Capítulo 6

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Para florescer, é necessário podar os galhos. A dor é inevitável, mas a beleza do jardim interno também será!

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Desde que descobrira a infidelidade do marido, o que mais Maria ansiava é que o espaço entre os dois fosse o mais largo possível, mas diante do anúncio do pai não sentiu o que esperava.

Não havia ficado triste, era certo, mas... feliz? O máximo que conseguiu sentir foi um desconforto.

Vicente não recebeu uma resposta de imediato, e nem poderia exigir isso. Conhecia a filha e era capaz de ver as engrenagens na sua cabeça trabalhando como nunca.

Maria passou os dois minutos seguintes numa quietude angustiante, e pior, imóvel, inacessível. Inclinou sua cabeça no banco e fixou seus olhos numa sujeirinha minúscula no para-brisa do lado de fora.  Vendo que não era capaz de sustentar aquela situação por mais meio segundo que fosse, Vicente tornou a falar:

— Posso te fazer uma pergunta? – a fitou com ternura, quando parou no sinal vermelho.

Maria se assustou quando ele dissipou o silêncio. Não esperava que ele tornasse a falar tão logo, na verdade ela não sabia quanto tempo havia passado desde que ele a deixou em estado de choque.

— Outra o senhor quer dizer, não é? – comentou, tentando amenizar o clima.

— Você quer mesmo se separar de Luciano?

— Ora, pai, que pergunta! – endireitou sua postura, incomodada. – Claro que quero e vou, ele me traiu!

— Você não reagiu bem quando disse que o transferi. Pensei que ficaria feliz.

O senhor tornou a colocar o carro em movimento quando o sinal abriu. Chegou a pensar que Maria enterraria o assunto quando notou que ela se calou, mas antes de concretizar seus pensamentos, ela falou:

— Eu deveria estar mesmo feliz, mas...  sei lá – deu de ombros.

— Não se sinta mal – ele tocou sua mão rapidamente, com um sorriso acolhedor. – Você não está sentindo nada de mais. Ele foi seu marido por muitos anos, é normal que se sinta estranha. Está certa que quer se separar? Se achar que ele merece uma chance, não se envergonhe.

— Não, ele não merece nem uma chance – disse com amargura. – Ele sabia muito bem meu pensamento sobre traição, sabia que eu não o perdoaria, e mesmo assim quis colocar outra no nosso meio. Vai doer sim, mas vai ser melhor.

Sua última frase foi mais para si mesmo do que para o pai.

Mais uma vez ela se calou. O pai não sentiu necessidade de manter uma conversa viva, não queria pressioná-la, então decidiu dar a ela o tempo que precisasse.

Assim eles seguiram o restante da viagem até em casa. O silêncio não parecia um intruso dentro do veículo, mas viera bem a calhar. Pai e filha sabiam que às vezes era necessário se calar para ouvir a voz que vinha do interior. Ela sempre era mais sábia.

— Está certa disso? – perguntou, quando por fim entraram na garagem da casa.

— Sim – respondeu convicta. – Isso vai ser como quando eu caía de bicicleta: doía à beça, mas no fim só as cicatrizes ficavam, porque a dor o tempo levava. Vai ser melhor assim.

Ela sorriu, e o pai retribuiu da mesma forma. Não esperava nada diferente vindo dela.

...

Uma noite de sono tranquila foi o suficiente para colocar as ideias em ordem.

Sintomas de AmorWhere stories live. Discover now