Capítulo 21

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"Às vezes somos tão orgulhos que deixamos de dar um passo para sermos felizes, por motivos menores que a felicidade."

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No segundo seguinte todos os olhos que estavam em cima da menina mudaram seu foco.

Maria jamais havia se sentido pequena quando era o centro das atenções, até aquele momento. Participara de reuniões em que palestrara com maestria e não se sentia intimidada pelos expectadores, mas naquele dia, naquele minuto, sentiu-se pequena.

Mas não dava para fugir, ou fingir que o que dissera tivesse saído por acaso. As palavras saíram de sua boca como enxurrada e agora teria de sustentá-las, e teria de fazer rápido, já que o pequeno público a encarava esperando por algo dela que não fosse um piscar ostensivo.

― O senhor não ouviu? – perguntou ela, a voz vacilante. – Solte minha filha agora! – aproximou-se deles em alguns passos.

― Sua filha? – o segurança gargalhou, olhando as duas de cima a baixo. – Tem certeza que essa pobre coitada é sua filha?

Maria bufou. Teria que ter muita paciência.

― Sim. Acha mesmo que eu diria se não fosse? – lançou-lhe um olhar indignado.

― Mesmo que essa fulaninha seja sua filha – conteve uma risada, ainda segurando o braço da menor – ela foi pega roubando! – sibilou.

― Ela não estava roubando – suspirou Maria. – Pedi a ela que pegasse meu celular que ficou no carro, ela deve ter esquecido de deixar o biscoito no cesto – sua voz se elevou, indicando que sua paciência não estava lá essas coisas.

De onde estava, Maria fitou a menina, torcendo para que ela não a desmentisse. Se o fizesse, seria a maior prejudicada, mas ainda assim, quem é que colocava a mão no fogo por pré-adolescentes?

Também pediu aos céus para que ninguém ligasse. Poderia inventar qualquer outra desculpa, mas cairia em descrédito com o segurança, que só esperava um deslize para arruinar com a vida da garota – que se via fazer um enorme esforço para não chorar.

― Mas não é a primeira vez que ela aparece aqui com essa intenção – a caixa se meteu na conversa, dando de ombros.

Infeliz! Maria quis gritar.

― Vamos, minha senhora – o vigilante continuou – por que não admite que a senhora não tem nada a ver com essa moleca? – a encarou com desdém. – A senhora é uma mulher muito elegante para ser mãe de uma malfeitora.

Malfeitora? Deus, estavam falando de uma adolescente ou de um assassino, um criminoso?

Mas à fala do funcionário, Maria pôde ouvir muitas pessoas concordando com o que ele acabara de falar.

― Ela está assim porque acabou de voltar do treino de... futebol – arriscou. – Não é, Gabi?

A menina, espertamente, concordou balançando a cabeça. Tentou mais uma vez se desvencilhar, e mais uma vez foi em vão.

― Por favor, seu guarda – Maria tentou agir educadamente, já que à força não estava tento bons resultados – sei que o senhor só está cumprindo seu trabalho. Libere minha filha e prometo que não a verá mais aqui. Aposto que você, e todos vocês – falou mais alto, olhando a pequena multidão – têm adolescentes em casa e sabem bem como eles são. Meu marido e eu teremos uma séria conversa com ela, e se não funcionar, permito o senhor de agir conforme o desejar.

Silêncio.

O semblante do segurança mudou. Era certo que ele queria encrencar a menina, mas diante das palavras de Maria, recuou.

Sintomas de AmorWhere stories live. Discover now