria, só havia um casal no recinto, além dos funcionários, assim seria motivo de chacota apenas para algumas poucas pessoas.

— Boa noite, meu jovem! – ele saudou com simpatia o garçom que se achegou a eles assim que entraram. – Vou querer uma água mineral.

— Com gás.

Sintomas de AmorWhere stories live. Discover now