Capítulo 5

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Ellen

Os dias passaram muito rápido. Talvez isso tenha acontecido por terem sido dias agitados, mexendo com mudanças e uma perspectiva de vida nova.

Talvez eu apenas não tenha visto os dias passando, enfurnada dentro de um apartamento encaixotando coisas e organizando tudo para que nada se quebrasse no meio do caminho.

Mas lá estava eu, colocando a última caixa com algumas roupas dentro do carro de Fabi.

Minha amiga insistira em me acompanhar até o interior para que eu me instalasse na nova casa.

Seria bom, já que eu teria que ir de ônibus com Pedro, pois o único carro que tínhamos fora perdido no acidente de Otávio.

— Você está pronta para ir?

Olhei para Pedro já no bebê conforto dentro do carro, distraído com um brinquedo. Ele estava tão tranquilo. Eu o invejava por não ter tanta preocupação, por tudo acabar se transformando em uma brincadeira para ele.

Mas era daquela forma que eu tinha que ver a vida. Tudo se moldava à nossa volta. E eu seria volútil como a água, me adaptando aquele novo mundo.

Respirei fundo, concordei com Fabi e entrei no carro ao seu lado, pegando a estrada.

A cidade não ficava tão longe quanto pensei, mas ainda assim, passamos algumas horas na estrada. Apesar de tudo, a viagem foi tranquila, Pedro não deu trabalho, e tivemos que parar algumas vezes para trocá-lo.

Quando chegamos à cidade de Santa Fé, a realidade de onde eu iria morar foi caindo sobre mim.

Por onde passávamos, as pessoas seguiam com os olhos, cochichavam com outras, e algumas até mesmo apontavam o dedo.

Eu sabia como era a vida em uma cidade do interior, mas ser a nova moradora de uma cidade como aquela, poderia ser terrível.

Mas eu era uma mulher adulta, e não seria aquilo que me abalaria.

Perguntamos pelo caminho em um mercadinho, pois já estávamos meio perdidas, e o homem apontou com um dedo uma estrada que deveríamos seguir, dizendo que encontraríamos a fazenda no final dela.

E assim fizemos, seguindo pela estrada cheia de buracos e poeira. Quando chegamos, havia duas porteiras. Fabi parou antes da entrada das duas, já que ficava uma de frente à outra.

— E agora?

Olhei para a porteira que estava à minha direita. Era visivelmente uma propriedade muito bem-cuidada. Havia uma placa com o nome dela escrito no alto. Era possível ver as cabeças de gado pastando livremente. E ao longe, uma casa enorme, rodeada de árvores. Havia outra casa, menor que a primeira, mais afastada um pouco, mas era perceptível a sua grandeza.

Virei a cabeça para o outro lado, encontrando uma porteira simples, e muito malcuidada. Um dos lados estava caindo, enquanto uma corrente tentava mantê-la fechada.

Dentro do local, o mato estava crescendo, provavelmente bateria na minha cintura. O quintal estava sujo. Era o total oposto da fazenda à minha direita.

A casa, ao contrário da outra, ficava mais perto da estrada e estava com o quintal: em estado de decadência.

— É aquela. — Apontei com o dedo para a casa à esquerda.

Eu sabia que era uma coisa vinda de Otávio, e só isso já explicava o local maltratado. Era difícil aceitar, mas eu sabia com quem me casara.

Fabi me olhou com uma cara de quem dizia "é sério?", mas não disse nada.

Desci do carro e abri a porteira, que precisou de todo um malabarismo para ser completamente aberta, para que o carro passasse.

Segui o resto do trecho a pé, olhando todo aquele mato pelo quintal e pensando como poderia dar um jeito e fazer com que aquele lugar parecesse um lar.

E minha amiga parecia ler meus pensamentos enquanto descíamos as caixas do seu carro.

O caminhão com a mudança chegaria em alguns dias, então eu havia trazido o essencial, já que o advogado me falara que na casa havia alguns móveis.

E era verdade. Tinha um quarto mobiliado, com cama e guarda-roupa, na cozinha havia alguns móveis também, mesmo pequenos, mas que serviriam. Havia alguns mantimentos também. Pouca coisa, e apenas o básico, mas já seria algo para começar, porém passamos no mercado, fizemos algumas comprar, antes de sair de viagem.

— Você tem certeza do que está fazendo? — Fabi questionou ao colocar a última caixa no chão da cozinha.

Olhei ao redor, para a casa que precisava de uma boa faxina e reforma. Eu me fazia essa mesma pergunta, mas não podia deixar transparecer.

— Eu preciso ter, Fabi.

Coloquei Pedro no bebê conforto que estava sobre a mesa. Havia parado para dar de mamar. Balancei um pouco, para que ele não reclamasse muito, e quando vi que não iria chorar, virei-me para minha amiga.

— Você não pode ficar aqui, amiga. Ainda mais em um lugar tão afastado como esse, apenas você e Pedro.

Já havíamos tido aquela conversa antes, mas minha amiga era teimosa o suficiente para insistir.

— É o que eu tenho, Fabi. E se eu não for ficar sozinha com ele aqui, ficarei em outro lugar. Então eu prefiro ter um cantinho só meu e do meu filho, mas quer seja nosso.

Eu sabia que poderia contar com Fabiana a qualquer momento, mas havia vivido por muito tempo dependente de uma pessoa, para aceitar isso novamente. E ela tinha a própria vida, não seria justo com nenhuma das partes.

— Mas olha para essa casa. É quase precário morar aqui.

Olhei ao meu redor. A situação não era muito boa mesmo. Precisaria de algumas reformas. Mas eu poderia dar um jeito nisso. Tinha algum dinheiro guardado, o que seria suficiente para deixar aquele lugar mais decente.

— Eu nunca fui de fugir de trabalho, Fabi, e não será uma casa neste estado que me impedirá de ser feliz. — Minha amiga respirou fundo, vendo que seria uma batalha perdida lutar comigo. — E além do mais, eu posso exercer minha profissão aqui. Este lugar está bem precisando de uma design de interior. Vou deixar essa casa com outra cara. — Apontei um dedo em riste para cima, fazendo uma cara engraçada e falando um pouco mais animada. — Não só a casa, mas esse lugar será novo comigo aqui.

Ao menos consegui tirar um sorriso do rosto de Fabiana, mas a preocupação era evidente em seus olhos.

E provavelmente nos meus também, mas eu tinha que confiar nas minhas próprias palavras.

O Cowboy, a Viúva e o BebêWhere stories live. Discover now