Capítulo 40

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"O amor romântico é como um traje, que, como não é eterno, dura tanto quanto dura; e, em breve, sob a veste do ideal que formámos, que se esfacela, surge o corpo real da pessoa humana, em que o vestimos. O amor romântico, portanto, é um caminho de desilusão.”

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Adoção certamente era algo que não estava nos planos de Maria, tampouco nos de Estêvão, mas, a ideia que chegou de mansinho, logo tomou forma, e cada dia que passava ficava a um passo de se concretizar.

Porém não foi tão simples como imaginaram que seria.

Pouco mais de um mês depois que chegaram a um denominador comum, o casal ainda não tinha decidido qual criança levaria para casa, ou melhor, como Maria insistia em dizer “nenhuma criança os havia escolhido”.

Naquela tarde os dois saíram mais uma vez em suas buscas. Não queria uma criança perfeita, de beleza avassaladora ou com a educação tinindo, estavam à procura da peça que ainda faltava naquele quebra cabeça, alguém que tivesse vindo ao mundo para fazer parte daquela família.

— Será que agora vai? – Estêvão perguntou à esposa enquanto caminhavam pelo pátio do orfanato, observando tudo muito atentos.

Maria o fitou e riu. Sabia que ele estava tão ansioso quanto ela, e se fosse por ele, já tinham resolvido aquela pendência há algum tempo.

— Eu espero que sim, aliás, estou com bom pressentimento – apertou a mão dele, eufórica.

— Espero mesmo que esteja, meu amor, esse é o terceiro orfanato que visitamos e nada – comentou um tanto enfadado.

— Eu sei, querido – acariciou sua mão – mas tenho certeza que quando estivermos diante da criança certa, meu coração vai bater de forma diferente.

A forma como ela sorriu, convicta do que dizia, fez Estêvão se acalmar, pelo menos um pouco. Ele estava mais tenso do que suas ações podiam demonstrar.

— Senhor e senhora San Roman – uma funcionária os abordou no meio do pátio – a diretora irá recebê-los agora mesmo.

— Ah, ótimo! – o sorriso de Maria se alargou.

A inspetora seguiu em direção ao andar de cima, e deu a entender que eles deveriam segui-la; eles o fizeram.

Maria estava muito concentrada. Desde que chegaram naquele orfanato, sentira algo diferente, sentira que poderia ter uma surpresa agradável. Seus extintos estavam à flor da pele e ela sabia que não devia ignorá-los.

Estêvão também estava confiante. Não tinha um sexto sentido que lhe desse dicas, assim como com a esposa, mas tinha que confessar que o que vinha de Maria estava lhe contagiando.

Enquanto analisavam tudo que era colocado diante de seus olhos, seguiam de perto a inspetora, embora ela estivesse um pouco apressada demais.

A sala da diretora ficava no fim do longo corredor. Enquanto se mantinham no encalço da funcionária, Maria avistou algo que chamou sua atenção.

Além da diretoria, haviam outras salas ao longo do corredor e uma delas, um tanto pequena, estava com a porta aberta e lá dentro o que havia despertado a atenção de Maria.

— Um instante!

Ao som da voz dela, todos pararam, a inspetora que estava mais à frente, se assustou.

— Por que esse garotinho não está com as demais crianças brincando? – Maria destinou sua pergunta a mulher à sua frente.

— Ele está de castigo – explicou sem rodeios. – Aprontou uma e tivemos que repreendê-lo.

Sintomas de AmorWhere stories live. Discover now