Capítulo 16

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Ellen

 Arnaldo voltaria a trabalhar naquele dia, e eu estava animada em rever meu amigo e poder mostrar para ele tudo o que eu havia aprendido nos dias de sua ausência.

E quando deu seu horário de costume, ele apareceu na porteira, com sua inseparável enxada nos ombros.

— Arnaldo. — Caminhei um pouco mais rápido em sua direção e lhe puxei para um abraço.

— Mais devagar menina. Não sou tão novo assim. — Mas mesmo reclamando, ele retribuiu meu abraço, parecendo apreciar o gesto.

— Como o senhor está? Deveria ficar mais um pouco de molho.

— Se eu passasse mais um dia, em cima daquela cama, eu ia morrer. — Ele brincou, o que me fez rir. O velho e costumeiro Arnaldo estava de volta. — E outra, se a cama não me matasse, Maria iria fazer isso, de tanto me enfiar comida.

Novamente o puxei para um abraço. Era incrível como eu o conhecia há tão pouco tempo, mas já fazia parte da minha vida, e do meu coração. Eu adorava aquele senhor, como um avô que eu não pude ter.

— Chega disso tudo, e vamos aos trabalhos. Deve ter muito a fazer por aqui.

Meu sorriso se ampliou ainda mais. Eu estava orgulhosa de mim mesma.

— Na verdade, aprendi a fazer muitas coisas nesses dias que você não esteve aqui.

Fomos até a mangueira, onde mostrei a ele que estava tudo em ordem. Ele parecia analisar tudo, duvidando um pouco da minha capacidade. Mas no final olhou para mim com um meio sorriso, e um brilho nos olhos.

— Parece que alguém não vai mais precisar de mim.

— Nada disso. Preciso tanto do senhor, que nem sei por onde começar hoje. Só consegui dar conta esses dias, porque tive ajuda de Diogo Martins. — Fui sincera. Afinal, ele havia me ajudado todos os dias mesmo, e me ensinado muitas outras coisas, não poderia deixar seu mérito de fora.

— Sabe, ele me visitou esses dias. — Arnaldo falou como quem não queria nada, como se contasse o que tomou no café da manhã, enquanto fazia algumas tarefas. Mas era perceptível em sua voz que estava querendo puxar o assunto para fazer fofocas. Eu começava a conhecer a peça.

— Ah, é mesmo? — Também fingi desinteresse.

— Sim. Diogo é um menino bom. Eu o conheço desde que era um pivete e mijava nas calças. Lembro quando seus pais começaram a namorar. Todos eram contra, diziam que eles não teriam como se sustentar. Mas o pai, Julio, deu todo o apoio que eles precisavam. E olha onde estão hoje. Dono de várias fabricas lácteas pelo país.

Aquela era uma informação que eu ainda não sabia.

— É mesmo? Eu não sabia desse ramo deles. — Desta vez não consegui demonstrar indiferença, e em minha voz ficou evidente que eu estava interessada no assunto.

— Porque eles continuam simples como antes. O dinheiro não subiu a cabeça daquela família. O que faz com que eu os admire cada vez mais.

Eu realmente não sabia daquele lado financeiro de Diogo, e era incrível pensar no quanto ele e sua família me acolheram, mesmo sabendo que eu não teria nada para dar em troca.

— Mas voltando ao dia em que o menino me visitou — Arnaldo voltou a falar. Ele estava realmente interessado em falar da visita que recebera, e desta vez não se preocupara em esconder. — Sabe, a gente conversou um pouco sobre você.

Aquilo eu não esperava. O que eles poderiam ter falado de mim? E por que Arnaldo me contaria?

— O que falaram sobre mim? — Perguntei ainda mais curiosa, parando o que estava fazendo para prestar atenção nele.

— Ele só me contou como estava se saindo aqui, com os animais, como é esforçada. Ele falava com um brilho nos olhos. — Desta vez, quem parou o que estava fazendo, foi Arnaldo, e me encarou. — Eu nunca vi aquele menino falar assim de ninguém. E olha que eu o conheço desde sempre. Ele parece gostar muito de você.

Eu não tinha o que responder. Não sabia se Arnaldo sabia que eu e Diogo estávamos juntos, se ele havia contado algo sobre nossos beijos, ou se ele ainda não sabia de nada. Mas também, nem eu mesma sabia o que estava acontecendo com a gente. Se era apenas um rolo temporário, ou se nem isso era.

Não respondi a Arnaldo, e voltamos aos nossos afazeres.

Mas antes que eu pudesse esquecer toda aquela conversa, Diogo apareceu montado em seu cavalo, com o famoso chapéu preto sobre a cabeça, todo imponente, poderoso.

Um suspiro foi inevitável quando ele apareceu no meu campo de visão, trotando o animal, com um sorriso maravilhoso no rosto. O mundo parecia parar ao seu redor, vindo em minha direção.

Mas ele desviou o caminho, parando um pouco antes de chegar até mim e descendo de Tempestade. Mas o que ele fez em seguida, deixou meu coração batendo um pouco mais rápido por ele.

Desde o dia em que o bilhete fora pregado em minha porta, não deixava mais meu filho sozinho dentro de casa, mesmo que estivesse dormindo, e eu tivesse ao lado da babá eletrônica, então eu o trazia comigo, colocava-o dormindo em seu bebê conforto, às vezes no carrinho, em dias muito quentes, colocava seu ninho forrado no chão, e cobria com um mosqueteiro, e o acomodava em uma sombra, sempre no meu campo de visão. E aquele foi o destino de Diogo.

Ele parou diante do bebê conforto onde Pedro estava, e mesmo com ele dormindo, eu o ouvi conversando com meu filho.

— Bom dia, garotão. Como você está? — Ele levou um dedo delicadamente até a bochecha de Pedro, fazendo-lhe carinho. — Senti saudade de você. — Ele parou um pouco, pensando e depois voltou a falar com um sorriso meio torto no rosto. — Me deseje sorte.

Quando endireitou a coluna, tirou o chapéu da cabeça e apoiou-o no peito, começando a caminhar em minha direção. Ele parecia determinado a fazer algo. Eu só não sabia ainda o quê.

Quando chegou perto o suficiente, cumprimentou Arnaldo, mas logo voltou sua atenção para mim. Eu não sabia se com uma testemunha tão próxima, ele agiria como de costume nos últimos dias e me daria um beijo. Ou se fingiria que nada acontecia entre a gente. Mas ele fez ainda melhor.

Como eu estava na sua frente, ele colocou o chapéu sobre a minha cabeça, e com uma das mãos na minha cintura, puxou-me para si, colando nossos corpos. A outra mão foi parar entre meus cabelos, inclinando minha cabeça, deixando-me em uma posição perfeita para encontrar sua boca.

E foi o que ele fez, arremeteu-me em um beijo demorado, e intenso.

Diogo me invadia por inteira. Não apenas fisicamente, mas ele transcendia cada pedaço do meu corpo, coração e alma, deixando marcas suas por toda parte.

Quando nos separamos, ele não esperou que eu falasse nada, apenas me olhou nos olhos, com uma expressão de certeza, de quem sabia o que estava fazendo, abriu o sorriso de lado, sexy como o diabo.

— Aceita jantar comigo?

E tinha como eu recusar? Nos braços daquele homem, depois de um beijo daqueles, tudo o que ele me pedisse, eu diria sim. 

O Cowboy, a Viúva e o BebêWhere stories live. Discover now