Capítulo 7

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Diogo

Sentir a brisa fresca no rosto pela manhã, era uma das sensações que eu mais gostava. Cavalgar no lombo de Tempestade, sentindo o compasso em que ela trotava, e o frescor no rosto suado, era uma sensação libertadora.

Estava preso há alguns dias nas mangueiras, vacinando todo o gado, o que me proibia de fazer isso, e principalmente, notei, de ver as mudanças que aconteciam do outro lado da estrada.

Puxei as rédeas de Tempestade, fazendo-a parar no começo da porteira da minha propriedade.

Olhei para o outro lado, por pura curiosidade, quando me dei conta de que o quintal estava limpo. Totalmente limpo. Sem matos, e sujeiras. A porteira estava consertada.

Atravessei a estrada, analisando cuidadosamente o quintal do outro lado.

Otávio nunca se importara em cuidar daquele lugar, exatamente por isso, estava tão maltratado em matos alguns dias atrás. Mas as pessoas poderiam mudar, não é mesmo?

Não custava ter uma prosa com ele então, não é mesmo? Abri a porteira ainda sem descer do lombo de Tempestade e fui adentrando o local.

Ainda sobre o cavalo, dei uma volta no quintal, analisando tudo. Estava acontecendo uma mudança naquele lugar, e para melhor.

Até mesmo a pequena horta havia sido carpida e a cerca arrumada.

Parei perto da entrada da casa, ajeitando o chapéu na cabeça.

— Fragoso? Está em casa? — chamei por Otávio, esperando que ele estivesse por ali, mesmo não vendo seu carro em lugar algum.

Tive que chamar mais duas vezes, e quando estava quase desistindo, ouvi a fechadura da porta sendo aberta.

Quando a porta se abriu, levei um pequeno susto. Não que eu não estivesse acostumado a ver Fragoso levar mulheres para aquela casa, pelo contrário.

Mas aquela era diferente. E eu já a tinha visto em algum lugar.

Assim que ela abriu mais a porta, passando por ela e revelando um bebê em seus braços, me dei conta de quem era.

Eu a conhecia de algumas fotos nas redes sociais. Mas ela era muito mais linda pessoalmente.

E finalmente eu estava conhecendo a esposa de Fragoso. Em pessoa.

E o filho da puta era um cara de sorte, a mulher era linda. Os cabelos em um tom castanho-escuro estavam soltos, jogados sobre os ombros. Os olhos, mesmo de longe, dava para ver o brilho intenso de azul-cristalino, ou talvez fosse um cinza mais claro. A certeza era que seu olhar era intenso. Sua boca era pequena, mas perfeita. Deveria ter em torno de um metro e setenta, sendo uns vinte centímetros mais baixa que eu. Usava um short jeans, que realçava suas pernas compridas e finas.

O bebê se remexeu em seu colo, fazendo com que ela o balançasse para acalmá-lo, o que desviou minha atenção para ela novamente.

— Desculpa, achei que Otávio estivesse ai.

— Mais um que não sabe. As notícias não chegam nesse lugar? — Ela resmungou, mas para si mesma. — Otávio faleceu há algumas semanas. — Ela tinha um leve pesar no tom de voz.

— Eu sinto muito por sua perda. — Em sinal de respeito, levei a mão ao chapéu, tirando-o e colocando rente ao peito. — Não sabia do ocorrido.

— Não se preocupe, você não era o único a não saber.

Um silêncio pairou no ar, enquanto ela balançava a criança no colo, e eu segurava a rédea de Tempestade.

— Você gostaria de mais alguma coisa? — finalmente o som de sua voz reverberou, quebrando o silêncio.

Eu nem saberia dizer o que ainda queria, e o porquê estava ali parado, olhando para ela.

— E-eu... — gaguejei — Eu vi que você está fazendo uma reforma no lugar.

Apontei para algumas latas de tinta que estavam espalhadas pela área e para o quintal.

— Sim, estou. Pretendo passar um tempo aqui, e a casa estava precisando de alguns cuidados.

— Eu sei bem como estava. — Falei baixo, apenas para mim, assim como ela havia feito minutos antes. — Essa é uma propriedade antiga, sabendo mexer com ela, a pessoa certa vai se dar muito bem.

Eu ainda não sabia se aquela mulher era a pessoa certa para cuidar de um lugar sozinha – na verdade, eu nem sabia se ela ainda estava sozinha, poderia ter arrumado um parceiro assim que o marido morreu.

— Estou vendo isso. Pretendo dar o meu melhor por aqui.

Poderia ser produto da minha cabeça, uma mera imaginação, já que eu não conhecia aquela mulher, mas a garra que eu via em seus olhos, a força de vontade, e até mesmo o que ela já tinha feito naquele local. Eu podia dar uma credibilidade a ela. E se estivesse sozinha mesmo, cuidando de um filho, seria ainda mais complicado para ela. Eu sabia disso.

— Imagino que sim. Alias, meu nome é Diogo. — Peguei o chapéu que ainda estava no meu peito, coloquei-o sobre a cabeça e fiz um leve cumprimento, tocando a aba.

— Eu sou Ellen, e esse é meu filho Pedro.

Ela virou a criança para que eu pudesse ver. Ele devia ter uns seis meses, talvez menos. Era uma criança gordinha, mas lindo.

— Eu moro do outro lado da estrada, na propriedade. — Apontei para a porteira. — Sei precisar de qualquer ajuda, pode nos chamar. Sei que minha família também se disponibilizaria para qualquer serviço.

— Agradeço de coração — ela pareceu mais meiga daquela vez.

Novamente fiz um meneio de cabeça e comecei a trotar com Tempestade.

Estava feliz pelo local estar em mãos que pareciam dar o valor que merecia. Esperava que continuasse daquele jeito.

O Cowboy, a Viúva e o BebêOnde as histórias ganham vida. Descobre agora