Capítulo VIII: notável conde

69 12 6
                                    

🧭

Ele sabia que não era necessário analisar muito para que se notasse que aquele era um plano muito idiota, mas Namjoon acreditava que nem todo plano precisava ser bom, só precisava funcionar. Aquele em especial precisava muito funcionar.

Ao longe, a cidade de Busan se erguia quase imperiosa, as luzes douradas se espalhando por toda a extensão de negrume da noite como ecos simplórios das estrelas, a música de um violino chegando abafada pelas vozes e pelos sons do trânsito mínimo daquela hora da noite. Ao seu redor o cheiro podre da pesca estava impregnado em cada centímetro do porto e o ar marítimo recendia a um cemitério clandestino de tripas que era despejado ali todos os dias, as carcaças boiando sobre a água que era negra sob a luz da lua.

Namjoon sempre esteve naquele lado da realidade, o lado ao qual os olhos recusavam a encarar e os rostos se desviavam. Onde os segredos se escondem porcamente, verdades sórdidas ao alcance das mãos.

Por vezes já tinha se questionado sobre como seria viver de outra forma, qual seria a sensação de ser apenas um homem como outro, um jovem que iria aquela parte de Busan apenas aos domingos em plena luz majestosa do dia para comprar a pesca para seu almoço e não se espreitam nas sombras quando a noite é alta na esperança de se fazer um bom negócio com um contrabandista da Marinha.

Sempre chegava à conclusão de que aquilo era bobagem, afinal quem gostaria de viver uma existência assim tão monótona? E quando sua mente insistia em perguntar se aquela era a verdade completa ou a mentira mais fácil, ele se obrigava a não pensar mais sobre aquilo.

Apertou o casaco contra o torso e perscrutou em busca do homem que deveria encontrar. Tinha decidido que não contaria daquela pequena transação para seus colegas até que tivesse alguma dica de onde estava seu navio. Ele sabia que a possibilidade da embarcação ter sido desmontada e transformada em lenha era muito grande, mas tinha esperanças de que o Spine Breaker pudesse estar ali em algum lugar para ser achado.

Um homem atravessou a rua com as mãos enfiadas dentro dos bolsos e cabeça baixa, Namjoon quase rolou os olhos diante da visão. O sardinha era um homem aparentemente ocidental, os cabelos lisos eram raros fios prateados sobre uma cabeça coberta de manchas causadas pelo mar, o bigode grosso que adornava os lábios finos apertados em uma linha severa eram de um amarelo deprimente, claramente tingido pelo queimar de algum tabaco barato.

— Kim? — a voz cheia de sotaque soou na noite escura quando o homem se aproximou de Namjoon que se conteve em menear a cabeça.

Tinha medo de que acabasse sendo reconhecido, mas seu pai tinha dado duro para que sua identidade fosse conhecida por poucos e seu nome europeu — Nathan — sempre foi usado para se referir a ele. Nathan Moth era uma lenda pela qual Namjoon era muito grato.

— O que deseja comprar?

— Apenas informações — Namjoon respondeu em um inglês límpido, o homem ergueu o cenho surpreso. — Sobre um navio.

— Está procurando por alguém? — o homem perguntou com um sorriso enviesado. Namjoon negou sem alterar sua expressão de calma.

— Apenas sou um entusiasta e ouvi histórias interessantes sobre essa embarcação.

— Está falando do navio que não pode navegar, não é? — Namjoon retesou diante da fala do outro. Mais pessoas sabiam sobre o Spine? — Se quer saber se as lendas são verdadeiras, a resposta é sim, a joça não se move um centímetro desde que os piratas aportaram a coisa no porto da Marinha e aquele homem é completamente maluco de realmente ter pagado por aquilo.

— Que homem? — não conseguiu controlar o tom de urgência em sua voz. Aquilo não podia estar certo. O sardinha estendeu uma mão com o cenho erguido, outra informação, outra moeda, parecia dizer com o olhar. Namjoon enfiou uma mão no bolso e jogou cinco moedas de ouro no chão, o homem o olhou surpreso, mas o corsário apenas cruzou os braços esperando pelas respostas.

Protagonistas do Caos | TaeNamJinWhere stories live. Discover now