Capítulo 31

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"Amar não é olhar um para o outro, é olhar juntos na mesma direção."

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Se Maria achava que a dor de não saber o paradeiro de Helena era grande, é por que ela não fazia ideia de como seu coração seria estraçalhado ao vê-la sendo levada por uma delegada como se fosse uma criminosa. Essa dor era infinitamente pior – e maior.

Por mais que, no dia anterior não fizesse a mínima ideia de onde ela se encontrava, testemunhar – e também ser a causadora – sua protegida ser confinada, provocava nela sentimentos os quais ela repelia.

No final das contas, as duas situações eram horríveis, cada qual a seu modo.

Na presença de Helena, Maria procurava ser forte, buscava mostrar a ela que tudo estava sob controle e que ela podia e deveria depositar sua confiança nela, mas foi só Helena sumir do seu campo de visão que Maria desabou.

Aquela força sumiu como num estalar de dedos, tão rápido como um piscar de olhos. Se Estêvão não estivesse do seu lado, suspeitava que podia ter sucumbido a tal ponto, que se esborracharia no chão.

Estêvão, que outrora era o porto seguro de Helena, se tornara o de Maria.

Acolheu-a nos braços e com todo o cuidado a levou até o carro. Lembrou-se de como ela havia ficado mal com a fuga, e agora a mesma cena se repetia.

— Você quer chorar, não é? – ele perguntou logo que entraram no carro.

Ela ficou imóvel, mantendo o olhar fixo à entrada da delegacia.

— Não tem problema chorar, Maria – segurou a mão dela como forma de consolo. – Às vezes é bom liberar o que está preso dentro de nós.

Por fim ela o olhou.

— Estou cansada de chorar, Estêvão – apesar da afirmação, em seus olhos haviam vestígios de lágrimas. – Eu não sou assim – baixou a cabeça, sentindo-se vencida.

— Ei! – segurou seu queixo, obrigando-a a o olhar. – Você continua sendo forte, só que ninguém é forte o tempo todo.

— Estou farta de nada dar certo na minha vida! – declarou em alta voz. – E ver Helena ali foi o estopim – terminou sua fala quase sem voz.

— Foi duro para mim também, está sendo – suspirou cansado – mas precisamos nos manter de pé, Geleia precisa de nós.

— Será que foi mesmo uma boa ideia deixarmos ela aqui? – ela quis saber com os olhos fitos à frente. – E se acontecer alguma coisa? E se ela fugir de novo e nunca mais a encontrarmos?

Foi inevitável. Uma lágrima solitária rolou pelo seu rosto e seu perdeu em sua roupa. A lágrima veio acompanhada por um soluço de dor.

— Não vai acontecer nada, Maria! – falou firme, repreendendo-a. – Não vai acontecer nada – dessa vez falou de forma dócil.

Instintivamente, ela acabou reclinando sua cabeça no ombro dele.

Estêvão tinha razão, ele sempre tinha. Não importava o que acontecesse em sua vida, se ele dizia que tudo acabaria bem, é porque acabaria mesmo. Sempre foi assim, e por que mudaria agora? Estava com medo, mas sua confiança nele era maior do que aquele sentimento tenebroso que pairava sobre ela.

— Posso te pedir uma coisa? – quebrou o breve silêncio que havia se instalado no carro.

— Hum?

— Se não dermos certo como casal, promete que vai continuar sendo meu amigo? – ela se afastou para o olhar de frente. – Promete que vai continuar na minha vida?

Sintomas de AmorWhere stories live. Discover now