Capítulo 23

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“O teu amor veio até meu coração e partiu feliz. Depois retornou, vestiu a veste do amor, mas, mais uma vez foi embora. Timidamente, lhe supliquei que ficasse comigo ao menos por alguns dias. Ele se sentou junto a mim e se esqueceu de partir.”

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Era certo que as batidas do coração de Maria não se encontravam serenas e estáveis, pelo contrário, com tudo o que vinha acontecendo, com todas as informações e peripécias, se seu corpo agisse de forma natural, se chamaria de louca, pois não seria possível se manter inerte diante das circunstâncias.

Mas o mais improvável viria a seguir.

Trouxera uma menina de rua para sua casa (de Estêvão, na verdade), mas nada de tirar o fôlego. Ouvira Estêvão declarar seu amor, e mais, fizera o mesmo, dissera com todas as letras (e diria em outros idiomas também se fosse necessário) que o amava, mas não achou nada de estranho ali. Contudo veio um pedido inesperado.

Maria sentiu um milhão de sensações diferentes quando ouviu aquela simples frase. Tão simples e tão bonita. Ela tinha muitos motivos para aceitar o pedido. Matematicamente falando, 99% de chance de terminarem aquela noite como um casal de namorados, porém aquele 1%...

Ela se levantou e se afastou. Do meio do quarto o olhou, os olhos dele brilhavam de expectativa. Algo dizia para Estêvão que aquela noite terminaria de forma perfeita, ela sabia disso, pena que ela mesma seria a bruxa má que acabaria com os planos dele.

— Estêvão... – um arremedo de sorriso se fez em seus lábios.

— Maria – com um sorriso convincente e apaixonado, ele se achegou a ela, acariciando seu rosto. – Meu amor, você não sabe quanto tempo eu esperei pra te chamar assim, meu amor – enfatizou, roubando-lhe um selinho. – E então, qual a sua resposta a minha pergunta?

O rosto de Estêvão assumiu um novo tom. Tinha ainda mais desejo, mais vontade, mais paixão. Estava convincente que os números estavam ao seu favor, mas a matemática às vezes poderia ser bem traiçoeira.

— Estêvão... – com a voz trêmula, ela lhe deu as costas, porém, alguns segundos depois, tornou a encará-lo. – Estêvão, eu te amo – sorriu ela, triste – e não é mérito meu. Eu te amo por sua causa – tocou o rosto dele. – Você me abraçou quando eu precisava, me puxou de volta quando estava prestes a cair de um precipício – uma pausa rápida. – Você me fez rir das suas bobeiras, como ninguém jamais fez...

Ela foi interrompida por uma doce risada que subiu por sua garganta. Estêvão também se rendeu aos risos.

— ...você apareceu na minha vida de mansinho, como quem não quer nada, mas não é por mero acaso que continua nela. Você sempre esteve do meu lado quando eu precisei, e eu nem sabia que precisava tanto de você. Estêvão San Roman – colou sua testa na dele, e sussurrou: – você foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida... – fechou os olhos com força, e uma lágrima acabou caindo.

— Mas...

Estêvão parecia entender que todo aquele discurso não era apenas por acaso.

Malditos sejam os números!

— Mas não posso fazer isso – se distanciou.

— C-como?! Como assim, Maria?

— Não posso, Estêvão! – falou um pouco mais alto, olhando-o ainda no meio do quarto. – Não posso fazer isso comigo, não posso fazer isso com você.

— Não estou te entendendo, Maria – encurtou o espaço entre eles, olhando-a nos olhos.

— Claro que está. Nos amamos, mas nunca vai dar certo, não adianta insistir.

Sintomas de AmorWhere stories live. Discover now