Capítulo 7

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Entendi que não precisava provar outros beijos, quando o seu é capaz de me tirar o chão, o fôlego e aquecer meu coração.

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Maria se virou e seguiu para dentro da casa. Não olhou para trás, mas sabia que Estêvão permanecia ali, olhando-a com aquele sorriso que tanto mexia com ela. Não chegou a tal conclusão por não ouvir o barulho do carro, mas porque no seu íntimo sabia que isso era bem do feitio dele, mesmo não o conhecendo ainda.

Apesar dos acontecimentos recentes, entrara em casa sendo possuída por tamanha leveza que nem ela mesmo entendia. Era para estar triste, com uma única vontade de se enfiar no quarto e não sair tão cedo, mas sentimentos opostos eram mais fortes dentro dela. No fim, se sentiu grata por isso.

Logo que chegou à sala, viu a madrasta compenetrada em uma leitura. Quis passar direto para não incomodá-la, mas não foi possível, já que, assim que viu um minúsculo vestígio seu, Sabrina a convocou, e ela sábia, obedeceu.

— O que faz em casa a essa hora? – perguntou, repousando o livro que lia do seu lado no sofá e tirando os óculos de grau.

Maria se acomodou logo à frente. Tentou parecer o mais natural possível, não queria que Sabrina se preocupasse com seu rosto inchado combinando com os olhos vermelhos. Mas foi em vão.

— Andou chorando, Maria? – ela se achegou um pouco para frente, a fim de captar algo na face da enteada.

— Estive há poucos minutos no cemitério – sua voz era calma, e não havia muito vestígio de tristeza, não tanto como há algumas horas. – Fui visitar o túmulo da minha mãe.

— Maria... – ela contraiu os lábios. – Como você está?

— Bem, de verdade – sorriu, a fim de convencer a madrasta.

— E cadê seu pai? – varreu o cômodo com o olhar. – Ele voltou para a empresa?

— Meu pai não foi comigo.

— Maria... – sua voz saiu num tom de repreensão. – Você sabe muito bem que seu pai não gosta que vá ao cemitério sozinha, você sempre fica muito abalada.

— Mas não fui sozinha, Sabrina.

Maria sorriu, se divertindo com a confusão que se formou na face da mais velha.

— Como assim? A única pessoa que você permite que te acompanhe é seu pai.

— Fui com um colega do trabalho.

Ela explicou de forma natural, mas certamente a madrasta não recebeu a informação da mesma maneira.

— Colega, é? – lançou a ela um sorriso dissimulado e um olhar repleto de malícia.

— É, Sabrina, co-le-ga! – silabou com bastante firmeza.

— Bom – pigarreou, ajeitou sua postura no sofá e cruzou as pernas – ninguém nunca a acompanhou num momento tão íntimo, nem mesmo eu ou sua irmã, então tem certeza que é apenas um co-le-ga? – imitou-a.

— Ab-so-lu-ta – silabou de novo, dessa vez com o deboche sobrando na voz. – Agora vou subir e evitar que você crie coisas nessa cabeça de vento – brincou, logo em seguida pegou sua bolsa e se pôs de pé. – Lisa está em casa? – perguntou antes de se retirar do cômodo.

— Sim, chegou agora há pouco. Ela está muito feliz – dizia num sorriso exultante. – Foi convidada para ser garota propaganda de uma loja de roupas.

— Ah, que ótimo! Vou felicitá-la.

...

Naquela noite Estêvão desmarcou uma saída com Alex, alegando que não se sentia bem. O amigo de pronto se preocupou, mas ele afirmou que era só um mal estar e logo passaria, então Alex o deixou em paz.

Sintomas de AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora