Capítulo 8

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"Queridos leitores, às vezes me arrependo de ter levado esse blog ao twitter. Fiz devido a insistência de vocês, é claro, mas apesar desse informativo ter a função de informar (redundante, eu sei) sobre a vida de terceiros, eu prezo pela educação. Nunca tive a intenção de ser cruel com ninguém, muito pelo contrário, desprezo a crueldade. Quando algum de vocês sinaliza isso nas minhas colunas, me pego refletindo por dias, e garanto que se você já sentiu isso, não foi minha intenção. Muitas vezes a sinceridade crua é perversa, eu tenho tentado aprender a não cruzar essa linha. Mas sinto que lá, vocês estão mais à vontade para serem intencionalmente cruéis. Quase todos nós somos mesquinhos em diferente níveis, mas quando você escolhe, deliberadamente atacar uma pessoa sem nenhuma razão, apenas porque pode, você não é nada mais que um imbecil desprezível. A ideia desse blog foi comentar sobre a vida extremamente diferente e muito interessante dos jovens da elite Londrina. Se vocês forem se comportar como um bando de clichês adolescentes perversos, eu vou voltar a tornar este periódico privado."

Blog de Lady Whistledown, 2011, após ela twittar sobre um evento beneficente no qual os herdeiros de Londres demonstraram talentos (ou a falta deles).

Colin acordou com o sol em seu rosto, as cortinas do seu quarto sendo abertas ruidosamente. Ele franziu o cenho e viu sua mãe parada na frente de uma das janelas. Como ela estava contra a luz, ele apenas via sua silhueta, mas podia sentir que ela estava com braços cruzados. Demorou um pouco para se situar. Estava com uma ressaca horrorosa. Tinha saído na noite anterior com uns amigos da época da escola e encontrou uns conhecidos de trabalhos que fez. Chegou era pouco mais de cinco da manhã, e talvez tivesse passado um pouco da conta. Ele se sentou na cama e encarou o rádio-despertador, que ainda funcionava depois de tantos anos. Era nove da manhã ainda. Por Deus, ele mal tinha chegado.

- Bom dia. - Sua mãe tinha uma voz severa.

- Eu juro que não foi eu. - Ele tentou sorrir mas sua cabeça doía.

- Você não sabe com quem eu encontrei ontem no restaurante.

- E isso realmente não poderia esperar até o almoço?

- Imagina a minha surpresa quando Agatha Danbury me perguntou, se agora que você havia saído da National Geographic, estaria interessado em um trabalho fixo na cidade. - Sua mãe fez uma pausa e voltou a encará-lo de braços cruzados.

- Ah, isso.

- Agora imagina com que cara eu fiquei ao descobrir isso por terceiros. Inventei uma desculpa qualquer, mas tenho certeza que ela percebeu. Que história é essa que você perdeu o emprego, Colin Bridgerton?

- Eu não perdi o emprego, mãe. Eu pedi um afastamento.

- De quanto tempo?

- Seis meses.

- SEIS MESES? E eu posso saber o que você pretende fazer nesse tempo? Ficar vadiando por aí como um adolescente, saindo todos os dias da semana e chegando às seis da manhã? - Ele respirou fundo. - Achei que você amasse esse trabalho. Que fosse sua vocação na vida. Você me disse isso quando se recusou a fazer uma faculdade, assumir um lugar na Bridgerton... Eu não estou entendo, Colin.

Ela se sentou na beirada da cama, e Colin pode ver a mãe pela primeira vez direito. Eram nove da manhã, mas Violet Bridgerton já estava em terninho da Burberry, os cabelos em um impecável coque. Os olhos azuis, Colin reparou, traziam mais sinais do que ele se lembrava. Sua mãe era uma mulher muito bonita de 52 anos. Seu pai faleceu quando ele tinha 15 anos. Um homem que nunca havia tido uma alergia na vida, sofreu um ataque anafilático com uma única picada de abelha. Cada um deles reagiu de uma forma. Anthony se fechou, Benedict tentou se tornar a pessoa que ele acreditava que o pai dele achava que deveria ser, Daphne chorou todos os dias por um ano inteiro. Colin se viu cara a cara, pela primeira vez, com a efemeridade da vida, e resolveu que extrairia o máximo dela antes que as borboletas batessem asas no Japão. Violet, que na época tinha apenas 38 anos se viu com oito filhos para cuidar e apenas um dele sendo maior de idade. Dois ainda estavam no jardim da infância. Ela nunca casara novamente, nem se quer havia tido um relacionamento sério. Ou que eles ficassem sabendo. Ela fez da vida dela educar e amar os seus filhos e a Fundação Bridgerton. Ela nunca foi severa, mas depois que Edmund morreu, ela se viu no papel de mãe e pai, e tornou-se mais séria, ainda que justa. Mas Colin não era mais um adolescente. Ele era um homem. Pagava as próprias contas e nunca havia mexido no fundo fiduciário dele. Ele respirou fundo.

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