capítulo 14

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Depois de uma hora, consigo apagar todos os números desconhecidos que me mandavam mensagens. Consegui bloquear metade, o resto, eu simplesmente deletei.

Agora resta fingir que o dia de ontem não existiu. E com o passar dos dias, deixar isso ir embora naturalmente.

Meu olhar cai sobre a estante de livros. Está uma bagunça. Talvez eu devesse arrumar. Com a ajuda de produtos de limpeza, tiro toda a poeira. Penso em como meu sábado está tedioso. O que será que Brandon está fazendo agora? Será que está na festa de hoje? Só agora me toco que depois de ontem, nós nunca mais nos vimos.

Será se ao menos conseguiu fazer amigos? Logo a voz da minha cabeça responde que ninguém que discorda de Thomas pode fazer amigos por aqui.
Mas depois me lembro que ele também é irmão de Brian. Com certeza o que ele disse na sala ontem foi "apagado" por todos, graças a isso.

Brian é tão influente quanto o Collin. É, ele também manda e desmanda por aqui.

Separo os livros de apenas uma sequência por cores. Os livros de sagas na parte do meio e os boxes na parte de baixo. A visão é satisfatória. Satisfatoriamente limpa. Resta alguns espaços vazios. Isso significa que tenho que comprar mais livros. Poderia ser triste, se eu não estivesse feliz por saber disso.

São apenas vinte e duas horas da noite. Ainda falta muito para chegar às uma. Passei o resto do dia pedrada. Me perguntando se ao menos podia tentar levantar da cama. Mas não há mudança. Continuo aqui, presa em meu quarto. Porque nem sequer tenho coragem para sair lá fora. Não há dúvidas, sou uma covarde.

Posso sentir o sentimento de solidão familiar se instalando aos poucos. Me deito na cama de novo. Tenho que lembrar a mim mesma que só faltam algumas horas. Daqui a pouco vou poder correr desse quarto, que no momento, me parece uma espécie de prisão.

Pego meu caderno de exercícios. Ele está vazio. Thomas roubou o meu, então tive que providenciar um novo. Respondo alguns dos exercícios. Ao decorrer, vou fazendo desenhos de estrelas. Essa é a minha marca registrada.

O telefone vibra. Por um momento imagino que seja mais algumas mensagens, mas percebo que é uma ligação. Olho para o celular. É Hilary.

Por que ela está me ligando? Hilary nunca liga. Ela prefere enviar mensagens de texto. Atendo, e então ouço o som alto no fundo da ligação, antes de ela falar qualquer coisa.

— Oi?

— Scarllet? É você? — ouço sua voz, mas pouco entendo. Só depois de alguns segundos entendo o que ela disse, ao fazer uma repetição mental.

— Sim. Está tudo bem? — pergunto e posso sentir que já estou preocupada.

— Eu estou na festa.

Obviamente você está. Posso perceber isso daqui.

— Pode vir me buscar? Tem alguém tentando entrar no quarto que estou. Acho que é um garoto. Estou assustada. — percebo que ela está bêbada.

— Está falando sério?

— Sim...

— Pode descrever o local? — tento manter a calma.

— É um quarto. Não sei de quem é.

Ótimo. A sala de lazer do dormitório masculino é enorme. Sem citar os incontestáveis dormitórios que existem naquele residencial. Não sei como irei encontrá- la, naquele mar de quartos. Mas sei que se Hilary me ligou, significa que a situação pode estar séria.

— Eu estou chegando. Você consegue me esperar? — pergunto calmamente.

— Seja rápida. — ela suplica baixinho.

A última noiteOnde as histórias ganham vida. Descobre agora