Capítulo 3

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Quando a pele arrepia, as pupilas dilatam e o coração acelera, já era.

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Maria desejou com todas as forças que o chão se abrisse sob seus pés e ela sumisse dali. Como isso era possível? O homem que, no dia anterior, havia visto-a vulnerável, frágil, estava a poucos metros de distância?

Jurava que ele nunca mais cruzaria seu caminho, por isso acabou aceitando sua ajuda, e como que, por ironia do destino, agora ele estava ali, bem na sua frente, com o ar mais arrogante – e lindo também, diga-se de passagem – deixando-a tonta.

E ele queria rir, ah, como queria. Aquela vontade crescia a cada segundo, mas se segurou, tendo em vista a forma como ela o fuzilava.

Terminou de entrar e fechou a porta atrás de si, com tamanha delicadeza, que parecia que aquele momento fora ensaiado. Seus olhares continuavam compenetrados, mas nenhuma palavra fora dita. Por parte de Maria, era porque um bolo se formara em sua garganta, e por parte de Estêvão, era simplesmente porque se divertia com toda a situação.

— Como o mundo é pequeno – de onde estava, ele começou – jamais poderia imaginar te encontrar aqui – seus lábios se esticaram para um sorriso. – Como está? Ontem você estava sem condições de...

— Shhh!

O interrompeu de maneira ríspida. Finalmente as palavras voltaram a se fazerem presentes.

— Não quero ouvir um pio sobre o que aconteceu ontem! – ordenou, com aspereza. – Agora vamos terminar com isso logo de uma vez – ela baixou o olhar, procurando os papeis que seu pai lhe dera para aquela entrevista. Nesse meio tempo, Estêvão se aproximou e se sentou à sua frente. – Estêvão San Roman – leu ela, e ao descobrir seu nome, sentiu algo estranho em seu interior – quais são suas experiências como engenheiro químico? – o encarou impassível.

— Maria...

Ele se inclinou de leve para frente, tentando ler seu crachá, mas percebendo sua intenção, Maria logo o virou, impossibilitando-o de saber seu nome completo.

— Tudo bem, pelo menos sei seu primeiro nome, Maria – falou-o como se recitasse um poema. Logo se recostou novamente na cadeira. – Fiquei preocupado com você depois que saiu da lanchonete.

— Quais são seus objetivos aqui dentro desta empresa? – continuou mesmo vendo que ele não estava muito interessado em suas palavras, pelo menos não naquelas.

— Você e seu marido conversaram? Se acertaram? – se inclinou para frente mais uma vez, apoiando o antebraço na mesa.

— Estou vendo aqui que suas formações acadêmicas são de dar inveja para qualquer currículo – ela chegou a sorrir, mas se conteve ao se lembrar que era ele quem estava à sua frente.

— Pelo visto você sabe muito bem separar o profissional do pessoal, nem parece a mulher que estava fora de si ontem à noite.

Maria estava se segurando, mas não deu. No momento que Estêvão terminou de falar, ela se levantou, sem esconder o quanto estava furiosa. Ele a seguiu com o olhar, até que ela parou no meio da sala. Ele sabia que não era certo, mas estava amando tudo aquilo.

— Já chega! – sua voz se elevou, mas não ao ponto de chamar atenção dos que não estavam na sala. – Se você não se importa com isso aqui, então está me fazendo perder tempo.

— Ei, calma, só estou preocupado com você – levantou os braços em sinal de rendição.

— Não preciso da sua preocupação, ok? Será que pode levar isso aqui a sério? Se não, se retire agora mesmo da minha sala – apontou para a saída, nem um pouco satisfeita.

Sintomas de AmorWhere stories live. Discover now