PRÓLOGO

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Capitulo revisado [✔️]

1 ano e 8 meses antes....

Mesmo estando abraçada aos meus joelhos no chão frio e empoeirado do meu quarto, eu ainda tremia.

Meu quarto, chega a ser até irônico chamar esse cubículo, de cinco metros quadrados, de quarto.

As únicas coisas que existem aqui são quatro paredes cinzas de concreto espesso, de pelo menos 30 centímetros de largura. Uma dessas paredes tem uma pequena janela com grades de ferro tão grandes que minha própria mão não consegue contornar. Tudo isso para conter as pessoas que eles julgam perigosas.

Não há nada de aconchegante aqui, não há uma boa iluminação e tirando as horas próximas do almoço, o quarto fica frio e úmido de maneira assustadora.

Mas pelo menos ali, agachada naquele canto escuro e empoeirado, encolhida ao redor do próprio corpo, numa tentativa falha e desesperada de manter algum resquício sequer de calor em mim, eu conseguia ficar ao lado da janela, que apesar de ser repleta grades incrivelmente grossas, ainda me proporcionavam uma distração da tremedeira interna que sinto todos os dias.

Posso agradecer a maravilhosa climatização do cômodo as incríveis camadas de concreto revestidos nas paredes, que tem o incrível dom de deixar a temperatura do lugar muito mais fria do que a lado de fora.

Mesmo usando o fino pedaço de pano que as pessoas desse lugar chamam de coberta - mesmo não passando de apenas velhos de panos remendados - o tremor dos meus ossos ainda persiste.

E mesmo que o mais sensato seja eu ficar na cama enrolada naquela coberta velha de panos remendados, aqui, agachada no canto escuro do chão eu ainda tinha a deslumbrante vista do mundo lá fora, e a singela lembrança de como era viver nele.

Uma lembrança constante de um mundo o qual eu não faço mais parte, a constante visão de algo que não posso mais ter.

Cheguei a perder as contas das vezes, que a vista dessa pequena e mal construída janela, e o que ela representava, conseguiram me fazer continuar nesse inferno que se tornou minha vida.

Além disso, no quarto há duas camas e alguns colchonetes amontoados em um canto, para caso haja lotação.

O que, pelo menos aqui, nunca aconteceu, já eu sempre estive sozinha. Essa é única diferença deste quarto para os demais - que sempre são lotados de pessoas - e eu particularmente nunca me importei com isso.

A verdade é que as outras pessoas desse lugar - os detentos - tem medo de mim. E os guardas não forçam ninguém a ficar comigo, com medo do que eu possa fazer com eles.

Eu não os culpo por me temerem, nenhum deles.

Essa foi a máscara que eu escolhi para poder sobreviver aqui e realmente não me importo com a solidão. A paz e o silêncio dentro deste quarto são únicos comparado com o que há do lado de fora daquela porta.

Volto a prestar atenção na janela ao meu lado, meu único entretenimento do dia.

Até mesmo barras de ferro alaranjadas passaram a agregar um toque especial a paisagem, olhada do meu ponto de vista, mas tirando esse pequeno detalhe tudo parecia muito normal, normal até demais...

Foi quando de repente vi o vislumbre. Um ônibus bege passando pelas dúzias de portões com cercas elétricas e arames farpados que separam do mundo lá fora de mim. O ônibus bege com uma alguma coisa escrito na lateral começou a se aproximar mais da entrada do edifício.

Saint Monica Regional Youth Reformatory. (Reformatório regional juvenil Santa Monica)

Era que estava escrito em negrito e em letras bem grandes nas laterais do ônibus.

Os Segredos de Amber Lewis - 1ºLivroWhere stories live. Discover now