POV - CHRISTOPHER

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"Não está certo, Christopher! Concentre-se, você precisa ser como o Richard."

"Não sei por que ainda tento com você, se Richard é o mais qualificado para isso."

"Desista, irmãozinho, Sarah já está com Richard. Ele sempre é melhor do que você."

Mais um dia. Mais um dia ruim. Quem se importaria com isso? Quem se importaria com o segundo colocado, se tinham o grande campeão para puxar saco?

Sempre foi assim. Sempre a comparação, e Richard, sempre foi o melhor de nós dois. O filho preferido, o exemplo perfeito. Richard, o perfeito. Pena que ele não tenha sido assim, tão perfeito como irmão. Como o mais velho de nós quatro, ele deveria ter feito mais do que subir no altar montado para ele e exibir toda sua predileção. Mas quem se importaria com isso?

Eu poderia dizer que não me importava em ser o segundo lugar, mas eu me importava. Não queria ser como ele, queria ser melhor, ao menos uma vez, ao menos em uma coisa, como fui naquela vez.

Deixei o copo em cima da mesa observando-a servir mesa atrás de mesa. Perguntando-me porque o imbecil do meu irmão, mesmo estando tão apaixonado, ainda permitia que ela continuasse ali, se matando de trabalhar a madrugada toda. Por que ele ainda não havia dado uma vida melhor para a garota da vez?

Ela era linda.

Gabriella é uma mulher notável, é forte, atrevida e decidida. Mas mais do que isso, é linda. Realmente linda. Ela é uma dessas mulheres que chamam a atenção de qualquer homem. Uma dessas que se tivesse um pouco de ambição, não estaria servindo mesas naquele lugar horrível, estaria casada com um homem rico e importante, desfilando sua beleza em tabloides e manchetes. Ela merecia estar vestida do melhor tecido, calçando os melhores sapatos e ser fotografada e copiada a cada dia.

Mas ali estava ela. De cabeça erguida, servindo mesas, se livrando de bêbados apaixonados, com o rosto abatido de quem não dormia há várias noites. Essa era a Gabriella, minha Gabriella, a Gabriella do Richard.

Richard foi o filho planejado. Mamãe não podia ter filhos, e pagou uma fortuna para conseguir tê-lo. Todos o aguardavam, ele foi o milagre. Os que vieram depois foram simplesmente mais filhos, mas Richard, ele foi o filho.

Acho que a minha chegada, quando Richard ainda era tão pequeno, foi considerada um erro pelos nossos pais. Eu estava tirando a atenção que deveriam dedicar somente a ele. E sim, mesmo tendo crescido ouvindo esse tipo de comparações, sabendo que nunca superaria o senhor perfeito, eu não odiava o meu irmão, não como odeio agora.

Tudo começou por causa dela, Sarah. Eu a vi primeiro, e me apaixonei perdidamente por ela. E Richard a tomou de mim. Ainda me lembro do dia em que Cate chegou rindo, me dizendo para desistir, pois ela havia escolhido Richard. O idiota sequer sabia o que eu sentia por ela, e mesmo assim decidiu conquistar a garota por quem eu estava apaixonado.

É como uma coisa do destino, estávamos destinados a nos odiar.

Claro que eu não podia deixar isso barato. Ele já tinha o amor de nossos pais, de toda família, a admiração e respeito de todo mundo à nossa volta. Não poderia ter o amor de Sarah. Não da minha Sarah.

Só precisei de um final de semana ao lado dela, de uma noite quente de sexo, e ela o trocou por mim. Não me importei com a reprovação e acusação de toda família, não me importei em ver Richard acabado por causa dela, foi meu momento de mostrar a ele que eu podia ser melhor do que ele em alguma coisa, e justamente na coisa que mais o importava.

Mas minha paixão por Sarah esfriou quando ela o viu de novo. Essa paixão morreu no dia em que reencontramos Richard após termos nos casado. A forma como ela o olhou, a paixão e arrependimento que vi ali, acabaram com qualquer sentimento por ela. Acabaram com minha vitória. Acabaram com tudo. Ela ainda o amava. Isso, essa mágoa, me faz odiá-lo. Por causa disso, de todo sentimento no olhar dela por ele, coisa que ela nunca dedicou a mim, nosso casamento não deu certo, mais uma coisa em que eu falhei. Então eu saí de casa e resolvi vir morar com a nossa avó.

E quem veio para cá? Richard. Assumir a filial daqui. Eu estava aqui, podia perfeitamente ter feito isso, mas não, não era qualificado o suficiente, foi preciso que Richard viesse para dar conta. Pelo visto eu nunca daria conta de nada.

E então, ela apareceu: Gabriella.

Tão linda, tão ferida por Richard. Ela me escolhia, sempre fugia dele para os meus braços. Foi a primeira a me achar melhor do que ele. Eu era melhor para ela do que ele. Ele a queria para ser uma conquista a mais, como muitas que ele tinha desde Sarah. Mas ela era tão diferente de tudo o que tínhamos visto, que o imbecil se apaixonou. E sim, no começo me aproximei dela por ser bonita demais. Depois, fiz questão de ser seu amigo, porque Richard parecia se importar demais com ela. E então, eu me apaixonei perdidamente por ela.

Não sou tão bom quanto ela. Jamais deixaria minha vida para cuidar de outra pessoa como ela fez com o irmãozinho, não tenho muita paciência com crianças, mas aprenderia a ter por ela.

Eu tive uma chance, tive uma oportunidade de conquistá-la, ela odiava o Richard quando começamos a nos falar, e não entendo o que aconteceu para que isso tenha mudado, pois qualquer cego perceberia o quanto ela estava apaixonada por ele pouco tempo depois. Mesmo ele sendo frio, idiota e mau com ela. Ela se apaixonou por ele, e para mim, só tinha amizade a oferecer.

Ela me feriu da pior maneira possível, pois mesmo quando estava comigo, nunca me deixou aproximar, mesmo quando o odiava, nunca me viu de outra maneira. Pensei que fosse por causa de seu irmão, que não estivesse com cabeça para amar ninguém, tentei ser seu amigo e dar esse tempo a ela, mas ela usou esse tempo para escolhê-lo. E não importou o quanto eu mostrei que ele não valia a pena, ainda assim ela o escolheu. Não importava que ele não fosse homem nem mesmo para admitir que a amava, ela ficou esperando que ele tomasse uma atitude um dia, em vez de aceitar o amor de alguém que estava pronto para gritar ao mundo o que sentia por ela.

Eu queria apenas uma chance, que ela me escolhesse por um dia. Que não me olhasse com aquele medo que andava estampado em seus olhos por mim. Queria que ela fosse minha. Mesmo que tivéssemos que ir embora, para que ela nunca mais visse Richard. E então eu não saberia que mesmo estando comigo, ela o escolheu. E seríamos felizes, porque posso não ser bom para ela, mas seria o melhor de mim por ela.

Às vezes, sinto que não sobra nada. Nada que eu queira e ele não tome de mim.

Parece que é nosso destino sempre nos apaixonarmos pela mesma mulher.

Parece que é meu destino sempre perdê-las para Richard.

Redenção - DEGUSTAÇÃOWhere stories live. Discover now