POV - Richard - parte 2

46K 4.4K 138
                                    

— Merda! Merda! — atirei os papéis no chão e chutei o móvel mais próximo.

Isso não serviu para aplacar minha ira.

— Por que essa merda de vida? Por quê? — gritei perguntando aos céus por que permitia que alguém passasse por tantas coisas.

Eu havia lido seu dossiê, sua vida, como solicitei ao detetive. Esperava uma garota de cidade pequena, rodada, por ser bonita demais. Ou dessas que namora a vida toda o mesmo cara que não lhe dará futuro algum. Esperava até uma dançarina, ou garota de programa. Com tanto atrevimento e tanta beleza, ela se encaixaria perfeitamente em qualquer uma dessas profissões. Mas nunca, nunca esperava aquilo.

Não uma menina, tão jovem, com uma vida tão triste. Não uma garota, trabalhando quinze horas por dia por míseros trocados, para cuidar de um irmão. Uma criança doente. Câncer. Leucemia.

O irmão que ela criava, tinha leucemia. Não estava preparado para uma mãe fraca que se matou, e deixou para uma garota uma responsabilidade dessas! Ela largou tudo, largou sua vida. E agora estava ali sozinha, enfrentando toda essa porra sozinha.

— Merda!

Por que ninguém veio com ela? Por que ninguém a ajudava? Onde estava o noivo? A irmã? Os parentes?

— Por que ela está sozinha? Por quê?

Naquela noite, eu a observei, de longe. Tão linda, tão cansada, tão triste. E tudo estava ali quando eu a via, o desejo, a raiva pela vida que ela carregava nas costas. Tudo estava ali. Eu só sabia de uma coisa, eu precisava tê-la. De qualquer jeito, por uma noite apenas, precisava que ela fosse minha.

Esperei mais de uma semana, ansiando que passasse, que essa excitação acabasse, tive muitas mulheres nesses dias. Mas nada apagava o desejo que eu sentia por ela. Eu sabia que ela não precisava de alguém como eu em sua vida. Não precisava de mais um problema. Mas não podia me impedir de desejá-la. Então só teria que ajudá-la. Ela seria minha, uma noite apenas e eu daria tudo a ela, todo o tratamento do menino, todo o dinheiro que ela precisasse, seria como uma redenção por meus pecados. Um bom sexo com uma bela mulher como redenção.

Mas quando a procurei, e a vi ali, de toalha, absurdamente sexy, percebi que uma noite apenas não bastaria. Eu precisaria de mais. Queria tê-la muito mais, queria conhecer cada pedaço de seu lindo corpo, queria beijar e foder cada pedaço dela.

Fiz uma proposta, tão simples, tão vantajosa para ela, e ela se enfureceu. Me recusou. Ela me disse não. Ninguém me diz não. Absolutamente ninguém. Eu sabia que não adiantava insistir, mas também sabia que ela não tinha a opção de dizer não. Ela não podia me recusar e me deixar com todo aquele desejo, aquela obsessão por ela. Ela não iria fazer isso. Chantageá-la não resolveu. Nem mesmo tentar fragilizá-la, jogando ao vento sua triste história, e tudo o que perdeu, ela era tão forte! Tão invencível, dona de si! Ela era incrível.

E quanto mais ela me dizia não, mais eu a queria, mais obcecado por ela eu ficava.

Ela não se abateria por nada que eu fizesse, e percebi que seu único ponto fraco, não estava exatamente nela, e sim, no menino. Benjamim, o irmão doente. Ele era seu ponto fraco. Para que ela abaixasse a guarda, eu precisaria feri-lo. Eu sabia que era errado o que estava prestes a fazer, sabia que estava tirando algo de alguém inocente, mas não tinha outra saída. Pensei que logo ela seria minha e eu devolveria tudo a ele, e daria muito mais. Só precisava que ela me dissesse sim. Todo o resto não me importava.

E nem sei explicar o desespero quando ele se aproximou dela. Quando ela aceitou que de todos os homens do mundo, fosse Christopher a se aproximar. Ele percebeu rapidamente meu interesse por ela, isso era evidente. E eu sabia que usaria isso contra mim. E sendo ela tão linda, e tão atrevida, era óbvio que ele se encantaria por ela também. E então eu precisava de mais do que tê-la. Precisava protegê-la. Precisava abrir seus olhos. Ela me desesperava. Deixava-me à beira da loucura. Em cada momento. Em cada não.

Quanto mais tempo eu passava com ela, quanto mais conhecia sua força, sua ira, mais ela me prendia. Quanto mais ela me dizia não, mais eu queria ouvir um sim de sua boca. E então ela me deixava aproximar, e de repente me afastava. E mesmo sabendo que eu seria mais um que a deixaria, como todo mundo fez, não conseguia me afastar dela. Ela tinha que ser minha.

E então, finalmente, a beijei. Como eu quis fazer desde o primeiro momento, a tive em meus braços, entregue, quente, gemendo como eu queria que ela fizesse embaixo de mim. E um beijo nunca me deixou tão louco, tão excitado, tão satisfeito antes. Se com um beijo, ela derrubou muralhas que cuidadosamente construí por anos, eu só podia imaginar como seria quando eu estivesse dentro dela, como seria quando ela fosse minha. Por inteiro. Sei que a cerquei, não dei chance alguma para que ela fugisse, não permiti que se afastasse, não permitiria que ficasse sozinha.

E cada vez mais eu admirava sua inteligência, sua força, seu atrevimento, até mesmo sua imaturidade. Uma menina. Tão jovem, tão sozinha, talvez eu pudesse cuidar dela. Sim, talvez pudesse dar a ela mais do que prazer. Não amor, nada sequer perto disso, mas muito mais do que beijos e orgasmos. Ela não precisaria carregar o mundo nas costas. Não mais. Eu tiraria esse peso dela.

E quando finalmente a tive ali, nos meus braços, nua, ela estava bêbada. Excitada sim, mas bêbada demais. Normalmente eu não me importaria com isso, eu a tomaria, teria o prazer que ela por tanto tempo me negou e então tudo isso passaria, mas não pude fazer isso com ela.

Eu quero que ela se lembre de cada momento, de cada toque, de cada gemido. Quero que se lembre de mim, que me deseje de verdade.

Só preciso que ela seja minha, por uma noite. Preciso que esqueça seus problemas, seus medos e mágoas, uma noite apenas. E então eu darei a ela tudo o que tenho a oferecer. Não é o que ela precisa, eu sei. Não é o amor que ela busca, sequer a fidelidade. Mas o dinheiro, a vida que ela deveria levar, a vida que ela quer tanto dar ao irmão. Darei isso a ela. E a ele também.

Louco. Estou agindo como um louco. Mas é apenas uma noite. E apenas para que ela seja minha. Apenas para cuidar dela como ela merece ser cuidada.

Gabriella tirou minhasanidade, meu juízo. Perdi totalmente a cabeça. Eu me perdi por ela.    

Redenção - DEGUSTAÇÃOWhere stories live. Discover now