Capítulo 15

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Diogo

Naquele dia eu não havia conseguido ir embora. Passei a noite do lado de fora, dentro da minha camionete, vigiando a casa de Ellen.

A preocupação e medo, eram maior do que qualquer coisa, e eu não poderia deixá-la sozinha, se existisse uma ameaça real rondando-a. Mas nada aconteceu. Eu ainda não sabia se já poderia ficar mais tranquilo, ou se ainda aconteceria alguma coisa, mas passamos uma semana sem que nem mesmo outro bilhete aparecesse.

— Um doce por seus pensamentos. — José falou, trazendo-me para a realidade quando entrou na cozinha.

Estávamos sozinhos, já que o resto da família havia ido para a cidade fazer compras.

— Nem eu mesmo sei, o que estou pensando.

Meu irmão puxou uma cadeira, sentando-se na minha frente.

— Eu tenho um palpite. — Serviu-se de uma xícara de café.

— Então me ajuda.

Levei minha própria xícara à boca, bebendo um pequeno gole do café fumegante e olhando-o por sobre a borda.

— Meu voto é na nossa vizinha. Ellen parece estar roubando boa parte dos seus pensamentos.

Em certo ponto, ele estava certo. Desde o dia em que a beijei, meus pensamentos estavam mais constantes em sua boca. Na verdade, em todo o seu corpo. Claro que havíamos repetido o beijo, mas ainda não sabia denominar o que estava acontecendo entre nós. Se seriam apenas momentos como aquele, ou se teria algo mais envolvido.

E lá estava, José adivinhara meus pensamentos. Até mesmo a demora de respondê-lo, já dizia isso.

— É, acho que você acertou — confessei.

— O que tanto passa por sua cabeça?

Respirei fundo, soltando o ar exasperado.

— Eu não sei o que está rolando entre a gente. E não sei como agir ou o que fazer em respeito a isso. Não sei se Ellen espera algo de mim ou não.

— Mas... já aconteceu algo com vocês. — José esticou o pescoço para a frente, curioso para saber mais.

Com um sorriso de lado, ele já saberia a resposta. Mas algo a mais pareceu chamar sua atenção.

— Ah não, cara. Você está com aquele brilho perigoso no olhar. Você está lascado. — Afastou-se da mesa, e apoiou as costas no encosto da cadeira.

— Que brilho? — Mas o sorriso não saía do meu rosto.

— Aquele apaixonado. Eu conheço isso. Vários caras da minha sala já estão pensando em pedir as namoradas em casamento depois do TCC, e todos eles têm esse mesmo brilho. O que já rolou entre vocês.

— Foram apenas alguns beijos, cara. Mas... Eu realmente não sei o que estou sentindo. Se devo esperar mais.

— Irmão, se você está querendo algo mais, invista. Não tem como saber a resposta dela.

Ele parecia um homem tão adulto quando falava comigo assim. Eu sentia muito orgulho daquele homem que José estava se tornando.

— E desde quando você tem propriedades para dar conselhos amorosos? — Brinquei.

— Desde quando meu irmão está precisando desses conselhos. — Ele voltou a se aproximar da mesa, com um sorriso no rosto. — Mas, sério. Convide-a para jantar. Faça-a entender que você está querendo mais do que apenas beijos, e dependendo do que ela fizer ou disser, você vai saber se deve prosseguir ou não.

José tinha razão. Se eu queria algo, então deveria investir. E a ideia de jantar era maravilhosa.

Levei a xícara à boca novamente, pensando no que faria.

— Você tem razão. — José fez uma pose de convencido que optei por ignorar. — Mas tem outra coisa que está me preocupando. — Ele rapidamente se aprumou na cadeira, prestando atenção em mim. — Há uma semana, quando eu estava na casa de Ellen, deixaram um bilhete pregado na porta. Algo dizendo que em breve ela será de alguém. Eu não sei o que significa, ou se apenas foi uma brincadeira de mau gosto. Passei a noite vigiando a propriedade dela semana passada, mas não vi nada. E nem aconteceu mais nada depois daquilo.

José pareceu pensar um pouco sobre o que eu havia acabado de falar, antes de me dar qualquer resposta.

— Ela não reclamou de mais nada? Nenhum outro bilhete? — Neguei com a cabeça. — Então provavelmente foi algum desocupado que não tem mais nada melhor para fazer. Mas vamos ficar de olho pelas terras dela. Agora que eu sei que ela será da família, vamos cuidar ainda mais dela.

Dei um sorriso de gratidão para meu irmão. Eu sabia que poderia contar com ele a qualquer momento. Sempre fora assim.

Ellen

Eu estava em um mar de sentimentos durante aquela semana, que não sabia discernir o que era maior.

Os beijos de Diogo me tiravam o ar, deixando meu coração sempre mais leve. Mas assim que ficava sozinha, uma angústia dominava o meu corpo, fazendo com que o medo me corroesse.

Durante aquela semana, coloquei Pedro para dormir comigo na cama, trancando a porta do quarto e só levantando no outro dia, quando o sol já havia nascido, e na maioria dos dias, enquanto estava em ligação com Diogo. Ele me ligava sempre, para saber como tinha passado a noite, e depois que disse que eu me sentia melhor para levantar quando estava falando com alguém, aquilo virou nossa rotina.

Eu tinha acabado de falar com ele, e estava preparando meu café quando Pedro começou a chorar do quarto.

— Mamãe está aqui, pequeno. — Peguei-o no colo. — Já está com fome? Hora do café da manhã.

Preparei a mamadeira dele e fui para a área, sentei confortavelmente com meu filho em meus braços e ele começou a mamar.

Eu gostava de aproveitar aquele momento com meu menino, era um momento só nosso, em que eu criava laços com ele. Mas aquele dia estava precisando mesmo ter aquela conversa com meu filho, mesmo que ele não entendesse nada.

— Sabe, Pedro, eu tenho medo às vezes. De não estar fazendo a coisa certa. E se Diogo for a pessoa errada? — Olhei para ele, que me encarava com tanta atenção enquanto sugava o bico da mamadeira, que parecia compreender o que eu dizia. — Eu nunca me senti assim, quando beijei outras pessoas. Com ele é diferente. Mas e se for um diferente errado?

Respirei fundo, tentando processar tudo aquilo que falava com meu filho. As coisas nunca foram daquele jeito com homem nenhum. Eu não sabia o que sentir ou falar.

— O beijo dele é bom, sabe? — Pedro resmungou contra a mamadeira. — Mas há tanto o que pensar. Ou talvez seja apenas eu pensando demais, e complicando as coisas. E agora tem aquela ameaça que eu não sei o que fazer. O meu propósito na vida, é te proteger meu filho.

Ele parou de mamar e me deu um sorriso. Aquilo já fazia meu humor mil vezes melhor. Saber que meu filho estaria protegido e bem, era tudo o que eu precisava.

— Eu te amo. — Puxei-o para mim, enchendo-o de beijos por todo o corpinho.

Aquele som de sua gargalhada era tudo o que eu precisava como resposta naquele momento.

O Cowboy, a Viúva e o BebêWhere stories live. Discover now