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- Comece a contar até dez, e caso pare...comece tudo de novo -avisou Andrew me olhando.

Engoli em seco e antes de fechar os olhos, olhei pra Hunter que me encarava desesperado, apenas forcei um sorriso e movi a boca sem soltar a voz eu te amo ele balançou a cabeça como se não aguentasse me ver assim, mas devolveu.

- Sou Ruby Calloway, e não terei medo -murmurei para mim mesma lembrando de uma citação de um livro que me marcou bastante.

Quando começou a primeira chicotada veio, senti como se estivesse rasgando a minha pele, na segunda e terceira vez foi como se fosse no espaço e voltasse. Não conseguia me concentrar na contagem e Andrew sempre pedia que voltasse, um tempo depois não tinha forças para contar, nem sentia as minhas pernas. Sussurava como um mantra "...não terei medo ".

- Se não vai contar, vou fazer do meu jeito -ouço o farfalhar- Sai da minha frente seu inútil -então senti a força que Andrew bateu nas costas, deveria estar em carne viva.

Controlei tanto os gritos mordendo o lábio que sentia o gosto de sangue na boca, acabo decidindo por para fora quando não aguentava mais. Eram gritos que vinha para fora tão forte que aos poucos fui ficando rouca, minhas costas queimavam muito e ardia.

Só queria perder a consciência logo ou que ele me matasse de uma vez.

Estava me sentindo tão cansada.

E esgotada disso tudo.

Acabe de uma vez.

A verdade era que já não sentia as novas chicotadas nas costas, estavam ainda absorvendo as primeiras. Foi torturante assistir Olivia vomitar, Jake gritando pedindo para ele parar, Hunter implorando e chorando para ficar no meu lugar mesmo ferido. Estava tudo se misturando e virando uma grande névoa a minha frente, lembro de um estrondo forte e de gritos, de me segurarem e meus pés cederem, de me chamarem e eu não ter forças para nada.

Lembro de ter grunhido de dor quando minhas costas foram tocadas e perder a consciência.

...

Abro os olhos devagar tentando me acostumar com a claridade, sinto um incômodo nas costas e de uma mão segurando a minha.

- Rubs...finalmente a bela adormecida acordou -era a voz de Hunter, estava tentando ser sarcástico mas deu para perceber que estava embargada. Ele estava sentado numa cadeira perto da cama.

Olhei ao redor reparando que estavamos no hospital, pisco algumas vezes.

- Agua -forço minha voz que sai meia estranha, ele se levanta e quando volta, leva um braço ao redor da minha cabeça erguendo devagar, leva o copo descartável a minha boca. Depois de três copos tomados, encosto a cabeça no travesseiro, satisfeita.- Obrigada. -ele abre um sorriso, e então percebo que ao redor dos olhos estava um pouco inchado e vermelho, como se estivesse chorado a madrugada toda.

- Como se sente? -toca na minha mão delicadamente como se eu fosse quebrar.

- Bem. -forço um sorriso, e ele me olha como não acreditasse.- Cadê todo mundo?

- James levou o pessoal para comer no andar de baixo -franzo a testa.

- Conheceu seu...tio? -Hunter assentiu.

Era bem óbvio que iam se conhecer. Tinha chamado reforços.

- Por quanto tempo eu dormir? -perguntei.

- Quase seis dias -meus olhos se arregalaram.

Me explicou que cuidaram dos ferimentos, e acabaram me sedando por saber que não aguentaria conviver com a dor nas costas.

Querido Caos | Davenport #1Dove le storie prendono vita. Scoprilo ora