9. blame it on me

3.3K 263 24
                                    


MADS

Atualmente

– Como você está? – a voz dela tentou parecer confiante, mas falhou.

Como eu estou? Isso só poderia ser brincadeira.

– Anos que eu não te vejo.

Eu sei, eu lembro de todos eles.

Respirei fundo colocando as mãos em meus bolsos e recuperando minha postura.

– Vou bem, Luna. E você? – eu esperava que não.

– Err... Vou bem! Cheguei tem poucas horas. Indie foi pra casa, pois começou o enjoo novamente e eu resolvi dar uma volta. Não lembro tanto dos lugares, mas o caminho pra cá ainda consigo lembrar, acho que é por causa daquela arvore com folhas amarelas. É da Sra Turner, certo? Ela agora está loira, acho que desistiu de pintar de vermelho depois de tantos anos pelo que eu vejo, mas ficou linda! Claro. Ela me deu tchau, mas acho que não me reconheceu, bom mas também ela tem 80 anos e não me vê a anos...

Ela parou de falar e puxou o folego engolindo em seco e olhando ao redor.

Pelo visto ela não tinha perdido a mania de falar sem parar, ainda mais quando estava nervosa. Há anos atrás eu achava a coisa mais adorável a ouvir falar, mas agora eu só queria que ela calasse a boca.

– O que você faz aqui? – perguntei com um tom formal.

– Eu quis ver como estava a minha... A casa que a gente morava. Eu não sabia muito o que fazer, já está quase de noite e o fuso horário provavelmente vai me... Pera, o que você está fazendo aqui? – ela gesticulou para esse bairro.

– Negócios – menti.

Era uma mentira obvia, mas eu realmente não estava afim de me explicar a ela.

– Ah sim, Indie me contou que você e Ivar trabalham juntos com questões mobiliarias, isso é ótimo! Você sempre teve interesse...

Eu senti meu peito queimar. Eu não queria que ela achasse nada sobre mim.

– Foi bom te ver, Luna. Mas estou atrasado – a interrompi bruscamente com um meio sorriso sem humor.

Ela piscou algumas vezes parecendo se abalar pelo corte. Comprimiu os lábios em um sorriso e concordou com a cabeça.

– Foi bom te ver também, Mads.

Eu me virei roboticamente apressando meus passos para meu carro e dei partida assim que fechei a porta. Ela continuou olhando para o carro e eu desviei o olhar para a rua apertando minhas mãos em volta do volante e acelerei para fora de Thunder Bay.

Meu corpo estava completamente tenso. Meu peito subia e descia. Ela estava tão diferente, mas tão igual a sete anos atrás. A sete anos atrás toda vez que eu a via eu sentia como se tivesse sendo iluminado com a luz da Lua, agora vendo-a em minha frente foi como se eu tivesse descalço em um chão de brasa. E eu odiava sentir dor.

Meses rastejando. Meses com o peso em meu peito por não lembrar o que era ficar sem ela. Meses até eu começar sentir vontade de andar novamente e substituir todo a dor e amor que eu senti por ela em ódio. Todas as cicatrizes e medos foram curados e logo depois rasgados por ela.

Eu pensava naquelas três palavras demais. Eu quis dizer aquelas três palavras demais, mas na hora que eu a vi, eu apenas quis dizer que a odiava.

Assim que vi a placa de boas vindas a Thunder Bay, diferente de todas as vezes, eu senti meu corpo pesar mais. Que porra! Bati em meu volante sentindo meus membros tencionarem e se comprimirem. Eu estava ardendo em fúria. Eu estava sendo completamente assombrado pelas memorias. Memorias do tempo em que eu pela primeira vez me senti desmotivado. Do tempo que eu precisei me esconder de tudo que me lembrava dela

After Dark ── Devil's Night | Mads MoriWhere stories live. Discover now