Capítulo 1

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"Nada prende mais a atenção do outro que o desinteresse. E essa máxima se aplica com uma intensidade dobrada se o outro for do gênero masculino. Parece, meus caros leitores, que se o interesse do afeto se mostra inalcançável, maior se torna a obsessão. Ou vocês acham que o Edward teria prestado atenção na Bella se conseguisse ler seus pensamentos?"

Blog da Lady Whistledown, 2008.

Penelope suspirou quando chegou na entrada do seu prédio. Aquele tinha sido, de longe, o pior dia do ano, e olha que o ano já teve uns dias bem ruins. E ainda era março. Estava encharcada, e recebeu o olhar duro do senhor Adams em suas costas, por sair pingando em seu chão recém encerado.

- Boa noite, senhor Adams. Que chuva, não?

 - E a menina não tem guarda-chuva? - Ele respondeu já pegando o esfregão.

- Quebrou. Tive um dia de cão.

Mas o senhor Adams não estava interessado no dia da Penelope, então ela seguiu para o elevador e apertou o botão 8. O seu andar na verdade era o nono, mas por algum motivo que ninguém sabia explicar, nas últimas semanas o elevador não estava parando nele. Eloise costumava apertar o 10 e descer, mas ela gostava de subir as escadas. Ela abriu a porta do apartamento levemente sem fôlego, pendurou a bolsa e o casaco molhados, tirou o sapato encharcado e o deixou ali mesmo e foi se arrastando para o sofá.

- Penny, é você? - Escutou a voz de sua colega de apartamento vinda da cozinha.

- E quem mais seria? - Ela se deixou cair no sofá pesadamente. Eloise pôs a cara na porta da cozinha usando um avental e os cabelos presos.

- Podia ser a Francesca. Ela ficou de passar aqui para pegar meu vestido preto emprestado.

- Aquele de tiras? - Penelope encostou a cabeça no braço do sofá.

 - Sim sim.

- Pelo menos alguém vai se divertir hoje.

- E você não vai adivinhar com quem ela vai sair.

 -Michael Stirling?

- John Stirling. - Penelope, que já estava de olhos fechados e mais deitada que que sentada, se aprumou em salto.

- Mentira. Como assim? Mas eles não são irmãos?

- Primos.

- Gente, como isso aconteceu?

- Não sei. Quando eu perguntei ela só me respondeu que era complicado. Mas disse que viria pegar o vestido... - Eloise checou o relógio. - A meia hora atrás. - Eloise retornou para cozinha.

- Ah ser jovem e namoradeira! - Penelope forçou um falso suspiro e Eloise riu. - Saudades ser jovem e namoradeira.

- E quando é que você foi jovem ou namoradeira? - Eloise apontou a espátula para ela.

- Nunca - Ela riu. - Mas gosto de fingir que eu fui. - E antes que a Eloise começasse um sermão sobre ela ainda ser jovem ou algo do gênero, ela emendou. - E o que você está aprontando?

- Estou testando uma receita nova da Anna. - Dessa vez Penelope gemeu de verdade. - Acredite um pouco em mim, criatura de pouca fé.

- Elo, eu te conheço a ... - Ela parou para contar. Se conheceram no primeiro ano do ensino médio. - Nossa, a gente se conhece a 12 anos.

- Só isso? - Eloise disse de lá. - Não é nem metade das nossas vidas. Parece que é mais. Não lembro de um tempo onde eu não tive você.

Eloise falou aquilo naturalmente. Não havia sentimentalismo em sua voz, mas Penelope sentiu seus olhos marejaram. Aquilo era verdade para ela também. Ou quase. Ela lembrava de sua vida antes da Eloise, mas preferia ignorar.

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