Capítulo 9

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Ellen

Eu não esperava que o convite fosse realmente sério. Por isso, nem havia me arrumado. Não para um jantar na casa de uma família nova.

Por isso levei um susto, pulando na cadeira quando alguém parou na porteira com um carro e buzinou. Outro susto quando vi um homem que não conhecia, chamando-me.

Respirei aliviada quando ele se identificou como José, filho de Emíli, e que a mãe havia lhe pedido para que nos buscasse para jantar em sua casa.

Pedi para que esperasse um pouco, como Pedro estava de banho tomado, então apenas eu precisava jogar uma água no corpo e colocar uma roupa. Levei meu filho para o banheiro comigo, já que não conhecia aquele homem, mesmo que parecesse tão simpático, e me arrumei em tempo recorde.

Quando fiquei pronta, peguei o bebê conforto com Pedro dentro e fui para a sala. O homem estava sentado no mesmo lugar que havia ficado quando entrou.

— Está pronta? — Ele se levantou assim que me viu, o que achei um gesto muito cavalheiro, igual quando abriu a porta da camionete para mim.

— Você era da cidade? — ele questionou, assim que atravessamos a porteira de sua casa.

Era até vergonhoso, terem que me buscar para jantar na vizinha, mas eu não conhecia nada ali, e já estava de noite, como era um lugar mais ermo, nem mesmo me atrevi a recusar a carona ou nada assim.

— Na verdade, eu vim do interior, e morei na cidade quando casei. E quando Otávio faleceu, descobri sobre essa casa e me mudei. Mas é a minha primeira vez morando em uma fazenda, em um sítio assim.

— Sobre o seu marido. — Ele me olhou de canto. — Eu sinto muito por ele. Sei que não era a melhor pessoa, mas a perda é sempre dolorosa.

Concordei com a cabeça e olhei para meu filho. A dor era sim, muito sofrida, eu sabia em que sentido José falava, e concordava com ele.

Agradeci e seguimos o caminho em silêncio. José era um pouco mais calado, notei. Mas isso não apagava o brilho do menino. Ele parecia ser muito educado e inteligente. Dirigia com muita atenção. Quando paramos em frente à sua casa, ele desceu e correu para abrir a porta para mim, e me ajudar com o Pedro.

Parei em frente à casa, admirando a beleza dela. Era enorme, mas não como uma casa antiga, era moderna, com uma porta enorme na entrada, uma varanda grande, com alguns vasos a enfeitar.

Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, Emíli saiu pela porta da frente, descendo a pequena escada e parando na minha frente.

— Vocês demoraram. Já estava ficando preocupada.

Sem mais nada, ela me puxou para um abraço entusiasmado. Era diferente aquele carinho todo. Eu era acostumada com isso, claro, mas não de pessoas que eram estranhas ainda para mim. Não tínhamos intimidade. Mas o interior era assim, demonstração de carinho gratuito, e eu adorava.

Retribuí o abraço, também entusiasmada e ela partiu para Pedro, fazendo-o rir com cócegas pela barriga.

— Só esperei um pouco por que Ellen não estava pronta — José disse ao meu lado.

— Eu... para ser sincera — resolvi contar a verdade —, achei que o convite fosse por educação, mas não esperei que fosse acontecer.

Emíli em vez de ficar decepcionada com a minha declaração, caiu na gargalhada.

— Vocês da cidade grande não estão costumados com a verdade do pessoal do interior. — Ela falou com tanta simplicidade, que eu ficaria envergonhada se o clima não estivesse tão descontraído.

— Ellen...! — Uma vozinha fina exclamou do alto da escada e eu só tive tempo para me preparar para o abraço de Cecília, que poderia me levar ao chão se fosse um pouco mais forte.

Aceitei o abraço gostoso que ela me deu, e em seguida também partiu para brincar com Pedro, que abriu um sorriso enorme na hora que viu a menina.

— Você já conhece mais da metade da família. Meu marido está lá dentro nos esperando. Uma pena que Diogo não está em casa hoje.

Um sentimento estranho percorreu o meu corpo. Como um arrepio passando pela minha espinha. Algo recaindo em meu peito. Ignorei e dei um sorriso para Emíli.

— Haverá outras oportunidades.

Ela sorriu e concordou, logo em seguida me conduziu para a entrada da sua casa. Se por fora já era moderna, dentro dela era ainda mais. Os móveis, a decoração. Era tudo de muito bom gosto, e dava um ar gostoso de interior, mas ao mesmo tempo o conforto e modernidade de uma cidade grande.

— Ai está a famosa Ellen. — Um homem de idade, talvez um pouco mais velho que Emíli. Era magro e tinha um bigode enorme, que eu poderia jurar que era o orgulho dele.

— Nem tão famosa assim.

Ele me estendeu a mão, com um sorriso enorme, e assim que eu coloquei a minha sobre a sua, levou o dorso da minha mão à boca, dando um beijo nela. Foi um gesto gentil e cavalheiro, era possível ver isso em seus olhos.

— Mas é um prazer te conhecer mesmo assim.

Ele também brincou com Pedro, lamentando ainda não ter nenhum neto, e sua caçula já estar tão grande.

Era uma família linda e muito carinhosa, eu me sentia confortável no meio deles. E foi assim durante boa parte da noite.

Mas em certo momento, quando estávamos todos reunidos em volta da mesa, senti meu coração acelerar. Não havia motivos para isso, ou eu apenas achava que não.

Diogo

Eu estava cansado de um dia de trabalho, e não queria ter que preparar nada para comer. Quando a preguiça batia assim, eu tinha um lugar certo para correr.

Então tomei um banho gelado, me vesti e peguei a camionete na garagem. Poderia ir a pé, ou até mesmo a cavalo, mas não estava a fim de ter que tomar outro banho, então iria dirigir aquele curto caminho mesmo.

Quando cheguei perto, já podia ouvir as risadas, conversa animada, mas não imaginava que nossa nova vizinha estava ali.

Foi uma surpresa para mim, assim que entrei pela porta da cozinha e a vi de costas, sentada à mesa.

Seu perfume impregnava o ambiente, deixando tudo com o seu cheiro. Pedro, seu filho, estava em um bebê conforto ao seu lado.

Por um instante ninguém notou minha presença, e eu fiquei ali parado, observando-a. Não que eu tivesse uma boa visão da mulher, nem mesmo soubesse o porquê a estava admirando, mas era como se um magnetismo me puxasse a observá-la.

Antes que eu mesmo pudesse dizer alguma coisa, Cecília me viu e saiu correndo na minha direção.

— Di chegou.

E assim todos se viraram na minha direção. Mas meus olhos pararam justamente na mulher que era de fora.

E seus olhos também estavam em mim, fixos, enigmáticos, mas muito intensos.

— Que bom que chegou, filho. Já jantamos, mas ainda tem comida.

Minha mãe foi quem me tirou dos pensamentos, puxando-me pelo braço.

Cumprimentei Ellen apenas com um aceno de cabeça, enquanto ainda era arrastado para perto das panelas.

— O que ela está fazendo aqui? — perguntei baixo, apenas para que minha mãe ouvisse.

— Convidei-a para jantar aqui. Fui vê-la ontem, e me encantei. Ela é uma mulher incrível, não?

Não respondi, apenas me virei novamente para a mesa, onde ela já estava conversando com meu pai.

Eu não sabia explicar o que estava sentindo naquele momento, mas nada descrevia mais do que falar que existia um magnetismo que me impedia de admirá-la sempre que possível.

Não era como se eu fosse um stalker ou até mesmo de uma forma de assédio, era admiração. Ela me atraía, e muito.

O Cowboy, a Viúva e o BebêOnde as histórias ganham vida. Descobre agora