Capítulo 4

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Ellen

Se a minha vida já não era fácil antes, agora ela estava muito mais complicada.

Não que eu quisesse me depreciar ou qualquer coisa do tipo, mas era inevitável quando a vida começava a fugir do caminho que tanto havíamos planejado.

Lá estava eu, aguardando ser chamada pelo advogado com Pedro em meu colo. Por sorte, meu bebê era quietinho e comportado, então não me dava muito trabalho, mesmo tendo apenas três meses.

Não demorou muito para que a porta se abrisse e um senhor com a barba por fazer me chamasse.

Estava com Pedro no sling, colado ao meu corpo, então não tive muitos problemas com ele para levantar e entrar.

O homem caminhou até a cadeira que mais parecia um trono e apontou para a outra, do outro lado da mesa, mais simples. Acomodei-me e esperei que ele se pronunciasse.

— Boa tarde, senhora Ellen. Não sei se seu marido mencionou sobre os bens que tinha em vida. Meu nome é Guilherme, representante legal do seu marido, e gostaria de tratar com a senhora sobre o que havia em posse dele.

Não, Otávio não falava nada sobre dinheiro, dívida, ou coisas assim. Mas eu torcia para que não tivessem dívidas a ser quitadas, e que nosso apartamento estivesse em dia.

Por que se não estivesse... não saberia para onde ir. Ainda mais com um filho recém-nascido.

Pensando nisso, passei as mãos pelas costas do meu filho, sentindo-o contra mim. Qualquer coisa que aquele homem falasse, eu tinha que ser forte por ele.

— Ele não mencionara nada a respeito, nem mesmo que teria um advogado para tratar do assunto.

— É imaginável, já que faleceu tão repentinamente. — O homem falou com um tom de pesar na voz. Mas logo se recompôs, olhando-me nos olhos. — Não sei se é do conhecimento da senhora. Mas o apartamento que mora, não era mais de domínio de Otávio.

E lá estava a vida dando-me mais uma rasteira.

É claro que eu não sabia. Porque o miserável do meu falecido marido mencionaria que vendera a própria casa?

E o que eu faria sem um lugar para morar? Com Otávio, pelo menos ele pagava o aluguel.

Comecei a sentir os olhos arderem, minha mente viajar pelas possibilidades que eu teria que arrumar. Um emprego seria a primeira coisa a procurar. Meu falecido marido não me deixara trabalhar na minha área, que era design de interiores, e nem mesmo trabalhar. Para ele, eu tinha que ficar em casa, cuidando do serviço doméstico. Então eu me afastei de tudo, principalmente quando descobrira a gravidez.

Mas era hora de voltar à ativa, arrumar um novo emprego e construir uma nova vinda com meu filho.

Mas ainda haveria uma grande batalha pela frente. Perder a casa onde morava, era apenas um deles.

— Ele vendeu o apartamento? — perguntei apenas para saber qual o fim tinha dado, e até mesmo para conseguir mais tempo para pensar.

— Pelo que consta nos documentos, perdeu em uma aposta. Eu sinto muito.

É claro que tinha que ser em uma aposta. O viciado não conseguia pensar em sua família antes de sua necessidade.

Uma lágrima intrusa escorreu por meu rosto, parando na cabecinha do meu filho. Mesmo depois de morto, o desgraçado do pai dele ainda nos atormentava.

Passei a mão pela minha bochecha, secando-a. Otávio não merecia uma única gota que escorressee por meus olhos. Depois passei a mão sobre a cabeça de Pedro, enxugando-o também.

— Eu sinto muito por vocês. Imagino pelo que deva estar passando. — Apenas concordei com a cabeça. — Mas tenho uma boa notícia. Otávio tem uma pequena fazenda no interior do Paraná. Em uma cidade chamada Santa Fé.

Uau. Isso também me pegou desprevenida. Eu não sabia da existência de uma fazenda. Santa Fé era a cidade onde os pais de Otávio moravam, que segundo ele, haviam falecido há uns bons anos, e eu nunca cheguei a conhecê-los.

— Ela está no nome dele? Pertence a ele ainda? — minha voz saiu fraca, mas Guilherme ouviu minha pergunta e começou a concordar com a cabeça.

— Sim. Pertencia. Agora, seguindo no testamento, passa para os filhos. E como o filho da senhora é o único herdeiro, então a fazenda será administrada por seu responsável, até a maior idade dele.

Um suspiro de alívio escapou do meu peito. Eu não estaria tão desamparada como pensei em alguns momentos.

A conversa ainda levou algum tempo, com Guilherme me passando coordenadas dos próximos passos a seguir, como colocar a fazendo no nome de Pedro, e sobre o dono do apartamento em que eu estava. Como era pago aluguel, conversei com ele dizendo que não haveria condições para continuar, e que eu precisaria de alguns dias para me mudar.

Ao menos eu não estaria morando na rua, já tinha um destino a seguir.

Depois que saí do escritório, o primeiro lugar em que bati, foi na porta de Fabí. Eu precisava da minha amiga naquele momento.

Eu não sabia ainda o que pensar a respeito de tudo o que havia acontecido naquela tarde, mas eu me sentia exausta.

Assim que ela abriu a porta, pulei em seus braços, deixando finalmente as lágrimas que prendi há tantas horas, escaparem para a liberdade.

— O que aconteceu, amiga? Pelo amor de Deus, fala comigo.

Ela me levou até o sofá, fazendo-me sentar e pegou Pedro do meu colo.

— É tanta coisa, Fabi. Eu não estou aguentando mais suportar sozinha.

— Oh, minha amiga, você jamais estará sozinha.

Fabi me puxou pelo ombro novamente. Ela tinha meu filho em um braço, brincando com seus cabelos, e eu em outro, deitada em seu ombro. Eu senti a carga dos dias movimentados caírem sobre mim. Cuidar de um velório, tendo um filho tão pequeno, depois a notícia da perda da minha casa... era como se o mundo quisesse ruir aos meus pés.

Fabiana era a melhor pessoa que existia na minha vida, e eu não saberia o que fazer sem a sua ajuda. Pensar em me mudar para longe dela, fazia com que eu chorasse mais ainda. Mas ela me deu o tempo que precisava, e quando me recompus, Fabi pediu para saber o que havia acontecido.

Contei para ela sobre a perda do apartamento, que Otávio perdera em uma aposta, e a casa no interior.

— Ao menos você não vai ficar desamparada, amiga. E se quiser permanecer na minha casa para vender essa tal fazenda, minhas portas estarão abertas.

— Não vou vender, Fabi. É o que Pedro vai herdar. É uma propriedade dele. Eu não acho justo tomar uma decisão assim.

— E você pretende se mudar? — Ela falou com uma voz fraca.

Seria doloroso me afastar de alguém que tanto me ajudou, e ir para um lugar onde não conhecia ninguém, sozinha. Mas era o que me restava.

Desta vez fui eu quem puxou Fabi para um abraço apertado. Ficamos um tempo ali, deixando que a novidade preenchesse o nosso redor.

— Vai ser bom, Fabi. Vou procurar um emprego na minha área. Eu posso ser feliz de novo.

Eu sabia que a minha voz continha mais medo do que ânimo. Mas eu tinha que pensar nisso.

Nos últimos anos, eu não vivia para mim. E agora teria a oportunidade de ter minha vida de volta, buscar a felicidade.

— E você merece ser feliz, Ellen.

Olhei para meu filho em seus braços que começava a se agitar, provavelmente com fome, já que estava na hora de alimentá-lo.

Eu buscaria pela minha própria felicidade, nem que disso dependesse recomeçar minha vida do zero.

O Cowboy, a Viúva e o BebêOnde as histórias ganham vida. Descobre agora