“É hora de seguir em frente, colocar no bolso os planos quebrados, as promessas furadas, o coração partido, e estampar no rosto um falso sorriso de que tudo ficará bem."
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Havia valido a pena.
Não queria ter de volta todos os sentimentos das últimas horas, os queria bem longe dela, mas tinha que admitir que havia valido a pena.
Quando viu Helena passando pela porta, todas as sensações negativas se dissiparam, sumiram como num passe de mágica, dando lugar a emoções que ela buscava todos os dias. Conforto, refrigério, era um verdadeiro bálsamo poder abraçar aquela garota problema de novo.
— Você quer me enlouquecer, menina? – sua bronca não era bem uma bronca.
— Senti saudades da senhora, tia – um meio sorriso curvou seus lábios. – Mesmo sabendo que sou um peso – ela baixou sua cabeça, entristecida.
Maria encarou Estêvão encrespando o cenho.
— Você não contou a ela o que houve?
— Não – respondeu ele simplesmente. – Deixei para você esclarecer.
Maria pegou Helena pela mão, que não mostrou resistência, e caminhou até sua mesa, onde se recostou. A menina a olhava de frente, atenta a ela.
— Eu não falava de você.
— Como não? – recolheu sua mão e colou junto ao corpo. – Você coloca uma garota de rua dentro de casa, e na outra semana diz que não quer que ninguém seja um peso na sua vida, se não era de mim que falava, então era de quem? – a colocou contra parede, cheia de pose.
Maria riu de sua valentia. Estêvão, que as observava à distância, também riu.
Ela respirou fundo antes de iniciar sua defesa.
— Estêvão quer que tenhamos um filho juntos, só que eu não quero ter filhos. Quando disse que não queria ser um peso na vida de ninguém e não queria que ninguém fosse um peso na minha vida, me referi a isso – explicou com calma. – Não era de você que eu falava, bobinha, você nunca foi e nunca será um peso para mim.
O semblante de Helena mudou imediatamente.
— Está falando sério?
Maria riu.
— Claro que estou. Eu quis te levar para casa, e se achasse que era um peso na minha vida diria a você, não jogaria palavras no ar.
Os olhos da mais nova começaram a marejar.
— Me desculpa, tia. É que eu pensei...
— Eu sei o que você pensou – encurtou o espaço entre elas acarinhando seu rosto. – Mas agora está tudo bem, porque botamos tudo às claras.
Mais uma vez elas se abraçaram. Faltou pouco para que Estêvão se juntasse a elas, mas se conteve.
— Agora, senhorita, – Maria voltou a falar depois do abraço – antes de sair por aí fugindo e matando os outros de preocupação, vê se se informa direito, ok? – deu um cutuque no seu nariz.
Os três riram.
— Bom, – Estêvão se aproximou um pouco sério demais – agora que está tudo esclarecido, temos um assunto para resolver.
— Assunto? – um vinco se fez entre as sobrancelhas de Maria.
— É – ele tocou o ombro da menina. – Temos que colocar a vida dessa trombadinha aqui no eixo.
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Sintomas de Amor
RomanceMaria levava a vida no modo automático, e isso não parecia incomodá-la, e por que incomodaria, já que vivia, a seu modo, um conto de fadas? Porém seu "felizes para sempre" chega ao fim. Num minuto Maria tem a vida perfeita, e no outro vê seu casame...