CAPÍTULO 10.5

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A nossa maior glória não reside no fato de nunca cairmos,
mas sim em levantarmo-nos sempre depois de cada queda
~Oliver Goldsmith

**AMBER**

Passei silenciosamente pela porta do telhado, encarando a silhueta larga dos ombros de Jonas sentada na borda do parapeito.

Jesus e Micaela procuraram por ele a amanhã toda, mas eu sabia, sabia que é aqui que ele estaria.

A primeira vista ele está sentado de modo esponjoso no parapeito de cimento, provavelmente com um dos cigarros de Jesus na mã, encarando o sol surgir entre as árvores mais à frente, mas eu posso imaginar que tipos de pensamentos estão se passando na sua cabeça.

Tentei me aproximar dele por aquele chão cheios de pequenas pedrinhas o máximo que pude.

- Você não vai tentar pular de novo, não é? - perguntei me aproximando sorrateiramente dele.

O garoto suspirou ainda encarando as árvores.

- Não, acho que vou almoçar primeiro. Morrer de estômago vazio parece um porre. - respondeu ele, soltando a fumaça para cima, começando a balançar os pés suspensos no ar. - Sabe, é falta de educação se aproximar das pessoas assim, sorrateiramente.

Finalmente o Jonas virou o rosto para mim, com um semblante muito pacífico apesar farpa lançada em suas palavras. E eu me mantive calma apesar da vontade de arrancá-lo de lá a força.

- Não, falta de educação é você ficar arriscando sua vida assim depois de todo esforço que eu tive para salvá-la.

Ele sabe que é verdade, toda a atenção e cuidado que eu tive em cuidar de todos os machucados que ele e Jesus tiveram, indiferente deles merecerem ou não aqueles machucados, foi um esforço grande, mas não de toda a verdade.

A verdade é que me apeguei a Jonas e Micaela o suficiente para me preocupar com as tendências suicidas de Jonas e o modo silêncio de Micaela.

- Eu fui criado em um lixão, educação não é meu forte. - retrucou dando outra tragada.

Arranquei o cigarro de seus dedos e apaguei a bituca no parapeito no telhado.

- Eu fui criada em um trailer abandonado e nem por isso eu ainda rosno para as pessoas igual a um animal quando me sinto ameaçada. - indaguei ficando de pé ao seu lado.

- Você rosnava para as pessoas? - ele pergunta virando sua cabeça até enxergar meus olhos, com um tom de graça na voz. Graça essa que logo é cortada pelo olhar mortal que lhe dou - Uma pena você não fazer mais isso, aposto que seria uma vista e tanto. - ele respondeu retirando outro cigarro do bolso e o acendendo enquanto voltava a encarar a vista na nossa.

Eu sabia que se dependesse de Jonas poderíamos papear o dia inteiro nesse telhado e evitarmos o que há em questão. O porquê dele estar aqui sentado aqui, no parapeito. Jonas é quase um mestre em manipular palavras e conversas ao seu querer.

- Eu vou querer saber o porquê de você estar aqui? - perguntei de uma vez o que se passava na minha cabeça desde que entrei pela porta do telhado. Me sentei cuidadosamente ao lado de Jonas no parapeito.

- Sabia que você fala dormindo? - ele desvia de minha pergunta, com outra bem interessante.

- Eu não falo dormindo. – respondo rápido, orgulha internamente por não vacilar em nenhum momento.

- Tem razão, você grita. Incrivelmente alto. Não sei como nunca percebi antes. - seu tom era extremamente ácido quando seus olhos encontraram o meu.

Os Segredos de Amber Lewis - 1ºLivroOnde histórias criam vida. Descubra agora