Capítulo 30

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Maria Carmichael.

O vestiário feminino totalmente organizado, cheirava a cremes e lavanda. Todavia, quem chegava perto de mim, sentia o característico aroma de maçã do amor emanando do meu corpo e cabelo úmido. Ajustei o minúsculo top salmão em cima dos meus seios, minha roupa de ginástica não envolve muito tecido por assim dizer, exceto pela calca preta jogger.

Gosto de me sentir livre para a prática dos exercícios físicos, sem nada me apertando aqui ou ali.

Me sentei no banquinho de madeira e amarrei os cadarços do tênis esportivo. Prendi os cabelos em um coque baixo deixando alguns cachos soltos para dar um charme, e enfiei o boné escuro na cabeça. Não sei o que vamos fazer hoje, então me preparo para tudo, o treinador Finstock é uma verdadeira caixinha de pandora. Por isso amo as aulas práticas daquele professor em especial, ele nos surpreende.

— As princesas podem adiantar as bonecagens, por obséquio? Caso não saibam, eu tenho que dar essa aula ainda hoje. Carmichael!! Lidera as ovelhas. — Gritou o treinador atrás da porta, batendo nela com a palma aberta.

— Ele vai acabar derrubando a porta. — Lydia resmungou passando gloss concentrada.

— Não acho que chegue a tanto, vamos apenas sair de uma vez. — Allison comentou fechando seu armário.

— Andem soldadas. — Chamei a patota com uma risadinha, segurando a porta aberta para as donzelas perfumadas desfilarem.

A última garota não me parecia muito animada, sei quem é ela, Erica tem uma convivência difícil com o pessoal. Tentei conversar com ela uma vez, mas antes que eu dissesse uma palavra sequer, ela saiu correndo como o diabo fugindo da cruz. Seu cabelo loiro despenteado apontava para todos os lados, a aparência cansada me deixou extremamente preocupada.

Segui atrás dela, fazendo minha melhor cara feia para os babacas que soltavam gracinhas para ela. Um aviso velado de quem adoraria mandá-los para UTI, quero esguelar esses desocupados. Erica estranhou o silêncio com a recuada deles, e me encarou por cima do ombro assustada, no mesmo momento abri um sorriso ladino, piscando e gesticulando para que continuasse andando até a quadra fechada.

A turma mista se juntou no meio da quadra iluminada, diante de uma parede cheia de pontos disformes coloridos. Um sorriso animado intensificou minha feição entusiasmada. Escalada Indoor era meu sonho de criança, uma vez vovó me levou no parquinho abandonado perto de onde morávamos, eu tinha por volta dos oito anos, nunca caí tanto na vida, entretanto continuei na luta árdua de chegar no topo.

Finstock selecionou duplas para subir e descer com tempo cronometrado. Scott e Allison foram os primeiros, eles começaram em sincronia, conversando entre sussurros enquanto subiam. Em dado momento, Allison deu um chute no calcanhar do namorado, Scott despencou pendurado no EPI, atingindo o colchão de espuma.

Finstock se abaixou rente ao rosto dele com um sorriso digno de uma criança presepeira. Allison continuou subindo despreocupada.

— Ai McCall, eu não sei o motivo... — O treinador suspirou teatral, sorrindo satisfeito. Allison desceu pousando ajoelhada. — Mas a sua dor me causa uma espécie de alegria... É bom... Próxima dupla! Cachinhos e Erica! Venham!

Esperei Erica ir na frente, observando ansiosa o professor encaixar e afivelar o equipamento de segurança nela. Na minha vez foi mais rápido, já que ajudei abrindo os braços.

— Podemos?? — Perguntei me preparando para escalar, ele ligou o cronômetro assentindo.

Fui subindo olhando sempre para o próximo lugar onde colocaria as mãos, fazendo força nos membros inferiores. Pela visão periférica notei minha parceira arfando, olhando assustada para a altura que alcançamos. Seu rosto suado balançava frenético de um lado para o outro. Me movimentei na adjacência e estiquei um braço tocando no ombro dela.

— Puta merda. Você quer descer? — Quase não pude ouvir minha própria balbúrdia de tão baixo que proferi.

— Eu quero... Quero sim. — Gaguejou assentindo.

— Oh Erica! Está com vertigem? — Finstock gritou lá de baixo sem entender, murmúrios começaram. — Ata! Eu sou o último a saber disso?

— Ei vamos parar por aqui? — Continuei tentando chamar a atenção dela. — Eu também estou com medo dessa droga, só de pensar em subir mais, tenho vontade de desmaiar ou provavelmente me enfiar no banheiro pelo resto do dia.

Erica fincou os olhos castanhos em meu rosto, rindo baixo.

— Relaxa loirinha, estamos ajudando uma à outra! — Estendi a mão, agarrando-a pelo pulso, sem dar chances de soltar. — Treinador estamos amarelando!

Me afastei da parede sem avisar, deslizando na corda com Erica grudada em meu braço. Assim que pousamos no colchão tirei as amarras da minha cintura.

— Maria? — Finstock franziu a testa confuso, nunca desisti de uma atividade física antes. Existe primeira vez para tudo nessa vida. Mesmo que eu tenha recorrido a uma mentirinha do bem.

— Qual é? Eu estava com medo! — Tossi assentindo.

— Com medo? Você? — Indiquei a garota atrás de mim discretamente. Ele compreendeu. — Ah sim... Com medo... Vai respirar e leva ela com você.

×

Tranquei a porta largando a bolsa e o capacete no sofá, amarrando os cabelos no topo da cabeça. Fritei as coxas de frango e comi trocando mensagens com minha irmã. Ela praticamente me obrigou a abrir a câmera do Skype, confesso que foi reconfortante ver o rosto rabugento da minha maninha. Ariel está mais falante, desconfio que seja obra do loiro britânico com manias estranhas. Até hoje ninguém me explicou o que ele é, pois tenho certeza que normal aquele homem passa longe de ser.

Para minha frustração, não tive nenhuma visitinha do lobisomem alfa extra quente. Então me restou apenas responder as lições e tomar um banho antes de ir dormir.

Será que aconteceu alguma coisa? Ele sumiu junto com Isaac desde a delegacia. Quando as crianças ficam quietas é sinal que estão aprontando alguma coisa. Acho que amanhã a ficha caí, então eu já vou me preparar para qualquer bomba que seja.

— Eu nem sou mãe, cacete! — Reclamei cheirando o travesseiro. — Boa noite, Beacon Hills...

A BRUXA SURPRESA | ᵈᵉʳᵉᵏ ʰᵃˡᵉOù les histoires vivent. Découvrez maintenant