Capítulo X: era uma vez Spine Breaker

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Taehyung não dormiu nada em sua primeira noite a bordo do Spine Breaker.

Primariamente devido a cantoria, pois a última coisa que sua imaginação poderia fornecer sobre aquele povo era o quanto eles adoravam música. Desde que a noite se deitou sobre o mar e as velas foram acesas, a música de um violão e as vozes melódicas dos homens ressoaram pelas paredes de madeira do navio.

As risadas e os gritos mal educados se estenderam pela madrugada e, quando Taehyung ouviu o último homem deixar o convés, deixou o cômodo apertado em que tinham o colocado e a passos cautelosos seguiu para onde poderia sorver um pouco de ar puro.

O segundo motivo de sua insônia era seu estômago que parecia tão revolto quanto o oceano durante uma tempestade.

Ainda havia alguns homens no convés, aqueles que ficaram de guarda e alguns que, abusando demais do rum, dormiram ali mesmo. Claro que era imprudente de sua parte se aventurar ali entre os homens daquela tripulação sendo uma espécie de prisioneiro, mais ainda por não ver em parte alguma o capitão. Mas ele estava quase bêbado pelo mal estar, e assim que sentiu a brisa fria da madrugada em seu rosto se deixou cair sentado em um canto escuro do convés.

Já tinha viajado de navio algumas vezes em sua vida. A primeira em sua ida para Tortuga, a segunda para partir de Joseon junto de Jungkook. Todas eram lembranças agridoces, mas ele ainda não saberia dizer qual sentimento as memórias daquela estranha noite teria em seu coração.

Quando sentiu seu corpo se acalmar um pouco, ele se levantou e caminhou até a borda da proa onde se apoiou contra a madeira deixando seu olhar se perder no horizonte azul marinho que parecia infinito. Não percebeu a aproximação do outro que o observava com curiosidade.

— Veio prestar homenagem à deusa Lua, Alteza?

O jovem padre se virou com lentidão encarando o homem ao seu lado.

O homem que lhe falava tinha ombros largos e uma postura elegante como a do capitão, os cabelos negros eram longos e emolduravam um rosto de beleza perturbadora, os lábios grossos e avermelhados eram brilhantes sob a luz pálida do luar. Talvez por seu mal estar, ou então por já estar se entregando à loucura da situação, mas o único pensamento que cruzou a mente de Taehyung naquele momento foi se perguntando se todos os piratas eram tão ridiculamente bonitos.

— Não imagino o que seja isso — finalmente respondeu de forma débil e o outro deu um sorriso muito debochado.

— Imagino que seja cristão.

Taehyung quase riu, claro que era cristão. Mas conteve a graça que só fazia sentido para ele e assentiu recebendo um aceno idêntico como resposta.

— Lua é a deusa dos homens do mar — o homem começou a falar olhando para o mesmo ponto que Taehyung encarava antes. — Ela quem nos guia pela noite e protege nossas vidas dos demônios do mar.

— Demônios do mar?

— Sim, Alteza,, nessas águas se escondem todo tipo de coisa. — Dessa vez um pequeno sorriso pintou no rosto do padre e o outro ergueu o cenho. — Não acredita em mim, príncipe? Talvez algum tempo no mar abrande seu ceticismo.

Taehyung se virou para ele de olhos arregalados e negou várias vezes. Não quis ser desrespeitoso.

— Creio que tenha me interpretado mal — se explicou em um tom um tanto desesperado e viu o homem o olhar com certa desconfiança.

— O fiz?

— Sim, eu não ri de sua crença de forma alguma. Apenas achei graça que disse que nessas águas se escondem todo tipo de coisa, minha avó dizia o mesmo.

Protagonistas do Caos | TaeNamJinOnde histórias criam vida. Descubra agora