Capítulo 2

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Ellen

Ter aquele bebê em meus braços era a coisa mais maravilhosa que eu já tinha sentido em toda a minha vida.

Pedro já estava com dois meses de vida, e eu não me cansava de segurá-lo contra mim, e falar quanto o amava.

Era isso que eu estava fazendo quando alguém bateu à porta. Eu já sabia quem era, não sendo difícil imaginar.

Autorizei a entrada e uma Fabiana radiante entrou pela porta saltitando.

— Bom dia, flor do dia. — Ela não disse isso para mim, mas sim para a criança que estava no meu colo.

— A mãe do Pedro está aqui também. — Fechei a cara, em uma encenação muito mal-feita de brava.

— Ah, bom dia para você também.

Rindo, ela me estendeu os braços, pedindo para pegar Pedro. Quando lhe entreguei, o menino começou a dar leves risadas de suas palhaçadas. Era lindo ver o amor que um sentia pelo outro.

— Otávio já apareceu? Teve notícias?

Neguei com a cabeça, levantando-me e indo para a cozinha preparar mais um café.

— Nada ainda. Eu já nem sei mais o que pensar. Ele nunca passou de uma noite fora de casa. E essa foi a terceira.

Meu marido era um libertino. Isso todos sabiam. Ele já havia dormido fora várias vezes, mas sempre aparecia no dia seguinte todo cheio de amor e presentes. Mas já fazia três dias que ele nem mesmo ligava.

Isso já não me deixava triste. Na verdade, nunca me senti abalada por isso. Eu não o amava, sabia disso desde quando nos casamos, então não me abalava. O que mais me doía, era ver o seu distanciamento com o próprio filho.

Desde que Pedro nascera – dois meses atrás – ele nem mesmo segurou nosso filho nos braços.

Minha dor era imaginar meu pequeno com aquela figura paterna, se sentindo rejeitado de alguma forma.

— Logo ele deve aparecer e dar algum sinal. Provavelmente deve estar bêbado demais para lembrar o rumo de casa.

Minha amiga também sabia muito bem quem era meu marido, assim como eu. Eu ainda estava com ele porque realmente não tinha mais para onde ir. E para a sorte dele, nunca fora agressivo comigo, ou então já estaria preso há muito tempo.

Fabi tomou café da manhã comigo, aproveitando que era uma bela manhã de sábado e ela não trabalhava no final de semana. Ficamos papeando por um bom tempo, sendo interrompidas apenas quando meu celular tocou sobre a mesinha que ficava na lateral do sofá.

Aproveitei que Fabi estava com Pedro no colo e fui atender. Era um número desconhecido, de algum telefone fixo, então já atendi meio desconfiada.

— Senhora Ellen Souza Fragoso?

Eu não tinha Fragoso no nome, pois não mudei meus documentos quando casei, mas Otávio insistia em me chamar assim.

— Sim, sou eu. — Revirei os olhos.

— Aqui é do Hospital Municipal de Santa Fé.

Meu coração deu uma leve parada no momento em que ouvi a palavra hospital. Não poderia ser coisa boa, isso era uma certeza.

— Aconteceu algo?

Olhei para minha amiga, que já prestava atenção em mim. Ela provavelmente percebia minha tensão.

— Eu lamento informar, e ainda mais por telefone. Otávio Fragoso deu entrada no hospital ontem à noite, depois de um acidente de carro, e você consta como o contato de emergência dele.

— Sim. Ele é meu marido.

Houve um breve silencio do outro lado, até que a pessoa, um médico muito provavelmente, pigarreou e voltou a falar.

— Então, Senhora Fragoso — eu odiava ser chamada assim — seu marido deu entrada com vários ferimentos, e tentamos de tudo. Mas na manhã de hoje ele teve uma parada cardíaca onde não conseguimos reverter o quadro.

Por sorte estava de frente para o sofá, então me deixei cair sobre ele.

Como assim Otávio estava morto? Ele...

Eu não sabia nem o que pensar naquele momento.

— Ellen, amiga. O que aconteceu?

Fabi se aproximou, aparentemente já nervosa também, pela minha reação.

— Senhora Fragoso, ainda está ai? — A voz grossa do médico também me chamou.

— Estou sim. Eu não sei... Desculpa, eu não estou me sentindo bem.

— Claro, compreendo perfeitamente. Gostaria apenas que a senhora anotasse o endereço do hospital, para que pudesse retirar o corpo.

"Retirar o corpo". Ouvir aquelas palavras estavam fazendo meu estomago se revirar. Mas mesmo assim pedi papel e caneta para Fabiana que rapidamente me trouxe uma e anotei tudo o que o médico me dizia. Ele se despediu, desejando seus sentimentos.

Assim que a ligação foi encerrada, minha amiga sentou-se ao meu lado, colocando a mão no meu joelho.

Eu me sentia tremer um pouco e não queria ficar assim perto do meu filho. Ele não podia me ver assim.

Meu filho... ele perdera o pai. Mesmo não sendo tão presente, Otávio ainda era pai de Pedro. O quanto essa perda poderia afetar o meu garotinho?

— O que aconteceu, Ellen?

Provavelmente ela já tinha uma impressão do que era pela minha reação.

Levantei os olhos para minha amiga, já marejados de lágrimas.

Eu estava com medo de pronunciar aquelas palavras. Era como se ao falar, elas se tornassem reais, e eu não teria mais como escapar.

Não era apenas porque não amava Otávio, que não sentiria por ele. Conviver com uma pessoa, fazia com que conhecêssemos o melhor e pior lado de uma pessoa.

Respirei fundo algumas vezes, buscando um apoio para falar o que estava se passando comigo.

— Era do hospital... Otávio... Ele... — Engasguei quando a primeira lágrima escorreu por meu rosto.

— Oh, minha amiga.

Já entendendo o que havia acontecido, Fabiana me puxou para um abraço.

— Ele morreu, Fabi. Sofreu um acidente — expulsei as palavras da minha garganta como se fossem um bolo de pelos.

Eu precisava exorcizar e digerir que aquilo era real. Não deveria me iludir.

E realmente as palavras podiam te aprisionar ou libertar. Elas tinham poder. E naquele momento, eu não sabia o que elas estavam me causando.

Mas dizer em voz alta, fez com que mais lágrimas escorressem por meus olhos, desta vez manchando a blusa de Fabiana.

A partir daquele momento eu era viúva, e acima de tudo, uma mãe solo. Eu teria que lutar pelo meu filho.

O Cowboy, a Viúva e o BebêWhere stories live. Discover now