CAPÍTULO 7

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Tão estranho carregar uma vida inteira no corpo
e ninguém suspeitar dos traumas, quedas, medos, choros.
~ Caio Fernando Abreu/ O pensador

**AMBER**

Já era quase de noite, e tudo o que eu quero agora é chegar em casa, já tive surpresas demais por um dia.

Ainda me belisco toda vez que me lembro do momento que revi Jonas e Micaela no refeitório, ainda parece um sonho. Um sonho que tive que deixar para se concretizar no dia seguinte. Tive que me despedi da gangue assim que o horário das aulas acabou, eu não queria me desgrudar deles, é claro, pelo menos, não pelos próximos anos.

Eu tinha um compromisso muito importante pela tarde, tinha que ver minha mãe, e por mais que eu quisesse eu não podia adiá-lo, não de novo. Tento passar uma tarde inteira com ela, uma vez por semana, assim eu me sinto menos culpada por visitá-la por alguns minutos entre as 5h e 7h da manhã, isso quando eu não acordo atrasada e acabo não conseguindo vê-la.

De qualquer forma, hoje meu dia foi, mas puxado que o normal, é reconfortante saber que logo estarei em casa. Mas mesmo em casa, eu ainda tinha um assunto inacabado para cuidar. Tinha que me desculpar com meu tio. Nem sei por onde começar essas conversa. Mas sei como tinha que fazer para iniciá-la. Preciso passar pela porta de casa.

Abri a porta e entrei rapidamente, retirando minha bolsa dos ombros e a colocando pendurada nos ganchos perto da porta. Tive uma surpresa ao passar pela porta da sala e encontrar meu tio Kendrick sentado no sofá.

Isso é estranho, normalmente ele só chega mais tarde, por causa de toda papelada do trabalho que ele sempre deixa para resolver a noite. Ele estar aqui mais cedo essa noite só mostra o quanto precisamos ter essa conversa.

- Drick - disse entrando na sala chamando sua atenção - Pensei que chegaria mais tarde hoje, se você me der meia hora eu acho que consigo algo para o jantar. - cruzei meus braços trocando os pesos sobre as pernas.

Hoje é o meu dia de fazer o jantar.

- Não se preocupe, eu pedi comida para nós. - ele jogou o celular no outro assento do sofá e me encarou.

Por mais que esse olhar de "precisamos conversar" me deixe muito nervosa, me senti aliviada por não ter que fazer o jantar

- Graças a deus - disse me jogando de modo desajeitado ao seu lado no sofá.

- Achei que você não era religiosa. - Drick argumentou ironicamente com suas sobrancelhas levantadas. Bom, ele está com senso de humor hoje.

- Não sou, mas sou uma pessoa cansada - eu virei minha cabeça para encará-lo e abri um sorriso zombeiro - Você não vai acreditar com quem eu encontrei hoje.

Não gosto do que estou fazendo. Não gosto de adiar essa conversa com meu tio, mas esse foi um dia ruim, talvez mais alguns minutos de conversa simpática façam eu me sentir melhor.

- Você vai me fazer perguntar ou vai me contar logo? - perguntou se arrumando no sofá. O que me fez rir.

Parece que fugir de assuntos sérios é um dom de família ou talvez nós dois já estamos esgotados desse assunto.

Encarei novamente Kendrick, seus olhos exalavam expectativa, interesse no que eu estava prestes a dizer.

Às vezes me esquecia que Kendrick era irmão de minha mãe e não meu, porque apesar da diferença de idade e de o chamar de tio as vezes, sempre o vi assim, como um irmão mais velho.

- Jesus, Jonas e Micaela. - eu comento, observando o espanto se espalhar pelo seu rosto.

Eu posso não ter contado tudo ao meu tio sobre St. Monica, mas eu contei sobre Jesus, Micaela e Jonas. Ele mesmo já o viu várias vezes em algumas visitas coletivas no St. Monica e depois que todos foram soltos.

Os Segredos de Amber Lewis - 1ºLivroWhere stories live. Discover now