Capítulo 19

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"Fazia algum tempo que eu não escrevia nesse blog. Nesse em específico. Quando eu comecei o Lady Whistledown, eu era uma criança. Tinha quinze anos e muitas opiniões sobre a elite abastada de Londres. Eu estava relendo os posts dos primeiros anos. Eu era uma adolescentezinha metida, não era? Lady Whistledown cresceu, se modificou e se alterou em vários aspectos. Eu não escrevo mais nele. Jornalistas profissionais cobrem o mundo das celebridades e personagens de Londres - e as vezes do mundo. Quase ninguém notou. Que o estilo de escrita era diferente. Que o estilo de matéria era diferente. Acharam que eu me adaptei a nova realidade, mas para isso eu teria me perdido de mim mesma. Quantas vezes nos perdemos de nós mesmos ao nos adaptarmos a novas realidades? Não era minha intenção vir aqui e divagar sobre a filosofia da vida, ainda que acredite que qualquer pessoa que encare seu 'diário' de adolescência possa ficar reflexiva. Esse blog já não é acessado porque existe o site. Existe o twitter, o instagram...Ainda existe o facebook? Enfim. Mas eu queria escrever aqui porque hoje, meu coração foi partido. E eu fui a responsável. Assim como vocês."

Blog da Lady Whistledown, julho de 2022

Penelope sentia que seu coração ia se partir. Fisicamente, já que metaforicamente ele já estava. Por algum motivo, ela se lembrou que realmente existia a síndrome do coração partido, uma condição similar ao infarto causada por motivos emocionais. Ela tinha visto um documentário com a Eloise sobre. Talvez acontecesse com ela. Pois Penelope sabia onde aquela conversa daria. Como terminaria. E se ela mentisse agora, talvez pudesse adiar isso. Mas não conseguiria. Não como ele a olhando daquela forma. Não com ele tendo aberto coração daquela maneira para ela, ela não poderia mentir. Porque ele estava certo. Ela odiava que ele estivesse, mas ele estava.

— Colin, eu sou assim desde que me entendo por gente. — Ela falou, tentando que as lágrimas que escorriam pelo seu rosto não a impedissem de falar. Torcendo para que elas não virassem soluços ainda. — Eu sempre estive fora do padrão, e isso sempre foi apontado para mim. Diretamente, indiretamente. Você nunca vai entender porque você está nele. Você é o ideal de beleza. De masculinidade. Você nunca vai saber o que é ter passado a vida tendo escutado que você não é bonita o suficiente. E é uma coisinha tão fútil, ne? Beleza. Ideal de beleza. Eu tentei me convencer que eu era mais que aquilo. Eu poderia nunca ser a menina mais bonita na sala. Mas eu era a mais inteligente. E o Lady Whistledown funcionou de uma forma interessante nesses aspecto durante anos. Ainda que ele se pendurasse na balança entre consolo e vingança. — Ela viu o queixo dele cair um pouco. Ela apenas deu de ombro. — Não é que você cause isso. Não. É que... você me lembrou disso. Por anos. Essa paixão não correspondida, era uma forma apenas de me lembrar que existe uma regra no nosso mundo. Caras como você se casam com garotas como você. Olha com quem Anthony se casou. Com quem Benedict se casou. E... quando você me notou, eu simplesmente, não sei. É um sonho. Tudo que nós vivemos, tudo que nós tivemos, Col. É um sonho, mas eu estou sempre com medo de acordar. E você tem razão, eu não deveria escutar nada que não fosse você, eu simplesmente não consigo. — Ela soluçou.

— Por quê? — Ele também chorava e Penelope quis morrer. Era tão injusto que ele estivesse sendo tão magoado por causa da bagunça que ela era.

— Eu não sei. Eu só... Não consigo. Toda vez que você diz que eu sou linda, uma parte do meu cérebro bufa. Ninguém nunca disse que eu era linda antes. Não um cara. E aí você me diz. Você! Toda vez que você diz que me deseja eu fico tentando não pensar no porquê. Eu não quero que você me veja a luz do dia porque sinto que se você me olhar de verdade, vai finalmente perceber... — Penelope parou para enxugar as lágrimas, estava ficando difícil enxergar.

— Perceber o que?

— Eu, Colin!

— Mas é você que não percebe! Que não percebe que eu te vejo exatamente por quem você é. Quem enxerga errado aqui é você. Eu nunca me enganei ao seu respeito em nenhum aspecto. Em nenhum momento que estivemos juntos, você me desapontou. Você me surpreende todos os dias. Há sempre algo novo para amar em você. Eu não me importo com seu peso, Penelope. Eu me sinto atraído por você do jeito que você é. Mas eu não sei se consigo lidar com você duvidando de si mesmo, duvidando de nós. De mim. Eu sou assim tão fútil na sua percepção?

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