Protagonistas do Caos | TaeNamJin

Capítulo I: o bastardo

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Dinastia Joseon

A mais tola ambição humana é a paz.

O inocente desejo primitivo de que se tenha equilíbrio em uma natureza que almeja o caos.

Yoongi sabia muito bem sobre a estupidez contida em tal pensamento utópico enquanto vivia em um acampamento de guerra aos dezenove anos, pelo menos sete anos mais velho do que todos os outros garotos quando tinham chegado ali.

O mundo viveu seu caos natural e constante por vinte anos inteiros. A guerra sangrenta entre Joseon e o Reino Unido transformou aquelas terras em deserto e cemitério. Quando Yoongi nasceu, filho bastardo do rei Jeongjo, atual comandante da dinastia, ele encarou o caos em todas as suas formas.

O caos que estava pintado no castanho profundo dos olhos da mãe que foi assassinada pela rainha assim que ele teve idade suficiente para não morrer de fome e ser um estorvo, na lama em que rastejou para fugir dos seus soldados e eternas surras de galhos de espinhos, nos gritos de horror que lhe escapavam dos lábios quando não conseguia mais se esconder na sujeira. Por toda parte ele o via, como um velho e fiel amigo.

Seu pai, um peão na guerra que agora já parecia ser parte daquele povo, o permitiu viver em seu palácio e ter a honra de lhe servir as refeições e lavar seus pratos.

Yoongi nunca quis fugir do caos ou da guerra, ele também era fiel ao seus algozes.

Nem mesmo quando a guerra rugiu contra os portões do palácio derrubando pilastras e homens, sujando o gramado bem cuidado com sangue e tripas. Jamais, nem mesmo quando aquele soldado lhe golpeou deixando aquela brilhante cicatriz eterna em seu rosto, quis fugir da verdadeira senhora daquelas terras.

No entanto, tão pouco quis servir a ela. Mas não revelou absolutamente nada sobre isso ao se apresentar ao general do exército real oferecendo corpo e espada para que fosse usado contra os inimigos do trono.

Yoongi sempre foi um perfeito mentiroso.

Se manteve calado, obedecendo o que lhe era dito como um cão.

Sim, sim, imediatamente, senhor.

A primeira pessoa que conheceu que não acreditava em sua subserviência cruzou seu caminho depois de passados cinco meses trabalhando para ganhar a confiança do general e seus imediatos.

Naquela tarde tinha sido ordenado a levantar sacos enormes de grãos que seriam armazenados no grande silo a fim de servir de alimento por meses. Era uma tarefa desonrosa que era passada de soldado em soldado para que os adestrasse como cães obedientes, e Yoongi o fez sem pestanejar, até que seu corpo destreinado o fizesse tropeçar e ir ao chão.

A primeira coisa que notou contra seu corpo, fria e purulenta, foi a lama. Lama repleta de pequenas pedras que pareciam famintas por seus ossos, lama como aquela em que ele rastejou por tanto tempo como um verme.

— Não vai morrer se pedir ajuda. — Uma voz desconhecida o fez erguer os olhos da própria miséria e encarar o rosto anguloso, tranquilo. — Se continuar a executar todas as tarefas de forma tão desesperada, vão pensar que dá conta de carregar o mundo.

O homem à sua frente era muito mais alto que ele, a pele dourada e com manchas de Sol davam a ele um aspecto semelhante a de um marinheiro, cabelos castanhos desbotados e curtos que deixavam a mostra olhos rasgados que não tinham simpatia ou brilho de bondade, mas reluziam em astúcia. Lábios carnudos cortados em um sorriso ladino.

— E eles vão te pedir para carregar o maldito mundo, só estão testando para ver se está disposto.

Yoongi manteve seus olhos nos dele enquanto se levantava sem se dar o trabalho de limpar seu rosto ou qualquer excesso de sujeira que se grudava em suas vestes militares.