CAPÍTULO 13

382 35 93
                                    

Tudo o que era mau atraía-me: gostava de beber, era preguiçoso, não defendia nenhum deus, nenhuma opinião política, nenhuma ideia, nenhum ideal. Eu estava instalado no vazio, na inexistência, e aceitava isso. Tudo isso fazia de mim uma pessoa desinteressante. Mas eu não queria ser interessante, era muito difícil.
~Charles Bukowski

**AMBER**

Estou exausta.

Esse é o primeiro pensamento que tenho quando me levanto zonza do sofá da casa do meu tio.

Lá fora já parecia ser de manhã. Tenho a confirmação disso quando olho o relógio da sala e o vejo marcando 6h30 da manhã, ou seja, logo eu teria que levantar do sofá ir ao colégio.

Minha cabeça ainda doía um pouco, mas eu lembrava de como vim parar aqui, bom... Não exatamente tudo, nas tenho uma boa ideia de como as coisas aconteceram depois que eu apaguei no banco de trás do carro ontem. E sabendo que eu estou na casa do meu tio, imagino que os meninos devem ter contado alguma coisa sobre minha mãe para ele.

Isso explicaria a presença pesada que senti atrás de mim. Eu sabia quem era aquela presença.

- Estou de castigo, eu presumo. - eu indaguei me sentando no sofá alongando levemente minhas costas antes de olhar para trás e encarar meu tio.

Ele está encostado no batente da entrada da sala. As mangas da sua camisa estão arregaladas até os seus antebraços. Ele matem os braços fortemente cruzados no peito e sua cara não está nem um pouco amigável.

- Não tenha dúvidas disso. - ele disse com um tom amargurado na voz enquanto se sentava na poltrona na minha frente - Chega de segredos Amber, está na hora de você me contar toda a verdade, de uma vez por todas.

Eu recuei negando com a cabeça.

Eu, de forma alguma, posso contar a verdade a meu tio. Isso passou um motivo segurança ou preservação.

É que depois do ocorrido com minha mãe, só de pensar nas coisas que ela me disse, eu não consigo. Eu só não posso ver aquele mesmo olhar no rosto do meu tio.

O único parente que eu tenho dessa família deturpada que me trata com dignidade, o único que respeita meu espaço, meu silêncio e minha palavra.

Não posso contar a verdade a ele, porque quando eu fizer isso, tenho medo de que tudo entre nós esteja acabado. Tenho medo de que ele me ache uma louca, uma maluca. Meu tio sabe das acusações que eu sofri para chegar no St. Monica, mas ele nunca acreditou nelas, o que é bom porque nenhuma delas eram verdadeiras. Mas, se eu o contasse sobre o que eu fiz durante meu tempo no St. Monica, as brigas, os machucados, as mortes, La reina... Bom, eu não quero testar a teoria para saber a verdade.

- Eu dispenso. - eu me levantei começando a tomar rumo ao andar de cima. Mas meu tio se levantou também em protesto, o que me impediu de continuar.

- Só lamento, docinho - ele debochou cruzando os braços novamente - Não estou te dando opções no momento, estou pedindo pela verdade, como seu tio. Toda a verdade, Amber. A verdade sobre sua mãe, sobre o reformatório, e a verdade sobre o...

- Não se atreva a dizer o nome dele! - eu protesto sabendo que o nome do meu padrasto seria próximo a sair de sua boca. Me levanto e vou para trás do sofá, abraçando meu próprio corpo, e segurando minhas lágrimas com afinco.

Se eu ainda não tinha desabado pelo peso das palavras proferidas pela minha mãe, com certeza ouvir o nome daquele monstro imundo me faria fazê-lo.

- Eu não posso te contar a verdade, tio. - argumentei ainda de costas para ele. Eu estava evitando olhá-lo, para que ele não visse meus olhos lacrimejando.

Os Segredos de Amber Lewis - 1ºLivroWo Geschichten leben. Entdecke jetzt