CAPÍTULO 17.5

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As pessoas apaixonadas,
em geral,
se tornam impacientes, perigosas.
Perdem o senso de perspectiva.
Perdem o senso de humor.
Ficam nervosas, tornam-se chatas, psicóticas.
Podem virar assassinas.
~Charles Bukowski

**AMBER**

Acordei aos poucos com o carinho dos dedos que passeavam lentamente pelas ondulações da minha cintura.

Eu podia estar com o rosto virado para parede, mas sabia que aquele carinho vinha de Grayson.Seus dedos passavam lentamente por todo o comprimento da minha cintura, tudo com muito cuidado. Seus toques, logo foram passados para os meus braços, e seus dedos percorriam do meu ombro até minha mão.

Eu poderia aproveitar mais daquilo se os dedos de Grayson não tivessem parado exatamente no lugar onde uma das minhas inúmeras cicatrizes estavam.

Isso trouxe átona na minha memória que eu estava vestindo uma regata, e que durante o sono, dei pleno acesso a visão de Grayson às minhas costas.

Seus dedos passaram com sutileza por toda a extensão da cicatriz, que me causaram altos arrepios e me fizeram virar e encará-lo.

O maldito parecia ainda mais bonito pela manhã. Os cabelos loiros sempre tão bem penteados, agora estavam rebeldes e alguns fios se espalhavam no seu rosto, mas ainda assim, não deixam de ser bonitos.

Já sua cara por outro lado, parecia muito mais pálida agora, principalmente pelo realce que as olheiras escuras embaixo dos olhos ofereciam. Os olhos. Agora em um tom de azul tão vivido quanto as ondas do mar.

O garoto não esboçou reação quando eu me virei para encará-lo. Ele não agia como se tivesse acabado de ser pego no flagra, mesmo que seja isso que tenha acontecido.

Seu braço se repulsou na minha cintura e seus olhos me examinaram com clareia, como se eu ainda estivesse com os olhos fechados, como se ele não se importasse com a nossa proximidade.

- Está melhor? - sua voz, tão rouca, soou segundos depois.
Eu lhe dei um esboço de um sorriso para ele e assenti.
- Obrigada por ontem. - eu disse trazendo minha mão para perto do meu peito, buscando algum conforto, mas acontece que nós estávamos tão próximos na cama que minha mão tocou em parte meu peito e em parte o peito dele.

Se alguém me dissesse a meses atrás, que um dia eu dividiria a mesma cama que Grayson, que um dia ele seria meu único conforto, e que nenhum de nós estaria se atacando pela manhã depois de dormir uma noite inteira juntos.... Bom, eu teria mandado essa pessoa para o hospício.

- Você me ajudou com o lance da minha irmã. - ele tirou alguns fios de cabelo meu do meu rosto - Agora estamos quites, amor.

Ele me ofereceu um sorriso pequeno e singelo. Quase um fantasma. Mas me ofereceu.

E olhando Grayson assim, pensando que a alguns meses atrás eu não suportava a ideia de ficar a dois metros dele e da sua arrogância, chega ser um absurdo.

Sua mão tornou a minha cintura, e ele deu um aperto forte na região, o que me pegou muito de surpresa, e depois deslizou a mesma para minhas costas, nas minhas cicatrizes, fazendo seu dedo correr por elas com suavidade.

- Você tem uma verdadeira obra de artes nas costas, querida.

Ele falou em um tom tão tranquilo e sereno. Foi como se realmente elogiasse a beleza escondida dentre as linhas da cicatrizes.

Mas tenho certeza de que algo apareceu nos meus olhos quando ele pronunciou aquelas palavras. Algo que o fez recuar de certo modo.

Minhas cicatrizes não eram um segredo. As pessoas sabiam que elas existiam, ou quase.

Acontece que antes da gangue chegar, até mesmo antes de Jesus chegar, eu era muito fechada. Eu moldava minha máscara para permanecer 24h coladas no meu rosto.

Então eu nunca deixei brechas para qualquer tipo de perguntas sobre mim. E as minhas cicatrizes sempre geraram muitas perguntas. Por isso, eu comecei a escondê-las. Não, escondê-las não, mas comecei a mostrá-las somente nos banheiros femininos daqui.

Assim apenas a parte feminina do reformatório tinha certeza sobre os aspectos delas.

- Você diz, como se não soubesse sobre as minhas cicatrizes antes. - falei abaixando o olhar para meu dedo que passava suavemente por seu peito.

Eu não estava realmente perguntando algo a ele, mas eu sabia que Grayson entenderia o tom de minhas palavras.

- A não se engane, Amber. Eu já lhe disse, eu sei tudo a seu respeito. - ele soou confiante - Eu só não esperava que os boatos fossem tão verdadeiros.

Encarei Grayson novamente. Eu odeio esse tipo de conversa. Quando os dois lados ficam pisando em ovos, como se sentissem a pressão de falar uma palavra errada e destruir todo aquele papo.

Os Segredos de Amber Lewis - 1ºLivroWhere stories live. Discover now