CAPÍTULO 19.5

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"A suprema arte da guerra é derrotar o inimigo sem lutar".
~ Sun Tzu

**AMBER**

Estava chegando. Faltava pouco. Em menos de cinco dias para o confronto entre eu e o ruivo da gangue de Marcus.

Estou ao limite, não vou negar. Todos podem ver isso, principalmente minha gangue.

Agora eles tinham tatuagens. Cada um escolheu um número diferente, assim como eu. Os meninos me disseram que queriam que todos nós tatuassemos números que significavam algo importante para nos. Mas eu sabia que era mentira.

Sei que eles escolheram os números das idades que gostariam de chegar, sei que fizeram isso porque acham que vão morrer aqui. Micaela me disse isso.

Eu não os culpo, mas me destrói por dentro saber a que nível chegamos. Apenas estamos aceitando o que vai vir. Vamos lutar com unhas e dentes, mas sabemos qual pode ser a realidade.

Micaela praticamente jogou todas as suas facas e os meus papéis, das plantas de todo reformatório, para longe de mim. E me arrastou para uma das beliches dizendo que eu precisava relaxar.

Os meninos estavam aqui também, quietos jogando cartas, mas estavam aqui.

Jesus repuxava a boca, do jeito que faz quando tem uma sequência de cartas ruins, os lábios de Jonas estão comprimidos, porque ele sabe disso também, mas está claramente tentando deixar Jesus ganhar.

Mica, sentada na sua beliche alta, arrumava seus cabelos com os dedos das mãos, os desembaraçando com calma.

Tudo parecia um caos a nossa volta, mas agora, aqui, tudo parecia igual. Isso me trazia calma.

Tê-los aqui me trazia calma.

- Você precisa relaxar. - Micaela disse descendo da cama.

Ela passou a mão pelas minhas costas tentando remover a tensão. Reparei o terço em uma de suas mãos.

Micaela pode não aparentar, mas é bem religiosa, e deixa esse fato estritamente particular. Em todo nosso tempo juntas, a peguei orando algumas poucas vezes, e na maioria delas, eu não entendi nada, principalmente porque ela costuma rezar em espanhol.

- Atrapalhei sua oração? - questionei encarando o balanço do terço em sua mão.

Sempre houve um embate em mim quanto a religião. Mas admito, virei uma cética ao longo dos anos. Seria impossível não virar, afinal, como acreditar que alguém permitiria o que meu padrasto fez, que permitiria o que as coisas de ruim que aconteceram com Jonas, Micaela e Jesus.

Era algo inevitável de acontecer.

- Não, eu já tinha acabado. - ela sorriu delicadamente.

- E pelo que rezou?

- Por nós. - ela respondeu passando as unhas dos dedos pelas bolinhas do terço - Para sairmos inteiros dessa.

Eu sabia a chance disso acontecer, e as vezes, gostaria de sonhar igual a Micaela e poder fingir que as chances estavam ao nosso favor.

- Você sabe que "inteiros" é um substantivo muito vago. - comentei. Não é minha intenção minar as esperanças dela, mas alguém tinha que dizer algo.

- Eu discordo.

Eu não queria proferir as minhas próximas palavras porque isso significava que elas poderiam ser reais, mas mesmo assim, eu o fiz.

- Podemos sair inteiras, mas isso não significa que vamos continuar as mesmas.

Mica fungou. Pegou meus braços e passou as mãos por eles, em forma de carinho.

Os Segredos de Amber Lewis - 1ºLivroWhere stories live. Discover now