31. stricken

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LUNA
Atualmente...


I don't wanna talk right now...
I'll stay in the pool and drown
So I don't have to watch you leave

Billie Eillish – TV




O sol já havia nascido, eu não havia conseguido dormir, mas fazia algum tempo que eu tinha parado de chorar. Minha cabeça doía por isso. Meus lençóis cheiravam a ele agora apesar de ter meu perfume pelo quarto.

Eu estava muito consumida pelos meus medos. Eu deixei eles vencerem algo bom em minha vida. Eu estava arcando com as consequências disso agora. Mas porra... Isso doía demais. Ele parecia tão ferido e as suas palavras me feriram ainda mais. Será que Indie se sentiu da mesma forma?

Eu não tive forças pra colocar minhas roupas, estava deitada coberta apenas pelo edredom que dividia nosso cheiro. Eu estava tão cansada. Tão cansada...
Pela primeira vez na minha vida, a dor de não ter mais meu pai se trocou com ódio. Eu senti todas as noites sozinhas virem com força total em meus pulmões. Esses anos todos eu andei em circulos roboticamente, achando que se eu voltasse eu iria encontrar toda dor novamente, mas eu nunca me senti tão viva quando pisei nessa cidade. E eu havia perdido tudo por erros que não eram meus. 

A sensação de odiar meus pais me deixou enjoada. Todos esses anos eu dormi pensando neles e no quanto eu sentia falta deles, mas hoje pela primeira vez eu senti raiva do que eles fizeram e me deixaram pra encarar... eu tinha apenas 17 anos. Eu não tinha maturidade pra lidar com coisas tão pesadas que eu vi sobre meu pai, eu não tinha forças pra continuar sozinha e tive que arranjar tudo isso em dias pra poder seguir minha vida sem pensar em acabar com ela. Eu não me permitia pensar nisso. Eu estudava por ser o único prazer que eu tinha e a única felicidade em cuidar dos animais que eu tanto amava, eu saia de casa as 7 da manhã e voltava as 8 da noite de segunda a sexta. Sabado e domingo eu ia a abrigos de animais e feiras de adoção em trabalho voluntário. Eu passeava no parque, ia pra praia, ia pra academia todos os dias, tudo pra ocupar minha mente e não pensar no pior. Não pensar em como meu pai por erros do passado dele me deixou sozinha pra enfrentar os erros dele. Eu me ocupava pra não sentir a raiva que eu estou sentindo desde que eu fui deixava nesse quarto.

Eu estava tão cansada... Eu estava sem forças... Eu estava tão quebrada.

Eu não quero mais isso. Eu não quero mais me sentir tão sozinha.

Eu ouvi um barulho e eu rapidamente levantei minha cabeça me tirando de meus pensamentos.

– Mads? – será que ele havia voltado? Ele poderia ter mudado de ideia!

Levantei o tronco cobrindo meus seios com o edredom novamente, sentindo esperança preencher meu peito, mas quando a porta se abriu, pela primeira vez eu me decepcionei ao ver Indie.

Meu labio inferior começou a tremer e as lagrimas voltaram a transbordar dos meus olhos, enquanto ela corria até mim e envolvia seus braços a minha volta. Eu chorei em seu colo por um longo tempo enquanto ela sussurrava que tudo iria ficar bem.
Eu esperava que um dia eu saisse dessa buraco que eu fui enfiada.

– O que aconteceu? – ela perguntou quando eu parei de chorar e se levantou me entregando as peças de roupa que catava.

Eu me vesti sentindo as minhas entranhas doer a cada esforço que eu fazia. Qualquer movimento, qualquer pensamento me fazia querer chorar.

– Lu...

Meus lábios tremeram novamente. Faltava uma semana pro seu casamento e ela deveria estar prestando atenção nos preparativos e não em meus problemas. Eu me sentia culpada. Ela se preocupava comigo desde que eu cheguei aqui e eu não conseguia virar o jogo.

After Dark ── Devil's Night | Mads MoriDonde viven las historias. Descúbrelo ahora